Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

As máscaras e o tempo

As máscaras e o tempo
Existe muita gente neste mundo que critica a vida alheia sem analisar as mazelas da sua, que pinta verbalmente a sua história com tinta colorida para omitir os fatos negros de seu passado, os erros, as fraquezas. Quanta gente, pois, por ser fraca fala que é forte, por ser vil fala que é especial, por ser de coração duro, fala que é bom e caridoso.
A gente só conhece as pessoas quando convive com elas, só podemos ter certeza sobre a bondade de alguém convivendo com essa pessoa, vendo sua forma de agir com quem lhe ama, com que esta perto dele, com a família, com as pessoas próximas. É fácil ser caridoso e bondoso com estranhos, ao contrário, é ser nobre com aqueles temos mais contato.
Todas as palavras de um homem, seu alto-enaltecimento, sua forma de, verbalmente se colocar no mundo, são inúteis diante da constatação do que realmente fez na sua vida para ser feliz. Um homem não é o seu presente e afirmações, o ser humano é, também, o seu passado, os seus segredos, as suas omissões.
A vida ensina e as máscaras caem com o passar do tempo. Uma pessoa pode se fazer de bondosa, pode dizer que é forte, mas, apenas com o passar dos dias a sua dureza de coração, a sua fraqueza de espírito ficará evidenciada. O tempo, é sagrado também para mostrar que as palavras não importam nada diante da conduta do homem. Condutas presentes e pretéritas.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 29 de agosto de 2008.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Antes do chega (!)

Antes do chega (!).

O término de um relacionamento dói mais para quem não deu todo amor que podia: A dor se liga a alguma forma de arrependimento. Aquele que, por amar, respeitou, fez o seu melhor para que a relação permanecesse e se mantivesse em harmonia, aquele que sabe quão bom parceiro foi (ou tentou ser), quando desiste da relação sai tranqüilo, ainda que com alguma mágoa.
Todo relacionamento frustrado deixa alguma mágoa, todavia, relacionamento bom é relacionamento presente, tudo o que se pode chamar de “ex” é porque não era bom, não estava à altura de nossos sonhos, ideais, anseios e sentimentos. Não era, pois o que desejávamos para nós.
Quando a gente se entrega à relação e o outro não, quando, de alguma forma ou por algum motivo nos sentimos traídos, quando a decepção surge com palavras mal colocadas, com atitudes tolas, com omissões e ingratidão, o amor, cedo ou tarde, evapora pelo ar.
Aquele que amou de verdade, que sabe o que fez para o bem da relação, ainda que frustrado pelo término se sente mais forte, de bem, ao menos, consigo mesmo. Sofre? Talvez, mas pouco, porque traz na memória a lembrança da falta de entrega, respeito, afeto do outro, ou, enfim, do que fez o amor ruir.
O sofrimento, muitas vezes, se dá antes do término, o fim de tal relação acaba trazendo alivio para o cansaço de um espírito que sofreu antes de ter coragem, antes, enfim, de decidir optar pela solidão.
Quem se entregou, quem se decepcionou com o outro, sofre mais no decorrer da relação, quando a decepção se realiza, de forma que o término do relacionamento se torna a salvação de seu coração, de sua própria alma que teve suas marcas antes do bendito “chega” (com direito a ponto de exclamação no final).

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 26 de agosto de 2008.

Não existe amor eterno (?).

Não existe amor eterno (?).

O tipo de amor que passa mais perto da possibilidade de durar para sempre diante de injustiças é o amor de mãe e por time. As mães perdoam as falhas dos filhos, até mesmo a sua ingratidão e brutalidade, de time a pessoa não muda mesmo tendo decepções, o respeito por ele permanece por toda a vida do homem.
Todavia, o amor entre duas pessoas que escolhem uma a outra para compartilhar seus dias, sua cama, sua mesa, sua vida não é eterno, via de regra, porque juntamente com a paciência, o amor tem limites ditados pelo amor próprio, pela auto-estima e auto-respeito.
Existem pessoas que querem o melhor do amor, o melhor da vida a dois sem colocarem seu coração na relação. Querem demais, e dão pouco, quase nada. O amor precisa de investimento de ambos os parceiros, na verdade ele precisa é que ambos se vejam como iguais sem que um queira se sobrepor ao outro, mostrar que é mais forte ou superior.
O que mata o amor é o orgulho, o egoísmo, é a desconsideração, a falta de respeito, de união, de cumplicidade, a falta de valorização do outro como ser humano que é.
Tem gente que não quer ser ofendido, desconsiderado ou ultrajado, mas se sente forte ao fazê-lo, e enquanto seu ego infla o amor do outro morre: Em busca da bijuteria do auto-enaltecimento ele despreza a jóia do amor e admiração alheios. Eterno mesmo diante de desrespeitos e ingratidões é amor de mãe, amor entre duas pessoas que querem viver junto depende muito mais de respeito mútuo, afeto e cumplicidade do que da vontade de ser feito eterno.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 25 de agosto de 2008.

sábado, 23 de agosto de 2008

Vontade de amar

Vontade de amar

Para manter um casamento, uma união entre um casal é preciso vontade de ficar junto, vontade de ficar ao lado do outro, além de amor é preciso força de vontade e boa vontade para viver o amor. Obviamente que o amor por uma pessoa faz com que mudemos, com que passemos a ceder mais, a compreender, a se colocar no lugar do outro, o grande problema é a banalização dessa palavra: Tem muita gente por ai que não ama nem a própria vida, nem a si mesmo, mas esta sempre disposto a dizer "eu te amo".
Li numa revista feminina uma entrevista com a atriz Cláudia Raia que esta casada há 15 anos com o colega Edson Celulari. Um casamento feliz entre duas pessoas que, além de se amarem e se respeitarem desejam ficar juntas, esta foi a resposta dela para explicar o "segredo" da união feliz. Hoje em dia, nos tempos em que as pessoas acham sexo e companhia em qualquer esquina nem todos cultivam essa vontade, as pessoas vivem a ilusão do "excesso de corpos", quando, na verdade, nesta grande confusão, há a ausência de alma, de essência, de sentimentos.
"Nem todos", é verdade, mas a maturidade trás sapiência e o homem sapiente sabe que sexo, companhia para grandes festas e porres não enchem a alma, e, assim, o homem que realmente, por se estimar é capaz de amar verdadeiramente alguém, lhe respeitando e admirando, não deseja apenas uma relação em que diante dos impasses e diferenças seja findada com um "não quer, vai embora, ache outra". Vivemos, lamentavelmente na era dos amores substituíveis.
A pessoa madura para se relacionar luta para manter o relacionamento, conversa, dialoga, expõe seus pensamentos respeitando os sentimentos do outro, e, junto com ele acha a melhor solução para os problemas, para as dificuldades inerentes a vida e a qualquer união, afinal, nunca existirão pares perfeitos, é preciso força de vontade, também, para o amor, para manter a união em clima de paz, de carinho e cumplicidade.
Ora, mas existem tantas separações? Sim, existem e sempre existirão porque a maioria dos seres é imatura, egoísta, e, principalmente, gozando as ilusões do mundo das facilidades, fugacidades e egocentrismo, lhes falta amor próprio, apreço pela própria vida, de forma que, para viver um grande amor em que o egoísmo é colocado de lado, em que a revolta cede lugar a paciência, respeito e compreensão, essa maioria é inapta.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 23 de agosto de 2008.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A justiça da vida


A justiça da vida.

Pobre do homem que acha que sua ingratidão, soberba, egoísmo e crueldade com os sentimentos alheios passarão sem retorno nesta vida. Quer queiramos ver, quer não, a vida é justa e cobra do homem, pouco a pouco, hoje ou amanha, cedo ou tarde, o preço de seus erros e, principalmente de suas injustiças. É fácil para o homem ser juiz da vida alheia, apontar as feridas e as ações erradas do outro, difícil é sopesar na balança de seu julgamento os atos injustos que ele mesmo comete.
Injusto não é apenas o homicida, o sonegador de impostos, injustas não são apenas as decisões judiciais que nos contrariam ou todo aquele agir do outro que nos fere. Nós costumamos ser injustos, e muito. Somos injustos quando agimos com rispidez com nossos pais, nosso irmão ou com nosso companheiro sem que eles tenham nos feito algo para nos magoar, quando somos secos com que nada noz fez, quando xingamos o parente, o marido, o amigo ou o funcionário por pouca coisa ou nada, apenas porque estamos descontentes com algo que, talvez, eles nem saibam o que seja.
Tendemos a justificar: "Desculpa, mas estou indignado com tal coisa". Afinal, adoramos justificar a nossa crueldade, séria mesmo é a do outro, a nossa é sempre explicável. Somos como juizes algozes com o julgamento de nosso semelhante e como mães ternas e amorosas ao explicar nossas atitudes independente de serem cruéis e pérfidas.
Todavia, chega um dia em que a Justiça chega à nossa porta sem oficial de justiça, sem marcar hora nem local para nos mostrar que nossas atitudes injustas estão sendo cobradas. E é ai que nossa estupidez, nossa raiva mal descontada, nosso egoísmo, nossas traições da confiança alheia, nossa ingratidão com quem nos ama e auxilia e nossa soberba ao analisar o mundo ao nosso redor são purgados.
Tenho pena daquele que acha que pode tudo, daquele que crê que não será cobrado pelas suas más-ações. Cedo ou tarde a vida cobra o homem. Alguns chamam de Justiça Divina, de "pagamento de pecados", eu chamo de perfeição concretizada. No judiciário da vida ninguém sai devendo, ainda que pague em parcelas, seus erros são cobrados. É a vida, pois, demonstrando que ainda que o homem seja injusto, ela não é, e todo mal feito, toda ignorância, crueldade, todo pisar nos sentimentos alheios não passam em branco nela.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 20 de agosto de 2008.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Pais e Filhos

Pais e Filhos
Levei quase 15 anos para entender o que o Renato Russo queria dizer na música Pais e Filhos: "Você culpa seus pais por tudo, e isso é um absurdo, são crianças como você". Muitas pessoas atribuem aos pais várias espécies de culpas: Não foram tão afetuosos, não dialogaram como deveriam, não ouviram quando precisava, não fizeram isso ou aquilo, exageraram aqui ou acolá. Não param para pensar que os pais fizeram o que sabiam, como podiam, tentaram fazer o seu melhor. Hoje somos filhos, amanha seremos pais, e será que seremos perfeitos? Será, pois que podemos criticar os nossos pais sem sequer sabemos como nós seremos quando tivermos os nossos filhos?A maternidade, a paternidade, não faz com que nos tornemos santos, com que passemos a saber todas as verdades do mundo, a melhor forma de agir com as pessoas. É isso que significa que nossos pais são crianças como nós, psíquica e espiritualmente são o que eram antes de se tornar pais, são, também aprendizes na escola da vida.Fato é que os pais amam seus filhos, fazem o que sabem visando sempre o seu bem estar, a sua alegria. Erram? Sim, bastante, mas sem desejar. Fazem algumas maldades? Sim, como todo ser humano, mas os erros, as mancadas, as surras, as palmadas, os gritos inapropriados, o exagero, nada afasta a existência do amor, do anseio por sua felicidade.As mães rezam pela felicidade dos filhos, querem o bem deles, muitas vezes, é verdade, querem o bem dentro do que elas consideram bom e correto, olvidando do desejo do filho, mas, ainda assim, para que critica-lá? Seu desejo é puro, é bondoso. Falta aos filhos a abdicação de egoísmo que todo pai tem. É por abdicar do egoísmo que um pai que, mesmo sem ter sido demasiado carinhoso na infância do filho, constrói um bom patrimônio para lhe deixar bem, lhe paga estudo, faculdade, lhe ajuda a montar um negócio. Ele poderia gastar consigo, mas prefere construir um patrimônio para deixar para o filho que, muitas vezes, não dá valor algum ao esforço do pai.Compreender que não se pode esperar dos pais a perfeição que não temos enquanto filhos é fundamental. Compreender que nossos pais foram criados em outra época e que o que fizeram condiz com o pouco que sabiam é uma atitude nobre. Culpar, criticar, malbaratar as atitudes dos pais é atitude do mais indigno, maldoso, tolo e egoísta dos filhos, que apesar disso é perdoado pelo pai. Os pais não se tornam santos após a paternidade, mas, certamente, se tornam pessoas mais nobres na medida em que, de seu modo, amam seus filhos.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 19 de agosto de 2008.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Superação

Superação

Há mais de 10 anos meu pai tentou me ensinar a dirigir, até que um belo dia, em Uruguaiana, fui estacionar, mas acelerei e quase atropelei uma família. Pior do que isso foi o que ouvi dele, terminei criando um bloqueio, um grande medo de dirigir.
Aos 18 anos já no segundo semestre da faculdade, arrumei pretextos e não fiz auto-escola, aos 22, formada após passar no exame da OAB, resolvi fazer. Passei na prova teórica e das 15 aulas práticas pagas fiz sete e desisti usando como pretexto a excessiva simpatia do instrutor. Aos 25 resolvi procurar uma psicóloga para me ajudar, na quinta consulta já me sentia apta para guiar, mais corajosa, me inscrevi na auto escola onde paguei a segunda habilitação da minha vida, pois a primeira prescreveu.
Há menos de 30 dias meu marido me deu sua camionete para guiar no interior. Vim guiando rumo à cidade, quando percebi que o trânsito não me assustava, estava super confiante em meu poder de guiar. “O carro é uma extensão do teu corpo”, dizia minha psicóloga, e assim, com a confiança de quem guia seu próprio corpo passei a guiar.
Muitos devem estar se perguntando: “Sim, o que eu tenho haver com isso?”. Com minha dificuldade para dirigir, nada, mas com a existência de um obstáculo a ser superado na vida, tudo. Todo ser humano possui alguma dificuldade, ainda que emocional, a ser superada. Sim, porque toda dificuldade existe para ser superada, toda pedra em nosso caminho esta ali para ser ultrapassada, ou, ao menos, pisada. Nenhum percalço existe para nos fazer parar.
Quando deixamos nossas dificuldades, nossos bloqueios nos parar estamos lhes deixando grandes e nos tornando pequenos diante deles. Cabe unicamente a nós tarefa de ultrapassar barreiras e vencer nossas dificuldades. Precisamos nos conhecer e achar uma forma de superá-los, ela sempre existe.
Temos em nós a força, a razão e a sensibilidade necessárias para compreender a nós mesmos e, assim, superar nossas dificuldades, com paciência, obviamente, porque nenhuma construção grandiosa se faz da noite para o dia, assim como nenhuma mudança importante ocorre rapidamente. O tempo, a boa vontade e a paciência conspiram sempre a favor de quem deseja evoluir.

Marau, 18 de agosto de 2008.

Cláudia de Marchi

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Ilusões a dois.

Ilusões a dois.

Analisando a série de relacionamentos frustrados que conheço fico me perguntando: Afinal, quem se ilude? Quem ilude quem? Sempre acreditei que o ser humano cria as próprias ilusões no silêncio de sua alma, que não precisa do outro para se enganar.
O ser humano adora uma ilusão, espera da vida sempre mais do que a realidade lhe propicia. Não quer apenas fidelidade, companheirismo, união, quer milhares de “eu te amo”, quer o parceiro hiper-mega-super-ultra-romântico, mas que, obviamente seja um Don Juan de uma só.
O homem espera “a mulher”: Corpo definido, rosto bonito, olhar sensual, inteligência sensacional, dona de casa de primeira, mas independente financeiramente e, obviamente, quer uma amante que faça qualquer meretriz se contorcer de inveja.
Todavia, apesar dessa tendência humana de esperar e desejar o magnífico, de criar expectativas grandiosas nos mais variados aspectos de sua vida, creio que num relacionamento sério as ilusões criadas são regadas pelo outro. Logo, ele tem responsabilidade pelos planos frustrados do parceiro porque, ainda que através da omissão de seus pensamentos, deixou o outro sonhar.
“Amor quando eu me aposentar vamos viajar”, “quando a filha se formar vamos passear nos finais de semana”, e o outro concordando, ou, ao menos silenciando e fazendo gesto afirmativo com a cabeça, mas, ora vejam só: Antes disso tudo acontecer o “amor”, o “bem”, o “querido” deixa a esposa com mais de quarenta anos para se aventurar na vida, ou, enfim, para namorar a moça mais jovem.
A esposa se iludiu? Pode ser. Criou expectativas? Obviamente, mas não fez sozinha, afinal o pressuposto é o amor numa relação amorosa, é o amanha ao lado do companheiro. Nenhum desses anseios são devaneosos ou absurdos, em especial quando o parceiro não expõe seu anseio pelo fim.
Por ver esses e outros exemplos aprendi que todos os sonhos e ilusões criadas numa relação firme podem surgir na mente de um, mas são direta ou indiretamente cultivadas pelo outro. Todavia, o que fazer com as frustrações? Lamentar sem se entregar para a dor e esperar o tempo passar, ele apaga os ferimentos, apesar de não curar as cicatrizes, mas matar elas não matam.

Cláudia de Marchi

Marau, 15 de agosto de 2008.