Conto de amor trágico
Era uma vez um casal que se conheceu de uma forma inusitada. Ele, um homem da noite, acostumado com farras, muitas mulheres e bebedeiras, ela, uma moça estudiosa, bela, mas pouco afeta a festas e ao conhecimento do sexo oposto, uma moça que não era nada do que sua aparência voluptuosa podia aparentar que ela fosse, assim como ele, não era nada do que seu jeito interiorano poderia significar que ele fosse. Em dois dias eles se apaixonaram. Logo veio o sexo e eles se apaixonaram mais ainda, mas eles já estavam namorando, a confiança era, aparentemente, grande. Ela pensava que era, ela era tola demais. Mas eles moravam longe. Surgiram ciúmes, ela chamava a atenção por onde andava, ele bebia demais, tinha transtornos de humor e, para consertar a relação doente, os dois imaturos e apaixonados foram morar juntos. Ela estava encantada porque, em meio a solidão que sentia pelo abandono do pai que se separou de sua mãe e pouca atenção lhe dava, em meio as grandes cobranças maternas, o seu namorado que nada lhe cobrava- até então- apesar de viver de excessos, lhe fazia sentir-se livre de cobranças e respeitada: não lhe exigia que fosse sobre-humana, porque ele sabia que era fraco, só ela que não via o quanto. A moça, jovem, apaixonada, com míseros 24 aninhos, foi morar com o homem de 40 anos logo após uma briga, onde ele pensava que ela havia conhecido outro. Ele sentia ódio e amor, graças a sua imaginação, claro. Ele só não queria perde-la, isso nunca, jamais. Então, em menos de 11 meses de namoro, o casal iniciou uma união estável. Ele dizia que amava, ele tentava dar o seu melhor. Num dia eram flores, noutro cacos de vidro, noutro pedras, noutro facas. Ele mudava de humor demais, ele queria se vingar dela porque ela fez ele amá-la, ela, sem querer, fez ele se sentir vulnerável, e ele nunca gostou de perder, ou de sentir medo de perder alguma coisa, e, por ter tal medo, ele colocou o casamento não legalizado rio abaixo. Em oito meses, a jovem irada, mas, ainda, apaixonada, desistiu. A moça trabalhava, era sócia num escritório, sozinha, sem irmãos, sem ninguém para ajudá-la, moralmente ofendida, agredida intimamente, deixou tal homem que fez com ela tudo o que não podia: desistir de amá-lo. Mas ela nunca aceitou desistir de alguma coisa, a moça também não gostava de perder, todavia ela sempre soube que o tinha, ela sabia, mas ela o deixou e foi viver. Noites chorando, dias empurrados, alma rasgada. Mas, naquele momento ela o via como um sujeito que lhe maltratava e lhe fazia acreditar que ela é quem estava errada, não ele. O homem era para ela, naquele momento, uma máquina de enlouquecer pessoas. Mal sabia ela que, não era, apenas, “naquele momento”. Ela estava se tratando, tomando remédios para ansiedade, insônia e para síndrome do pânico, porque ele passou com uma camionete em frente ao seu prédio acelerando durante certa noite e chamou seu nome, a moça já extenuada, passou a ter medo de dormir, então, não comia, não relaxava mais. O psiquiatra disse que seu companheiro era um psicopata, mas mesmo sabendo disso, algo dentro dela não saia, ela ainda acreditava que ele não podia tê-la enganado tanto! Ela que era tão inteligente, que tinha lido tantos livros! Num belo dia, inesperadamente, ela conheceu um príncipe, um lord apaixonante. Quando ela menos esperava surgiu em sua vida uma pessoa extraordinária e encantadora. Todavia, no outro dia, ela ia veranear. Para sua surpresa, o príncipe foi atrás dela e a encontrou na cidade em que estava, lhe ligou, e alugou um lindo apartamento no prédio em que a mocinha estava com a família. Paixão. Ela se apaixonou, ele também. Mas, dias e dias após, voltarem do melhor verão que até então aquela jovem havia passado, aquele rapaz que lhe judiou voltou a importuná-la, e ela enlouqueceu, ela não sabia o que fazer, novamente, ela se perdeu. O moço queria casar, e a moça, tola, muito tola, ainda sonhava em usar uma aliança, e brava, muito brava com seu novo amor que lhe fazia ciúmes e lhe deixava insegura, inopinadamente, aceitou. Ela, numa decisão da qual, não desconfiava, ia amargar arrependimento todos os dias de sua vida, aceitou e desistiu de sua nova paixão para não se arriscar, e casou. Os primeiros dois meses de seu casamento foram ótimos e ela acreditou que seu amado havia mudado, mas no terceiro mês, ela já foi surpreendida com agressões verbais, reclamações ininterruptas, perguntas ofensivas, afinal o seu marido sabia que lhe tirou dos braços de outro, mas descumpriu a promessa de não tocar no assunto, lhe desrespeitando, como sempre. Até que ela se acidentou, mas não morreu, e lastimou tal fato por muito tempo. Ela pensava, “Deus, eu que fiz tanta gente sofrer, que estou sofrendo tanto, porque o Senhor não me levou, será que terei que sofrer mais?”. Ela espera a resposta, nunca obteve. A família do príncipe também sofreu, todos gostaram muito da jovem, e sua mãe faleceu logo em seguida ao rompimento, o rapaz, portanto, sofreu muito, sua mãe fazia lasanhas deliciosas que a jovem adorava, e, antes de partir, a senhora havia feito várias para ambos comerem juntos. Mas a moça covarde se evadiu, e disso se arrependeu todos os dias de sua vida um tanto desgraçada por sua má escolha. Após tal o acidente ela passou a conviver todos os dias com seu amado, assim como sua mãe, que se mudou de cidade para protegê-la do genro e de suas ofensas, afinal, inúmeras foram as ligações telefônicas da filha aos prantos pedindo ajuda para ela. De nada adiantou, pobre mão, pobre mulher, sofreu pela filha. Filha insana, filha que amargou tanto arrependimento, que, em cada grito que ouvia do marido, era como um tapa que ouvia por ter abandonado quem realmente gostava dela e lhe respeitava. Ela agüentava porque achava que estava purgando a culpa por ter abandonado o príncipe. Coração, maldito coração. Covardia, maldita covardia. A moça emagreceu 10 kg de tanto sofrer insultos, de tanto ser pressionada a ser boa na gestão dos negócios do marido. Ele nem reparou na perda de peso da miserável, que, oito meses após o casamento civil saiu de casa, perdida, vagando, sem saber de nada do que estava ocorrendo ao seu redor, todavia, ela saiu munida pela ira, pela raiva e dor da frustração. Ao completar doze meses da data do infeliz casamento, ela, cuja família levou para outro Estado, tamanha a situação de fraqueza emocional que estava, assinou em apartado do marido, a separação judicial porque ela se dispôs a assumir uma divida dele. Cinco meses após, ela estava noutro estado, sozinha, sem ter conhecido ninguém, sem ter ficado com ninguém, e reencontra o homem novamente e suas promessas, seu pedido de ajuda, porque estava usando drogas, porque só pararia com sua ajuda, do contrário se arruinaria, se mataria. Internet, um bem ou um mal no destino? Não se sabe, foi graças a ela que este casal se conheceu, e se reencontrou neste caso. A moça que outrora queria ter filhos sentiu-se como mãe do seu eterno amor, e, acredite, ela cedeu! De novo! Abaixo de chuva, deixou sua mãe, seus animais de estimação, sua linda casa, sua paz, e foi ao encontro dele. Levou duas malas, e lá ficou 5 meses lhe ajudando, recuperando crédito, lhe defendendo com seu trabalho, com seu amor, com sua garra, com sua força, com sua total ausência de medo, e sendo, desta vez, bem cuidada, bem amada, mas, de repente ela percebeu que algo não podia estar bem. Não estava, jamais poderia estar. Foi muito tempo, muito amor desperdiçado, muito tempo que poderia te sido bem utilizado para o bem viver, foram muitas palavras ofensivas, e ela não conseguia apagar da sua memória, por mais que perdoasse, ainda que amasse. Ele queria ter filhos, ele tinha planos, ele tomava muitos calmantes, muitos remédios, passava noites em claro, ela queria estudar, para ela, ele parecia drogado ou insano. E de repente, ela viu que ele não serviria para pai de seus filhos, de repente, ela viu que ele era aquele que lhe feriu desde o início, que lhe levou tantos sonhos, que lhe fez chorar até adormecer tantas noites, que lhe fez se arrepender de estar viva, de estar respirando, era ele, por mais que usasse outra fantasia, era o mesmo homem, e ela jamais poderia esquecer, Ele foi aquele que gritou com ela, ele foi aquele que humilhou sua mãe, que lhe escarneceu em público, que um dia lhe empurrou ao chão, lhe agredindo fisicamente, que lhe culpou por coisas tolas, que lhe desrespeitou, ele foi aquele que, quando ela mais lhe amava e queria ter filhos, fazia de conta que não ligava para ela e sua presença de companheira e esposa “não oficial”. E assim, numa bela tarde de dezembro, calma e serena, sem derramar uma lágrima ela disse: “agora, infelizmente, quem não quer mais sou eu, a vida, meu caro, é engraçada, mas agora, o meu amor morreu, e eu vou, para não voltar mais. O nosso tempo já passou, e quando era a nossa hora tudo era mais importante do que eu, o futebol, a televisão, a cerveja, os amigos, as jantas, o trabalho, as más influências, menos eu”. Desta vez ela não saiu com raiva, nem com dor, ela saiu sentindo carinho, piedade, respeito, não ódio, ela deu o seu melhor, mas algumas lembranças são insuperáveis, são mais fortes do que qualquer sentimento, e ela se entregou a esta realidade e, serena, foi viver sem o seu companheiro de quatro anos de vida, de loucuras e de paixão ardente. Ele que, enquanto estava ao lado da jovem nos últimos tempos, lhe mimava e cuidava, voltou para a esbórnia, para a vida desregrada ao extremo, para a promiscuidade, sem, nunca, porém, esquecer as palavras que ela lhe disse: “não lhe amo, não lhe admiro mais, passou nosso tempo”. Ele nunca se lembrou, claro, de tudo o que ela ouviu dele desde que o conheceu, durante os meses de casamento não oficial, durante os meses de casamento legal, ele não se lembra do que fala, do que faz para ferir, ele faz questão, porém de não esquecer do que ouve, para ser sempre a vítima dos atos alheios, mesmo que os outros tenham feito de tudo por ele, e, graças a sua ingratidão infeliz, ele, que podia, nunca conseguiu prosperar realmente. O que é triste, muito triste. Precisar de culpados para tudo é doentio, é frustrante. Sabe-se pouco dessa moça, alguns dizem que ela se perdeu por ai, que esta trabalhando, outros dizem que esta trancada num quarto e não quer ver o sol, alguns dizem que ela saia bastante, mas de repente sumiu, uns dizem que ela enlouqueceu porque não conseguiu se perdoar por ter deixado aquele rapaz que Deus colocou em seu caminho e ter decepcionado sua família, outros dizem que ela enlouqueceu, simplesmente porque sente raiva de si mesma por ter abdicado tanto de sua vida por amar uma pessoa narcisista, por ter magoado sua mãe e todos que a amavam de verdade, dizem que ela enlouqueceu de arrependimento por ter confiado tantas vezes em quem já havia lhe ferido, outros dizem que ela esta bem, que ela se casou com outro e se mudou de cidade e de Estado. Alguns dizem que ele usa drogas, que sempre usou, outros dizem que ele é apenas alcoólatra e ambicioso, alguns dizem que ele ainda a ama, outros, que nunca a amou, que sempre quis exibi-la como troféu e usar de sua bondade e boa vontade para ajudá-lo, outros dizem que ela foi seu único amor e que ele nunca se sentiu bom o suficiente para ela, quando tentou sê-lo, ela desistiu, de tanto mal que ele já havia lhe feito, então, ele que enlouqueceu. Eu não sei de nada, apenas acho que quem sabe da história são os personagens e, ainda assim, cada um tem sua versão da verdade. Uma certeza, apenas, eu tenho: essa miserável tinha tudo, realmente, para enlouquecer, se ela não surtou é porque a mulher é forte, muito forte. Cláudia de Marchi Passo Fundo, 07 de abril de 2011.