Os riscos das ditaduras
Logo cedo recebi um e-mail com um discurso do Senador Antonio Carlos Magalhães que subentendia seu pleno apoio (e necessidade de reciprocidade dele) à efetivação de um golpe militar. Não vivi a época da ditadura, mas as notícias que recebi dela não foram das melhores, ou, ainda que fossem, pessoalmente não aceito a formação de um Estado justo sem liberdade de expressão.
Muitos, porém, acreditam que a ditadura militar trouxe organização à pátria brasileira, existia menos desordem, criminalidade inferior a existente hoje, e, assim, argumentam que "aqueles foram bons tempos". Melancolia tola, desconhecimento jurídico e cultural- eis a realidade existente por baixo de tal forma de analisar um período de tantas restrições aos cidadãos de bem.
Obviamente há mais de 20 anos atrás a criminalidade era inferior a existente hoje em dia, até mesmo porque o nível populacional era menor. Contudo, a semente da desigualdade social, das injustiças sociais estão plantadas neste País há mais de 500 anos atrás, e os prejuízos que hoje são verificados nada mais são do que uma decorrência lógica de uma série de fatores preexistentes a democracia e ao Estado Democrático de Direito.
Infelizmente, muitos parentes meus que não tiveram a possibilidade de estudar, de ler, enfim, e sempre acharam correta a Ditadura que vigorou no País. Eram pessoas que pouco refletiam vez que entretidas em seus trabalhos braçais. Quem não pensa, não questiona, e quem não questiona não sente a necessidade de liberdade, tampouco de se expressar, de arte, de cultura. Como bois, algumas pessoas trabalham de cabeça baixa, sem olhar adiante ou mudar de rumo, não indagam, não refletem.
Por outro lado, muitos foram os intelectuais, jornalistas, escritores que foram exilados, muitos foram os "desaparecidos", os esquecidos pela maior parte da nação. Não muito diferente nos outros países da América Latina, e em todos os locais em que as pessoas tiveram suas liberdades fundamentais restritas.
Onde os governantes queriam ordenar um rebanho e não uma nação de seres pensantes, porém, como diria a letra da música "Disparada": "boi a gente tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente". E sim, é muito diferente. Pessoas pensam e devem pensar, questionar, lutar, se manifestar, porém mesmo podendo não fizemos porque, ainda num Estado Democrático o povo vive sob uma espécie de ditadura.
As ditaduras da mídia, do consumismo, da futilidade, da ode a bunda e aos peitos, do cultivo das aparências ordenam que o povo assista novelas, acredite em tudo que ouve, gaste seu salário no final do mês, transe muito e pense pouco, valorize mais a bunda da Juliana Paes do que a mente da Lya Luft, mais o "gatão" da novela do que o sarcasmo picante do jornalista audacioso e as poesias do Vinicius. E, assim a nação vive sem questionar. Porém, nada é tão ruim que não possa piorar, e pior que isso é a implantação de uma ditadura militar. (Caso um dia isso acontecer, faço questão de sumir, ou ser uma desaparecida, porém pensante.)
Cláudia de Marchi
Passo Fundo/RS, 21 de junho de 2006.
Logo cedo recebi um e-mail com um discurso do Senador Antonio Carlos Magalhães que subentendia seu pleno apoio (e necessidade de reciprocidade dele) à efetivação de um golpe militar. Não vivi a época da ditadura, mas as notícias que recebi dela não foram das melhores, ou, ainda que fossem, pessoalmente não aceito a formação de um Estado justo sem liberdade de expressão.
Muitos, porém, acreditam que a ditadura militar trouxe organização à pátria brasileira, existia menos desordem, criminalidade inferior a existente hoje, e, assim, argumentam que "aqueles foram bons tempos". Melancolia tola, desconhecimento jurídico e cultural- eis a realidade existente por baixo de tal forma de analisar um período de tantas restrições aos cidadãos de bem.
Obviamente há mais de 20 anos atrás a criminalidade era inferior a existente hoje em dia, até mesmo porque o nível populacional era menor. Contudo, a semente da desigualdade social, das injustiças sociais estão plantadas neste País há mais de 500 anos atrás, e os prejuízos que hoje são verificados nada mais são do que uma decorrência lógica de uma série de fatores preexistentes a democracia e ao Estado Democrático de Direito.
Infelizmente, muitos parentes meus que não tiveram a possibilidade de estudar, de ler, enfim, e sempre acharam correta a Ditadura que vigorou no País. Eram pessoas que pouco refletiam vez que entretidas em seus trabalhos braçais. Quem não pensa, não questiona, e quem não questiona não sente a necessidade de liberdade, tampouco de se expressar, de arte, de cultura. Como bois, algumas pessoas trabalham de cabeça baixa, sem olhar adiante ou mudar de rumo, não indagam, não refletem.
Por outro lado, muitos foram os intelectuais, jornalistas, escritores que foram exilados, muitos foram os "desaparecidos", os esquecidos pela maior parte da nação. Não muito diferente nos outros países da América Latina, e em todos os locais em que as pessoas tiveram suas liberdades fundamentais restritas.
Onde os governantes queriam ordenar um rebanho e não uma nação de seres pensantes, porém, como diria a letra da música "Disparada": "boi a gente tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente". E sim, é muito diferente. Pessoas pensam e devem pensar, questionar, lutar, se manifestar, porém mesmo podendo não fizemos porque, ainda num Estado Democrático o povo vive sob uma espécie de ditadura.
As ditaduras da mídia, do consumismo, da futilidade, da ode a bunda e aos peitos, do cultivo das aparências ordenam que o povo assista novelas, acredite em tudo que ouve, gaste seu salário no final do mês, transe muito e pense pouco, valorize mais a bunda da Juliana Paes do que a mente da Lya Luft, mais o "gatão" da novela do que o sarcasmo picante do jornalista audacioso e as poesias do Vinicius. E, assim a nação vive sem questionar. Porém, nada é tão ruim que não possa piorar, e pior que isso é a implantação de uma ditadura militar. (Caso um dia isso acontecer, faço questão de sumir, ou ser uma desaparecida, porém pensante.)
Cláudia de Marchi
Passo Fundo/RS, 21 de junho de 2006.
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