Pequena grande crônica sobre a confusão entre perversão no sexo e perversão moral.
Tenho
uma preguiça enorme desse povo que confunde sexualidade com moralidade!
Preguiça enorme de perguntas como "e
você foi fiel ao teu marido, sendo assim, tão 'quente'?". Qual o
problema das pessoas, gente? Eu fui fiel ao meu ex-marido, fui fiel a todos os
namorados que tive!
Quando
eu cansava do comodismo dos “respectivos”, quando a rotina me causava tédio eu
terminava os relacionamentos! Simples, fácil, sem perder o respeito para com o
outro ou a minha dignidade! Eu sou uma mulher racional e objetiva. Mais, eu sou
uma mulher que nunca se permitiu ou tolerou a infelicidade, o amor mais ou
menos, a relação mais ou menos: ou era ótimo ou eu escolhia a solidão! Eu sou
assim: não tenho medo ou “desgosto” em ficar sozinha, eu tenho é desprezo por
estar com quem não me faz bem ou deixou de fazer!
Que
mania as pessoas têm de achar que a mulher com atitude na cama tem que ser
moralmente pervertida? Por exemplo, eu sempre fugi de homens casados! O que me
levou a inúmeros prejuízos, financeiros, inclusive!
Prefiro
ser "prostituta de luxo" a ser a amante, a outra, a apaixonada pelo
cara que não deixa da "matriz" e quer manter a "filial", a
advogada que transa com o juiz feioso e casado para obter
"benefícios" e por aí a fora!
O
que eu, o que a colega trans ou o que o meu amigo gay fazemos “no” sexo não define
a nossa moralidade, a nossa decência e o nosso caráter. Eu não faço a ninguém o
que não quero que me façam. Sempre tentei pautar minha vida nisso e, sendo
assim, não tolero pergunta tosca de gente que estigmatiza os outros sem saber
nada a seu respeito.
Poucas
coisas são mais grotescamente estúpidas do que "parear" sexualidade
com caráter, moral e ética! Existem muitas mulheres mais frias do que eu na
cama que traem os seus parceiros, existem muitas mulheres que não querem
transar com o marido, mas transa com o colega de trabalho de “pegada” quente. Tem
muita mulherzinha que cospe a porra, mas que não é fiel. Cospe fora a porra do
marido, cospe fora a porra do amante. Ou dos amantes.
Ou
seja, tem muita gente que não é tarada como eu, que não tem a minha energia
sexual, mas que não tem princípios éticos e morais. Sou signatária da ética da
reciprocidade: só faço aos outros o que posso esperar deles sem me magoar. Sou amiga
da verdade, da franqueza e da sinceridade. Sou combatente da hipocrisia, da
tolice e da ignorância.
Antes
um “quero terminar a nossa relação” do que uma traição. Entre quatro paredes perversão
é bem vinda. A dois e entre quatro paredes vale absolutamente tudo. Faço até
com dois homens ao mesmo tempo se der.. Mas, por favor, não correlacione a
minha indecência depois de tirar a roupa e ver um pau duro na minha direção com
indecência moral.
Eis
aqui, neste corpinho, uma pessoa que não suporta moralismos: “Mimimi família tradicional brasileira” e
lorotas afins, mas que tem princípios éticos e morais inabaláveis. Não julgue
pelo sexo a decência de uma pessoa, assim como não julgue o desempenho sexual
pelos arraigados princípios morais da pessoa!
Aliás,
eu sempre tive asco da expressão "família tradicional brasileira".
Acho excludente, arrogante e, sobretudo, "surreal". Atualmente, mais
do que nunca, tal expressão me dá ojeriza! Domingo no shopping: papai, mamãe e
filhinhos, todos bonitos e bem vestidos. Isso quando mamãe não está com um
barrigão com o segundo ou terceiro herdeiro.
Na
segunda-feira eu ouço em minha cama a reclamação do pai por ter muitas
responsabilidades, estar assoberbado e ter uma esposa negligente e desatenta a
suas emoções e desejos. No salão, ouço a mulher reclamando que o marido chega
nela e diz “hoje à noite eu quero transar”. Não beija, não seduz, não faz sexo
oral, simplesmente diz que quer sexo. E espera que ela se “excite”!
Até
quando será que as pessoas vão se iludir com esse engodo de "família
tradicional"? Família é uma união de pessoas que se amam e,
invariavelmente, se respeitam. Onde um precisa esconder algo do outro, não há
respeito. Se o outro sabe e permite, então, ao menos eu posso dizer que há
cumplicidade e transparência! Parem de hipocrisia gente!
A
minha família é formada por minha mãe e eu! Meu pai, a esposa dele, minha irmã
e eu. E, não raras vezes, todos almoçando juntos, passando dias juntos. Em prol
do que? Do amor e da união! Amor de quem? Meu e da minha irmã! Meu pai, a sua esposa
e a minha mamãe? Se respeitam, se compreendem! Simples!
Esse
"modelo" de família de vocês é asqueroso de tão hipócrita: é o pai que
incentiva a filha a procurar um homem abastado pra se casar! "Se fulana
casar com sicrano 'tá feita' na vida!". É a jovem que se apaixona pelo
status, sobrenome e dinheiro do macho, se faz de santa, depois de devassa para
conquistar a paixão do moço, casa com ele e deixa de ser devassa (a santidade
nunca existiu).
O
moço casou com a moça esperando que ela não fosse mudar. A moça casou com o
moço para ter estabilidade, conforto e esperando que ele mudasse. Isso pra
sociedade tá bonito, tá "de boa", o que não pode é fazer escambo de
sexo por dinheiro, ah, dai é feio!
E
os hipócritas que dizem “eu não pago por sexo”, “eu nunca paguei por sexo”? Tem
homens com complexo de “pica de ouro” que adora dizer isso! Arre, amiguinho! Quando
você paga bebida pra menina na balada, lança o seu “xaveco” explicitando a sua
boa condição financeira e depois leva a ilustre desconhecida pra cama, saiba,
você pagou pelo sexo: ela só se vendeu mais “baratamente” e, ainda, se bobear
pode estar interessada em casar com você ou até em engravidar e receber pensão alimentícia.
Claro, pode ser que ela só quisesse transar mesmo, mas, de regra, uma mulher
que sai atrás de sexo é livre, independente e não precisaria que você pague a
sua bebida.
Enfim,
sexo pago é feio, mas passar anos ao lado de alguém só pelos "teres"
é bonito, empurrar casamento com a barriga sendo infiel e tirar foto do jantar
"romântico" pra postar no Instagram é meigo, ter filho pra segurar a
relação é uma "bença"!
Dai
gay adotar criança abandonada por heteros, não pode, afinal "se
homosexualidade fosse normal Deus teria criado Adão e Ivo". Diz o
engraçadinho que acredita que a mulher deriva de uma costela do homem e que
cobras falam. O mesmo engraçadinho que se masturba a noite (a “santa” Bíblia
não permite), esquecendo que Deus não criou Adão e Mão. (Ah, esse cidadão
também não faz sexo somente pra procriar, o que seria correto segundo o mesmo “sagrado”
livro mencionado.)
"O que vou dizer ao meu filho
quando ele enxergar dois homens se beijando? Mimimi que horror!",
diz o pai de uma "família tradicional". E se o seu filho visse o que
você faz longe de casa pra suportar o tédio do seu relacionamento falecido,
porém ainda não “enterrado”? Que tal você ensinar pra ele que os dois homens se
beijam porque se amam, assim como você ama a mãe deles? (Ah, mas perai: você
ama?).
Que
tal começar a falar de sentimentos verdadeiros dando exemplos práticos ao invés
de menosprezar os outros, porque os gostos deles divergem dos seus? Que tal ser
franco para consigo mesmo, engolir a hipocrisia e parar de falar que a
"família tradicional" é exemplo de alguma coisa? Porque eu vejo é
muita hipocrisia, traição e desrespeito.
E
isso não é de hoje. Estão aí inúmeros filhos de homens abastados fora do
casamento, há séculos, com suas escravas, inclusive! Por favor, baby, tenha vergonha
de se olhar no espelho antes da cagação de regra moralista "mimimi valores
da família tradicional brasileira"!
A
decência e a moralidade estão no respeito ao próximo, não está no estado civil,
nas fotos de viagem na rede social, no brinde de ano novo, na família de
comercial de margarina que as pessoas amam exibir. A decência e a moralidade,
também não estão na cama e nem são perdidos com sexo devasso, sujo e selvagem.
A
decência e a moralidade estão nos princípios éticos de cada um e no que fazem
quando não precisam sair em foto ou serem admirados por quem os vê, porém não conhece
o que se passa em seu intimo. A decência e a moralidade estão, pois, na forma
como tratamos, respeitamos e julgamos o outro. Frisando que, aquele que muito “julga
mal” tem o mal dentro de si.
Uma
de minhas frases preferidas eu li em um livro que peguei, aleatoriamente, na
biblioteca da Universidade de Passo Fundo (UPF/RS) em 2000, no meu primeiro semestre
de faculdade, e é do Marquês de Maricá: “Os bons presumem sempre bem dos
outros; os maus, pelo contrário, sempre mal; uns e outros dão o que têm.”
(E é com está frase que termino esta crônica).
Cláudia
de Marchi
Brasília/DF,
07 de julho de 2016.
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