Tertuliano
Desde criança minha mãe teve o hábito de recitar-me alguns poemas e poesias em circunstâncias nas quais, segundo ela, eles seriam pertinentes. Há muito tempo atrás ela recitou esse, cujo autor desconhecia, mas que “poderia” ser de Carlos Drummond, há dois dias atrás ela voltou a recitar-me:
“Tertuliano, frívolo peralta, Paspalhão desde fedelho, Incapaz de ouvir um bom conselho;Tipo que, morto, não faria falta.Mas um dia deixou de andar à malta.E indo à casa do pai, honrado e velho,Mirou-se diante de um espelho,E à própria imagem disse em voz bem alta:Tertuliano, és um rapaz formoso,És rico, és talentoso.Que na vida se te faz preciso?O pai, sisudo,Que por trás da cortina ouvia tudo,Serenamente respondeu: JUÍZO!...”
Sempre achei cômico e gostaria de ter certeza sobre a autoria do poema. Tertuliano era um megalomaníaco, do tipo que esbarramos na rua a cada instante. Do tipo que crê que o universo gira em torno de seu umbigo, que não se conforma quando as coisas não saem de seu jeito, perde o controle, se descabela blasfema: “Ora, como Deus não pôde fazer tudo da forma que desejo? Este mundo esta torto, só pode!”.
Tertuliano se achava demais, certamente era menos belo do que a imagem que refletia no espelho, menos rico do que ostentava e menos talentoso do que dizia ser, ele como bom megalomaníaco, se sentia mais do que era e nunca tendo ouvido conselhos, obviamente trilhou o caminho errado e para não admitir seu fracasso, na casa de seu pai, se gabava de seus dotes.
Quem é bom de caráter e alma nunca se gaba. Quem é bom não se vangloria, quem tem importância social não apregoa aos quatro ventos o que é, ou o que um dia foi. Tertuliano era um frustrado, um mal criado, cuja mãe – e pai- deixou-lhe fazer o que queria sem impedir que o paspalhão se criasse de melhor forma.
Existem muitos tertulianos e tertulianas no mundo, já diria minha mãe. Muitos que passaram pela vida de muitos homens, de muitas mulheres, valorosas, sinceras, belas, e lhes fizeram mal, lhes maltrataram, mas, doentes por serem megalomaníacos ainda dizem que poderiam “lhes ter de volta a hora que quisessem”.
Ora, Tertuliano, elas, eles?Voltarem para você? Para o vazio da falta de carinho, para o excesso de egocentrismo com doses se alguma bebida hight class, para a brutalidade e violência física ou verbal, sem afeto, toques sensuais, elogios e beijos? Não, os tertulianos precisam mesmo é de um bom analista. São megalomaníacos e egocêntricos, um perigo para quem com eles convive, não sabem se controlar nem refletir, e como todo bom doente nunca reconhece que precisa de ajuda, afinal eles sabem mais do que todos.
Na verdade muitos, realmente, mortos, pouca falta fariam. Não souberam amar, dar carinho e conforto a quem lhe amou em vida, ignorou os bons princípios, viveu só afastando de si boas pessoas, foi rude, grosseiro, porque “ele era o melhor”, ele estava acima dos outros. Talvez para sua mãe e pai Tertuliano fizesse falta, talvez para seus filhos não, tertulianos não são bons pais, eles querem ser o centro do Universo e jamais conseguiriam assumir um pequeno, um “filhote” como alguém que precisa de toda sua atenção.
Pobres tertulianos, vagando pelo mundo como nadas ambulantes inserindo em sua parca mente e coração – vazio de sentimentos nobres - que possuem alguma importância a mais do que os demais transeuntes na estrada da vida. Coitados, justamente por se acharem além dos outros é que são menos, quase nada nesta vida. São, realmente, aqueles que mortos pouca falta fariam (talvez para o Governo se pagam em dia seus impostos, ou para os pais, cuja ausência logo superariam: Gente que não sabe dar atenção e carinho é esquecida facilmente).
Arrependimento os tertulianos não têm. Mas quanto de tal sentimento sentem os que um dia lhes deram credibilidade, lhes viram como gente decente. Tratando um tertuliano bijuteria, como se fosse uma jóia rara. Esses morrem um pouco por dentro, de arrependimento por terem convivido com um desses tipos que mortos não fazem falta. Mas, ao mesmo tempo, se regozijam porque existem muitos seres especiais neste mundo. Especiais e humildes de espírito.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 29 de dezembro de 2008.
Desde criança minha mãe teve o hábito de recitar-me alguns poemas e poesias em circunstâncias nas quais, segundo ela, eles seriam pertinentes. Há muito tempo atrás ela recitou esse, cujo autor desconhecia, mas que “poderia” ser de Carlos Drummond, há dois dias atrás ela voltou a recitar-me:
“Tertuliano, frívolo peralta, Paspalhão desde fedelho, Incapaz de ouvir um bom conselho;Tipo que, morto, não faria falta.Mas um dia deixou de andar à malta.E indo à casa do pai, honrado e velho,Mirou-se diante de um espelho,E à própria imagem disse em voz bem alta:Tertuliano, és um rapaz formoso,És rico, és talentoso.Que na vida se te faz preciso?O pai, sisudo,Que por trás da cortina ouvia tudo,Serenamente respondeu: JUÍZO!...”
Sempre achei cômico e gostaria de ter certeza sobre a autoria do poema. Tertuliano era um megalomaníaco, do tipo que esbarramos na rua a cada instante. Do tipo que crê que o universo gira em torno de seu umbigo, que não se conforma quando as coisas não saem de seu jeito, perde o controle, se descabela blasfema: “Ora, como Deus não pôde fazer tudo da forma que desejo? Este mundo esta torto, só pode!”.
Tertuliano se achava demais, certamente era menos belo do que a imagem que refletia no espelho, menos rico do que ostentava e menos talentoso do que dizia ser, ele como bom megalomaníaco, se sentia mais do que era e nunca tendo ouvido conselhos, obviamente trilhou o caminho errado e para não admitir seu fracasso, na casa de seu pai, se gabava de seus dotes.
Quem é bom de caráter e alma nunca se gaba. Quem é bom não se vangloria, quem tem importância social não apregoa aos quatro ventos o que é, ou o que um dia foi. Tertuliano era um frustrado, um mal criado, cuja mãe – e pai- deixou-lhe fazer o que queria sem impedir que o paspalhão se criasse de melhor forma.
Existem muitos tertulianos e tertulianas no mundo, já diria minha mãe. Muitos que passaram pela vida de muitos homens, de muitas mulheres, valorosas, sinceras, belas, e lhes fizeram mal, lhes maltrataram, mas, doentes por serem megalomaníacos ainda dizem que poderiam “lhes ter de volta a hora que quisessem”.
Ora, Tertuliano, elas, eles?Voltarem para você? Para o vazio da falta de carinho, para o excesso de egocentrismo com doses se alguma bebida hight class, para a brutalidade e violência física ou verbal, sem afeto, toques sensuais, elogios e beijos? Não, os tertulianos precisam mesmo é de um bom analista. São megalomaníacos e egocêntricos, um perigo para quem com eles convive, não sabem se controlar nem refletir, e como todo bom doente nunca reconhece que precisa de ajuda, afinal eles sabem mais do que todos.
Na verdade muitos, realmente, mortos, pouca falta fariam. Não souberam amar, dar carinho e conforto a quem lhe amou em vida, ignorou os bons princípios, viveu só afastando de si boas pessoas, foi rude, grosseiro, porque “ele era o melhor”, ele estava acima dos outros. Talvez para sua mãe e pai Tertuliano fizesse falta, talvez para seus filhos não, tertulianos não são bons pais, eles querem ser o centro do Universo e jamais conseguiriam assumir um pequeno, um “filhote” como alguém que precisa de toda sua atenção.
Pobres tertulianos, vagando pelo mundo como nadas ambulantes inserindo em sua parca mente e coração – vazio de sentimentos nobres - que possuem alguma importância a mais do que os demais transeuntes na estrada da vida. Coitados, justamente por se acharem além dos outros é que são menos, quase nada nesta vida. São, realmente, aqueles que mortos pouca falta fariam (talvez para o Governo se pagam em dia seus impostos, ou para os pais, cuja ausência logo superariam: Gente que não sabe dar atenção e carinho é esquecida facilmente).
Arrependimento os tertulianos não têm. Mas quanto de tal sentimento sentem os que um dia lhes deram credibilidade, lhes viram como gente decente. Tratando um tertuliano bijuteria, como se fosse uma jóia rara. Esses morrem um pouco por dentro, de arrependimento por terem convivido com um desses tipos que mortos não fazem falta. Mas, ao mesmo tempo, se regozijam porque existem muitos seres especiais neste mundo. Especiais e humildes de espírito.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 29 de dezembro de 2008.
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