Diga-me
a riqueza que valorizas e eu te direi quão pobre tu és!
Estava
aqui, nesta gostosíssima noite de sábado, entre ligações com minha mãe e leituras,
pensando no que seria a tal da “riqueza”. Talvez seja uma estupidez da minha
parte, mas, sobretudo na atual fase da minha vida, eu posso dizer que este
conceito pode ser “relativizado” e que, de acordo com a espécie de riqueza
estimada, por outro lado, se afere a miserabilidade intelectual do “estimador”.
Aliás,
não falo isso apenas por ter abdicado da minha carreira jurídica e docente para
tornar-me cortesã de luxo, falo isso pelo tanto que já estudei, li e vivi na
vida. Nas altas “rodas”, na boleia de um caminhão, na academia jurídica, em
casa de ex-presidente de Tribunal de Justiça, em festa “alternativa”, em mesa
de bar e por aí a fora! Ninguém olvida do que seja a riqueza financeira,
certo?! Poder pagar tudo no débito, ter carrão, mansão, casa no litoral,
apartamento em Miami, viajar pra Europa e etc..
Ter
vida de deputado e, no Brasil ao menos, até ser um! (Um “salve” à corrupção!). E
é aí que pegarei um gancho para perguntar a quem acompanhou o fatídico 17/04 e
posterior 12/05: vocês acham que existe riqueza intelectual ou cultural “lá”?
Salvo raríssimas exceções, claro! Vemos a riqueza em forma de poder e dinheiro,
não raras vezes, aliada à pobreza cultural, psíquica, moral e de todas as
outras “ordens”.
“Ah, mas então ser culto é ter diploma?”, olha
baby, talvez fosse, há muito tempo, quando as pessoas estudavam com afinco e não
apenas a ciência que exerceriam, hoje em dia o diploma vem sendo usado para
esfregar na cara alheia uma “superioridade” que nem sempre existe. Falo de uma
suposta superioridade moral, ética, intelectual, de sabedoria e de cultura!
Valho-me
de Foucalt para externar este meu pensamento, pois a assertividade e
objetividade com que ele definiu meu pensar é perfeita: “O diploma serve
apenas para constituir uma espécie de valor mercantil do saber. Isto permite
também que os não possuidores de diploma acreditem não ter direito de saber ou
não são capazes de saber. Todas as pessoas que adquirem um diploma sabem que
ele não lhes serve, não tem conteúdo, é vazio. Em contrapartida, os que não tem
diploma dão-lhes um sentido pleno. Acho que o diploma foi feito precisamente
para os que não tem.”
Não quero com isso desmerecer os anos de estudo que
investimos para nos diplomarmos, quero, apenas dizer, que nem mesmo o estudo
indicia riqueza cultural e intelectiva, assim como o poder e o dinheiro não indiciam
riqueza moral e intelectual! E, tudo o que eu disse aqui, enquanto tomo um chá
(ando bebendo álcool muito raramente e só quando acompanhada ultimamente) e
ouço Johnny Cash o que, afinal, significa? Significa que você não deve fazer confusões
entre os poderosos financeiramente e os sábios, entre os bem diplomados e os intelectuais
e cultos, entre os cultos e os moralizados, menos ainda entre os religiosos e
os justos.
Simplesmente, não confunda! Atualmente, quando me
perguntam sobre minha clientela e os homens da politica de Brasília eu
respondo: “O preço é o mesmo para qualquer um, logo eu não preciso ‘caçar’
político pra ter prazer e ganhar o meu honesto dinheiro”. Se algum me desejar,
irá me procurar e agendar horário, se não, ótimo para as minhas colegas de
profissão!
O que eu preciso mesmo, para usar bem o tempo pelos
quais meus clientes me pagam é lhes admirar minimamente pela abordagem educada,
objetiva e elegante. É ter, com isso, o mistério de estar frente a uma pessoa
culta e, como costuma ocorrer, me surpreender ainda mais positivamente neste
quesito depois dos bons e intensos momentos.
E é por essas e por outras que eu sempre falo que não
se trata só de dinheiro, porque, pra este “ser humaninho” que lhes escreve, a
riqueza intelectual e afetiva ainda são as mais atraentes e excitantes! E o
dinheiro que me importa é o meu, o que usarei para o meu bem e para os de quem
amo. Os “teres e poderes” da minha clientela pertencem a ela e a sua família. Não
me importam, enfim!
Ah, mas a cultura, a fineza, o bom gosto, a
educação e o intelecto privilegiado é meio caminho andado até para o meu nada
discreto prazer carnal! Mas, então meu amigo, diga-me qual a espécie de riqueza
que você aprecia que eu poderei dizer quão pobre você é!
Cláudia de Marchi
Brasília/DF, 18 de junho de 2016.