Pessoas e coisas
Pessoas não são coisas. Com coisas nós assumimos o dever de cuidado, com pessoas assumimos a obrigação de respeito, a responsabilidade pelos reflexos que nossas ações terão em seu caráter – isso, em especial, em relação àqueles que cativamos e que nos cativaram.
Pessoas podem ser deixadas, podem ficar para trás em nossas vidas, mas não são substituíveis como um objeto. Não substituímos um amor por outro. Existem, inclusive, amores inesquecíveis e que jamais poderão ser “trocados”, amores que viverão eternamente em nossa memória, lembranças que uma amnésia pode levar da consciência sem jamais apagar suas marcas de nossas almas.
Pessoas sentem, seres humanos têm alma. Apenas quem sabe da responsabilidade que precisa ter com seu semelhante se torna um individuo digno. Digno de viver a vida que ganhou e gozar as oportunidades que possui, inclusive, as de mudar, as de escolher um caminho melhor para se viver. Todavia tal responsabilidade é ensinada pelos pais aos filhos.
Aqueles que vêem ao outro como uma coisa não respeitam o sentimento alheio, não tratam ao outro com respeito. É o marido estúpido, o filho mimado que maltrata os próprios pais, é a moça fútil que valoriza mais seu corpo do que as pessoas que lhe prezam.
São também, os marginais que matam crianças, os estupradores, os assassinos, os latrocídas, os velhacos, aqueles que roubam a vida, o coração e o amor do outro para depois lhes abandonar por mero capricho e egocentrismo. Todos esses acham que seres humanos são meros objetos.
Pessoas merecem respeito, merecem afeto, atenção, amor, do instante em que nascem até ao que deixam o mundo. Todavia, aqueles que foram tratados como coisas na infância tendem a tratar os outros como tais na fase adulta. E é ai que começa o perigo. O maltratado aprende a maltratar, o mal amado só a mal amar.
É por estas e outras razões que não basta ter braços, pernas e cérebro para ser uma pessoa. É preciso, desde a concepção, ter sido tratado como um ser dotado de sentimentos e que, inerentemente, carece de amor e carinho, pena de se estar criando seres piores do que coisas, afinal estas não fazem ferem ao outro, não agem, não reagem e pessoas criadas como elas adquirem um “que” de monstruosidade, algo próprio de seres maléficos e impiedosos.
Criar e educar pessoas é responsabilidade dos pais. Talvez por isso eu pense que o aborto “solucione” algo: evita que mães que não desejam ter filhos, deem à luz e criem indivíduos em meio à violência, ao desamor, por não possuírem condições psíquicas e materiais para a maternidade. Afinal, não basta ter ovários e úteros sadios para poder ser mãe - a maternidade requer vocação e esta implica em vontade, aliada a uma mente e condições financeiras saudáveis.
Mas vêm as religiões: “matar é pecado capital”, “a mulher vai para o inferno”, “a mãe esta adquirindo um carma e vai padecer”, etc. Todavia, quem diz que não é pecado ou que não se cria um “carma” ao trazer ao mundo uma pessoa e abortar dela alguns direitos essenciais: o direito de ser desejada, esperada, amada, acarinhada, abraçada e educada em meio a princípios morais, enfim, em lhe tirar o direito de, desde a concepção, ser tratada e cuidada com dignidade, e, portanto de tê-la?
Porém, a “questão” não é aborto, não é o amor, é simplesmente a verdade: pessoas devem ser educadas, devem ser amadas para aprenderem a amar e para que a “coisificação” dos direitos e da vida humana finde, porque, infelizmente, hoje em dia existem muitos seres achando que os outros são coisas. Coisas de pouco valor, o que é ainda mais lamentável.
Concórdia/SC, 14 de fevereiro de 2007.
Cláudia de Marchi
Pessoas não são coisas. Com coisas nós assumimos o dever de cuidado, com pessoas assumimos a obrigação de respeito, a responsabilidade pelos reflexos que nossas ações terão em seu caráter – isso, em especial, em relação àqueles que cativamos e que nos cativaram.
Pessoas podem ser deixadas, podem ficar para trás em nossas vidas, mas não são substituíveis como um objeto. Não substituímos um amor por outro. Existem, inclusive, amores inesquecíveis e que jamais poderão ser “trocados”, amores que viverão eternamente em nossa memória, lembranças que uma amnésia pode levar da consciência sem jamais apagar suas marcas de nossas almas.
Pessoas sentem, seres humanos têm alma. Apenas quem sabe da responsabilidade que precisa ter com seu semelhante se torna um individuo digno. Digno de viver a vida que ganhou e gozar as oportunidades que possui, inclusive, as de mudar, as de escolher um caminho melhor para se viver. Todavia tal responsabilidade é ensinada pelos pais aos filhos.
Aqueles que vêem ao outro como uma coisa não respeitam o sentimento alheio, não tratam ao outro com respeito. É o marido estúpido, o filho mimado que maltrata os próprios pais, é a moça fútil que valoriza mais seu corpo do que as pessoas que lhe prezam.
São também, os marginais que matam crianças, os estupradores, os assassinos, os latrocídas, os velhacos, aqueles que roubam a vida, o coração e o amor do outro para depois lhes abandonar por mero capricho e egocentrismo. Todos esses acham que seres humanos são meros objetos.
Pessoas merecem respeito, merecem afeto, atenção, amor, do instante em que nascem até ao que deixam o mundo. Todavia, aqueles que foram tratados como coisas na infância tendem a tratar os outros como tais na fase adulta. E é ai que começa o perigo. O maltratado aprende a maltratar, o mal amado só a mal amar.
É por estas e outras razões que não basta ter braços, pernas e cérebro para ser uma pessoa. É preciso, desde a concepção, ter sido tratado como um ser dotado de sentimentos e que, inerentemente, carece de amor e carinho, pena de se estar criando seres piores do que coisas, afinal estas não fazem ferem ao outro, não agem, não reagem e pessoas criadas como elas adquirem um “que” de monstruosidade, algo próprio de seres maléficos e impiedosos.
Criar e educar pessoas é responsabilidade dos pais. Talvez por isso eu pense que o aborto “solucione” algo: evita que mães que não desejam ter filhos, deem à luz e criem indivíduos em meio à violência, ao desamor, por não possuírem condições psíquicas e materiais para a maternidade. Afinal, não basta ter ovários e úteros sadios para poder ser mãe - a maternidade requer vocação e esta implica em vontade, aliada a uma mente e condições financeiras saudáveis.
Mas vêm as religiões: “matar é pecado capital”, “a mulher vai para o inferno”, “a mãe esta adquirindo um carma e vai padecer”, etc. Todavia, quem diz que não é pecado ou que não se cria um “carma” ao trazer ao mundo uma pessoa e abortar dela alguns direitos essenciais: o direito de ser desejada, esperada, amada, acarinhada, abraçada e educada em meio a princípios morais, enfim, em lhe tirar o direito de, desde a concepção, ser tratada e cuidada com dignidade, e, portanto de tê-la?
Porém, a “questão” não é aborto, não é o amor, é simplesmente a verdade: pessoas devem ser educadas, devem ser amadas para aprenderem a amar e para que a “coisificação” dos direitos e da vida humana finde, porque, infelizmente, hoje em dia existem muitos seres achando que os outros são coisas. Coisas de pouco valor, o que é ainda mais lamentável.
Concórdia/SC, 14 de fevereiro de 2007.
Cláudia de Marchi
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