Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

sábado, 14 de agosto de 2010

Pequena grande crônica sobre a busca insana pela "perfeição" física.

Pequena grande crônica sobre a busca insana pela “perfeição” física.

Estou preocupada comigo. Seriamente preocupada. Fui acometida por um mal que jamais pensei ter, o mal do desejo de perfeição, o mal da auto- aceitação física “mais ou menos”. Não me acho feia, mas entrei naquela “nóia” pós-moderna de que tudo pode melhorar com um investimentozinho doa o que (e não “a quem”) doer.
Era a magreza, a bunda discreta. Nada que uns honorários não resolvessem: Silicone na poupança! Horas de cirurgia, morfina, dias e dias sem poder sentar direito. Pronto! Consegui um volume de glúteo intencionalmente desproporcional ao resto do meu corpo o que, é claro sempre achei lindo, pernas discretas estilo Juliana Paes e um bumbum avantajado. Sonho realizado, claro, sonho pessoal, muitas mulheres acham feio, horrível. Gosto, cores, amores e política realmente não se discutem!
Depois veio a implicância com os cabelos. Pontas feias, excesso de sal, verão intenso, aproveitado com muita piscina e praia concomitantemente: Cortam daqui, cortam dali, luzes, mechas escuras. De repente o descontentamento total: Cortar mais as melenas e ficar loira ou pintar os cabelos de preto? Como estavam muito curtos optei por aloirá-los. Todavia, há meses estou tentando deixar o loiro do jeito que desejo e não consigo!
De repente um pneuzinho normalíssimo se tornou motivo para uma nova cirurgia, agora, após casada, ou seja, sem a desculpa de que estou numa “crise existencial”, e assim fiz uma lipoaspiraçãozinha “básica”. Inchaço, dor, anestesia, nada me assusta mesmo. Todavia parei para pensar que eu, (justo eu!) estou vivendo a fase do “tudo em prol da beleza”. Tudo? Mas e a minha sanidade mental e inteligência foram parar aonde?
Pós “lipo” o cumprimento dos cabelos passaram a me importunar e passei a pensar em recolocar o mega hair. Eis que passei a perder o sono preocupada comigo e com este mau moral que esta me acometendo e fazendo eu desejar melhorar excessivamente meu corpo relativamente jovem.. Porque tanta vaidade? Da onde tanta vontade de ser o que ninguém conseguirá ser ou, ao menos em sã consciência irá sentir-se: Perfeita?
As loiras admiram as morenas, as de coxas rijas admiram aquelas de coxas grossas que nem com muita musculação conseguem enrijecer, as altas reclamam da altura demasiada, as baixas da pouca estatura, e assim segue. O descontentamento é a regra básica do excesso de vaidade hoje em dia, onde as mulheres estão perdendo a sanidade na medida em que endeusam sua aparência, ou melhor, na medida em que endeusam a beleza que se torna (de acordo com seu gosto) um “ideal”.
Não me excluo deste rol, aliás como filha única confesso que minha mãe padeceu da síndrome “minha filha tem que ser perfeita” o que deve ter colaborado para a minha aceitação física parca. . Não moralmente apenas, me era exigido, mas fisicamente. Quando pegava pesado na musculação e estava me achando ótima, tinha corpo “demasiado forte”, quando emagrecia estava com “aparência ruim” por causa dos ossos aparecendo, quando engordava “ficava vulgar por causa das coxas e seios fartos”. Minha mãe me incentivou a turbinar meu bumbum, e foi a primeira a dizer que não gostou, bem sem comentários.
Antigamente eu tinha uma “cabeleira excessiva”, agora ela diz que tenho “40 fios de cabelo na cabeça”, sorte a minha que casei com uma pessoa que não se importa com a cor dos meus cabelos, volume do meu glúteo, seios e etc. Fiz seis tatuagens desde que o conheci sem nunca lhe pedir opinião, mudei a cor do cabelo umas sete vezes também e nunca fui criticada.
Não preciso de elogios, só não desejo criticas, isso me basta. Meu marido me aceita como sou, respeita meus atos, minhas sandices, meu jeito, e, na verdade, é isso que todos buscam: Alguém que lhes aceite como são, no entanto a maioria, em especial das mulheres, esta padecendo com a não aceitação de si própria.
Outro dia me questionaram se meus cílios longos, herança de minha mamãe, tinham “permanente”. Céus, até isso se faz hoje em dia! Respondi que não, mas creio que a pessoa não acreditou, com uns trocados no bolso e a beleza como prioridade tudo pode neste mundo onde se faz verdadeira a idéia de que não existe mulher feia e sim mal arrumada ou sem condições financeiras, excluindo, é claro, as belas e pobres, ode da natureza à aceitação e a beleza natural, todavia aposto que se tivessem condições iam mudar ou ao menos desejam mudar algo em si mesmas.
As mulheres precisam compreender que é impossível ter tudo de belo em um corpo só, a bocona perfeita, os olhos brilhantes, o nariz de boneca, a cintura proporcional ao quadril, as pernas de Barbie, ou de “mulher melancia”(me abstenho de colocar letras maiúsculas!)? Os seios naturais ou de “mulher melão”? Na verdade cada pessoa tem um gosto e o que é admirado no corpo de uma pessoa por outra pode ser por ela desprezado. Nem mesmo no quesito elegância e beleza física existe concordância entre as pessoas, e é isso que é interessante na vida.
É impossível ter tudo em todos os aspectos na vida, ou você aprende a conviver com o que você não aceita em si, ou você aprende a relevar suas fraquezas e a tentar de forma saudável superá-las, sejam físicas ou morais, ou, é certo que terminará louca e infeliz. O descontentamento é um vício, um mau hábito dos tempos modernos, onde você pode “corrigir” algo que considera um defeito, mas nunca vai ser perfeito, não aos seus olhos, não fisicamente.
Triste é saber que pessoas de alma imunda se acham excelentes enquanto “seres humanos” superestimam, pois sua moral, seu espírito, sua sabedoria, ou seja, a perfeição tão buscada nos corpos não é uma meta para a alma. Não gosto de ser piegas, mas serei: No “final das contas” é só ela quem vale (a beleza da alma), é só ela que fará você ser melhor que alguém e não a sua bunda avantajada e dura, seu abdômen sarado, seu sorriso perfeito ou seus lindos olhos verdes.

Wonderland, 14 de agosto de 2010.

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