Os chatos depres
Existem muitos tipos de chatos neste mundo, tem aqueles que vivem reclamando de tudo, aqueles que adoram criticar e falar mal da vida alheia, outros que acham que são profetas ou sábios e falam sem dar espaço para o outro cientes de que suas idéias são preciosas. Enfim, vários tipos, mas um dos mais irritantes é o “chato depre”.
Nada contra pessoas portadoras da doença chamada Depressão. Mas o deprimido chato é aquele que esta cultivando uma grande pena de si mesmo, se sentindo o pior dos seres humanos, um joguete mal jogado pelo destino, e em hipótese alguma fala algo positivo ou analisa as circunstancias de ponto de vista menos infeliz e mais entusiástico. Enfim, não se ajuda.
O chato depressivo aluga os outros com suas lamúrias, enche os olhos de lágrimas e desperta piedade e uma dose bastante elevada de raiva em seus interlocutores- “Poxa, será que ele pensa que é o único com problemas no mundo?”.
Tem a mulher recém separada, o homem que foi traído, o cidadão com dificuldade financeira, a mocinha que acabou o namoro, a moça mimada que não conseguiu comprar a bolsinha Victor Hugo, e a outra que não se conforma com a pouca quantidade de seios que tem.
Há também a pessoa mal amada que reclama da desatenção do namorado sem perceber que sem amor-próprio é impossível cativar o amor verdadeiro de alguém. Existem muitos que culpam ao outro pela sua depressão olvidando que são os únicos responsáveis pela sua felicidade ou frustração. Talvez esses seres e todos os demais que de tanto cultivar pena de si mesmos se tornam insuportáveis devessem dar uma passeadinha.
Não me refiro a um passeio na praça, na sorveteria ou na cafeteria chique, não me refiro a uma saída na night, nem a uma viagem para um local legal. Esses são entretenimentos que o chato depre logo esquece, se é que irá conseguir tirar o foco de seu umbigo murcho.
Os chatos depres deveriam passear pela CTI de um Hospital, deveriam visitar os doentes internados pelo SUS, ou aquele milionário que mesmo sendo abastado não consegue recuperar a saúde.
Deveriam sentar seus firmes ou rechonchudos traseiros numa poltrona velha de Hospital Público para ver que quem esta deitado na cama em sua frente padecendo de dor, deitado há dias, com o cheiro de doença impregnado nas narinas, ou com a própria fixada em seu corpo, via de regra não esta lamuriando nem sentindo pena de si mesmo, pois, se assim agir, se entrega à morte que lhe ronda.
(Problema, dizem, “é falta de saúde”, todavia, muitas vezes os homens sábios mesmo diante da doença não se entregam, não reclamam, não se colocam em posição de coitados, para, assim terem maior qualidade de vida.)
Os chatos depressivos que se sentem inferiores no mundo deveriam buscar ajuda psicológica, e passar a ver que ainda que sua situação seja desconfortável existem pessoas em posição muito pior. Olhar para os lados e para trás é uma boa forma de analisar a vida e, aos poucos, buscar o desprendimento do egoísmo, ponto forte dos seres inconvenientes que lastimam demais.
Cláudia de Marchi
Marau, 21 de maio de 2008.