Do Rock ao Sertanejo
Fui à um show de uma banda cover da saudosa Legião Urbana neste final de semana. A Legião é e sempre será, para mim, a melhor banda de rock nacional. Letras de uma qualidade magnífica, profundas, verdadeiras, que faziam e sempre farão as pessoas inteligentes pensarem.Tinha muitos fãs, mas não era pop como as que vieram depois dela. A Legião cantava frases complexas, não tinha refrões populares e vagos, suas músicas embalaram minha adolescência semi-solitária.
Eu sempre tive amigos mas adorava curtir uma certa solidão. Ouvir Legião e Cazuza no meu quarto, onde sonhos e pensamentos fortes cheios de convicções adolescentes me faziam companhia, era algo bom para mim. No show que assisti acho que eu era uma das poucas pessoas que sabia todas as letras, afinal tenho todos os cds. Um de meus sonhos era fazer o Renato Russo virar heterossexual, sua forma de pensar me surpreendia, me inspirava.
A geração Coca-Cola não era a minha, mas eu fui criada dentre seus membros, que, porém não eram burgueses sem religião e tampouco foram o futuro da nação, ao menos não o bom futuro da nação, porque este continua sendo uma esperança e não uma realidade.
Filha única e um pouco mimada de caminhoneiro que estudava em bons colégios, essa foi boa parte da minha vida. Me recordo das viagens de caminhão com meu pai quando ele ouvia músicas sertanejas: Leandro e Leonardo, Chitãozinho e Chororó, Zezé di Camargo e Luciano, e outros dos quais não me recordo o nome, com exceção de uns tais Tonico e Tinoco e Milionário e José Rico, além de Sérgio Reis. Me lembro que eu fazia cara de nojo ao ouvir suas músicas, e logo pedia para colocar minhas fitas da Legião, Capital Inicial e Paralamas.
Pois é, a vida muda. Creio que depois do primeiro amor e da inserção real no mundo adulto a vida da gente se transforma. Na minha época rock em que a variação musical mais inusitada que eu fazia era U2, The Doors, Blondie e Guns´n Roses eu amava apenas a vida (sim, essa sempre foi minha paixão), meus pais e minhas amigas. Não tinha namoradinho nem nenhum romance findado.
Antes do primeiro romance o estilo musical mais romântico que eu ouvia era o Renato e a Zizi Possi cantando em italiano além do magnífico Andrea Bocelli, e, também Eros Ramazzotti. Mas, depois entrou Bruno e Marrone, Zezé di Camargo e Luciano. Brega? Anti-pop? Meu marido que me desculpe, mas adoro ouvir e assistir um dvd deles quando ele não esta perto, afinal critica o meu gosto.
(Confesso que dizer em público que músicas sertanejas me inspiram é como fazer topless, afinal a minha cultura e meu meio propagam o "pop", o clássico, a música da minoria e não da massa, do povo.)
Curto Amy Winehouse, Ana Carolina, Luisa Possi, Cássia Eller, Duncan, Calcanhoto, continuo fã da Legião, Paralamas, Capital Inicial, Biquini, Nenhum de Nós, U2, Guns, da boa e velha MPB, Caetano, Gil, Elis, Jobim, Milton Nascimento, gosto de boas músicas e, principalmente de boas letras, e talvez por isso tenha me tornado fã dos dois filhos de Francisco, por exemplo. Letras românticas? Dor de corno? Até onde sei nunca fui traída, mas letras musicais que falam de amor, amor reconquistado, perdido, amor que deu certo ou errado me acalmam. Não sou nenhuma romântica a moda antiga, não gosto de romance platônico, mas o amor em si me interessa e é por isso que tenho aos 26 anos um gosto musical diverso do que tinha há 10 anos atrás.
O Renato era fenomenal, o Cazuza também, mas ambos tiveram uma existência de extremos. Pessoas de inteligência rara, não tiveram uma vida que me desperte admiração, morreram cedo graças à seus excessos: Álcool, drogas, promiscuidade. Muitos roqueiros não vivem assim e suas músicas são sucesso, todavia não são letras tão chocantes e boas quanto as que eles escreviam e ouvir música moderninha de letra com 15 linhas não me agrada tanto. Esse também é um dos motivos que me faz admirar os cantores que, como diz meu parceiro, "vieram do meio do interior do fim do mundo".
A vida da gente tem fases, inclusive verificada no nosso gosto musical. Depois de conhecer o bom e o ruim do amor, da união, do companheirismo, depois de ver que meus heróis morreram de overdose, aids e outros males causados pelo seu excesso e falta de verdadeiro amor pela vida (quem ama cuida, quem se ama, se cuida) aprendi a respeitar as músicas sertanejas e, mais do que isso, me tornei uma fã delas.
Ideologia, como diria o Cazuza, eu quero uma para viver, mas a vida nos faz mudar de ideologias. Eu tive a ideologia da revolta, "o governo é uma porcaria, o Brasil uma comédia". Creio que tudo continue assim, mas a minha ideologia no momento é viver bem e fazer o que posso pelo mundo e por quem eu tenho apreço.
Podem me criticar, podem me tripudiar, apesar de continuar eclética, escuto bastante música sertaneja. E que venham Vitor e Léo, Bruno e Marrone, César Menotti e Fabiano e cia. Eu gosto, e se quiser que meus filhos sigam algum exemplo em relação a cantores famosos, prefiro que seja o dos que vieram do nada e estão vivos com mais de 40 anos do que o do cara inteligente e classe média que criticava com maestria a vida, mas não teve pela sua própria o respeito que ela merecia, e, por isso procurou e achou cedo a morte.
Certa vez achava que existiam pessoas que morriam cedo porque eram especiais, hoje eu acho que é especial aquele que vive bem durante o tempo que sua vida dura fazendo dela o melhor que ela pode ser.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 27 de julho de 2008.
Fui à um show de uma banda cover da saudosa Legião Urbana neste final de semana. A Legião é e sempre será, para mim, a melhor banda de rock nacional. Letras de uma qualidade magnífica, profundas, verdadeiras, que faziam e sempre farão as pessoas inteligentes pensarem.Tinha muitos fãs, mas não era pop como as que vieram depois dela. A Legião cantava frases complexas, não tinha refrões populares e vagos, suas músicas embalaram minha adolescência semi-solitária.
Eu sempre tive amigos mas adorava curtir uma certa solidão. Ouvir Legião e Cazuza no meu quarto, onde sonhos e pensamentos fortes cheios de convicções adolescentes me faziam companhia, era algo bom para mim. No show que assisti acho que eu era uma das poucas pessoas que sabia todas as letras, afinal tenho todos os cds. Um de meus sonhos era fazer o Renato Russo virar heterossexual, sua forma de pensar me surpreendia, me inspirava.
A geração Coca-Cola não era a minha, mas eu fui criada dentre seus membros, que, porém não eram burgueses sem religião e tampouco foram o futuro da nação, ao menos não o bom futuro da nação, porque este continua sendo uma esperança e não uma realidade.
Filha única e um pouco mimada de caminhoneiro que estudava em bons colégios, essa foi boa parte da minha vida. Me recordo das viagens de caminhão com meu pai quando ele ouvia músicas sertanejas: Leandro e Leonardo, Chitãozinho e Chororó, Zezé di Camargo e Luciano, e outros dos quais não me recordo o nome, com exceção de uns tais Tonico e Tinoco e Milionário e José Rico, além de Sérgio Reis. Me lembro que eu fazia cara de nojo ao ouvir suas músicas, e logo pedia para colocar minhas fitas da Legião, Capital Inicial e Paralamas.
Pois é, a vida muda. Creio que depois do primeiro amor e da inserção real no mundo adulto a vida da gente se transforma. Na minha época rock em que a variação musical mais inusitada que eu fazia era U2, The Doors, Blondie e Guns´n Roses eu amava apenas a vida (sim, essa sempre foi minha paixão), meus pais e minhas amigas. Não tinha namoradinho nem nenhum romance findado.
Antes do primeiro romance o estilo musical mais romântico que eu ouvia era o Renato e a Zizi Possi cantando em italiano além do magnífico Andrea Bocelli, e, também Eros Ramazzotti. Mas, depois entrou Bruno e Marrone, Zezé di Camargo e Luciano. Brega? Anti-pop? Meu marido que me desculpe, mas adoro ouvir e assistir um dvd deles quando ele não esta perto, afinal critica o meu gosto.
(Confesso que dizer em público que músicas sertanejas me inspiram é como fazer topless, afinal a minha cultura e meu meio propagam o "pop", o clássico, a música da minoria e não da massa, do povo.)
Curto Amy Winehouse, Ana Carolina, Luisa Possi, Cássia Eller, Duncan, Calcanhoto, continuo fã da Legião, Paralamas, Capital Inicial, Biquini, Nenhum de Nós, U2, Guns, da boa e velha MPB, Caetano, Gil, Elis, Jobim, Milton Nascimento, gosto de boas músicas e, principalmente de boas letras, e talvez por isso tenha me tornado fã dos dois filhos de Francisco, por exemplo. Letras românticas? Dor de corno? Até onde sei nunca fui traída, mas letras musicais que falam de amor, amor reconquistado, perdido, amor que deu certo ou errado me acalmam. Não sou nenhuma romântica a moda antiga, não gosto de romance platônico, mas o amor em si me interessa e é por isso que tenho aos 26 anos um gosto musical diverso do que tinha há 10 anos atrás.
O Renato era fenomenal, o Cazuza também, mas ambos tiveram uma existência de extremos. Pessoas de inteligência rara, não tiveram uma vida que me desperte admiração, morreram cedo graças à seus excessos: Álcool, drogas, promiscuidade. Muitos roqueiros não vivem assim e suas músicas são sucesso, todavia não são letras tão chocantes e boas quanto as que eles escreviam e ouvir música moderninha de letra com 15 linhas não me agrada tanto. Esse também é um dos motivos que me faz admirar os cantores que, como diz meu parceiro, "vieram do meio do interior do fim do mundo".
A vida da gente tem fases, inclusive verificada no nosso gosto musical. Depois de conhecer o bom e o ruim do amor, da união, do companheirismo, depois de ver que meus heróis morreram de overdose, aids e outros males causados pelo seu excesso e falta de verdadeiro amor pela vida (quem ama cuida, quem se ama, se cuida) aprendi a respeitar as músicas sertanejas e, mais do que isso, me tornei uma fã delas.
Ideologia, como diria o Cazuza, eu quero uma para viver, mas a vida nos faz mudar de ideologias. Eu tive a ideologia da revolta, "o governo é uma porcaria, o Brasil uma comédia". Creio que tudo continue assim, mas a minha ideologia no momento é viver bem e fazer o que posso pelo mundo e por quem eu tenho apreço.
Podem me criticar, podem me tripudiar, apesar de continuar eclética, escuto bastante música sertaneja. E que venham Vitor e Léo, Bruno e Marrone, César Menotti e Fabiano e cia. Eu gosto, e se quiser que meus filhos sigam algum exemplo em relação a cantores famosos, prefiro que seja o dos que vieram do nada e estão vivos com mais de 40 anos do que o do cara inteligente e classe média que criticava com maestria a vida, mas não teve pela sua própria o respeito que ela merecia, e, por isso procurou e achou cedo a morte.
Certa vez achava que existiam pessoas que morriam cedo porque eram especiais, hoje eu acho que é especial aquele que vive bem durante o tempo que sua vida dura fazendo dela o melhor que ela pode ser.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 27 de julho de 2008.
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