Desfaz
Algo em mim mudou muito. Em poucos meses os trinta e poucos anos desabaram sobre mim como um arranha-céu sobre minha alma. Ando zen, ando ponderada, ando comedida.
Eu que sempre fui do copo cheio, do exagero, do demais, nunca do meio termo, do razoável, sempre ando puxando para o menos. Até o batom que costumava ser vermelho anda cor de boca.
A pele que costumava ser pálida anda morena, mas o filtro solar continua em tudo, mas maquiagem não existe mais. Não passo mais blush e minhas bochechas não estão mais rosadas.
Estou moderada em tudo. Não bebo demais, não sinto vontade de fugir da realidade ou de encontrar algo supra-humano em algum mundo paralelo, em algum lugar inatingível que, quem sabe em um estado misero de consciência eu pudesse alcançar.
Desisti da metafisica, desisti do sobrenatural, encontrei dentro de mim a paz que procurava, mas ainda assim deixei certa agitação de lado, guardada a parte. Eu sinto paixão e dela não me desfaço. Eu não consigo, mas depois que me tornei quem sou ninguém mais precisa mudar: eu desisto das pessoas, fico com elas ou as amo a distância, pois as guardo em algum lugar especial em meu (grande) coração.
Falta a quem doar alguns sentimentos, mas eu estou zen. Não procuro, não saio, não busco, criei o meu mundo, onde eu reino e consigo ser feliz mesmo com minhas indagações, mesmo que eu nem consiga definir quem eu sou nesta vida.
Sim, eu não sei quem sou, não sei exatamente o que quero, sei, apenas o que não desejo, sei apenas o que gosto e o que não gosto. Não tenho uma cartilha com regras e dicas a meu respeito, sei que a vida me faz e me desfaz, apenas isso.
Cláudia de Marchi
Extremamente coerente e bem escrito... a maturidade traz vantagens imensas, que as vezes as pessoas não sabem usufruir...
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