Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Remédios amargos

Remédios amargos

Se é verdade que quase todo remédio ou xarope não possuem gosto agradável, é fato que as maiores lições que aprendemos na vida são tiradas de experiências um pouco dolorosas, sejam elas oriundas de fatos ou, enfim, sejam aquelas que são apreendidas quando ouvimos palavras que a priori nos ferem.
A gente costuma crescer muito mais através das experiências duras e da assimilação de argumentos verdadeiros e que nos maculam o orgulho do que através de acontecimentos alegres e palavras doces que, muitas vezes, podem ser falsas. É amargo o remédio para nossa ignorância psíquica.
“A verdade dói”, afirmam alguns. Na realidade a verdade não dói na alma, ela faz o nosso orgulho se contorcer de dor. Todavia, o orgulho é o defeito que mais afasta o ser humano da evolução e do crescimento pessoal, é mais que um indício - é prova de nossa ignorância mental. Logo, bom mesmo é ouvir aquilo que o fere, e depois parar, analisar, assimilar para ver o lado útil daquilo que, inicialmente nos fez sofrer.
(A mentira, por outro lado, fere nossa alma. É por isso que prefiro ouvir verdades a saber que algumas pessoas crêem em fatos mentirosos a meu respeito, ou, enfim, me dizem inverdades.)
Pois bem, o cerne desta crônica é a constatação de que por mais amargas que podem ser algumas palavras se baixarmos a guarda tosca de nosso orgulho, certamente, poderemos erguer uma bandeira mais suave onde se poderá ler: Aqui tem alguém que ouviu o que não quis e fez bom uso disso.
Dificilmente queremos ouvir o que nos desagrada, mas a vida costuma nos desagradar mais do que agradar. Vamos pisar mais em espinhos e pedras, ultrapassar esgotos fétidos do que andar sobre pétalas de rosas cheirosas. E esta é sua graça.
Enfim, a vida e as experiências que ela nos traz são de valores imensuráveis. É justamente por ser mais dura do que fácil que ela tem uma graciosidade imensa, e as coisas mais singelas e simples apresentam grande beleza e encanto, como por exemplo, os sentimentos mais nobres que podemos sentir.
Nada como saber que somos amados, que temos uma família que nos quer bem, pessoas que torcem pela nossa felicidade, que temos quem pense em nós com carinho e estima. Nada como ter a quem amar, com o que sonhar, nada como acordar de manha e saber que mesmo com muitos problemas a nossa espera temos um trabalho, uma ocupação que ainda que nos traga preocupações nos dá a possibilidade de ter um lar para voltar à noite e onde podemos dormir aquecidos e com o estômago farto.
Enfim, nas adversidades conhecemos nossa força, e através delas nos tornamos mais fortes. O dinheiro os ladrões podem levar, a beleza o tempo pode diminuir, mas a sapiência adquirida na vida é patrimônio eterno em nossa alma ainda que seja adquirida e constatada depois de algumas lágrimas.

Concórdia, 23 de maio de 2007.

Cláudia de Marchi

O terror da realidade

O terror da realidade

Não é mais preciso que Hollywood invista na realização de filmes de terror. A realidade social esta, cada dia mais, atemorizante, assustadora. Basta que liguemos a televisão para assistir um telejornal, ou que abramos um jornal para verificarmos que existe algo de muito errado pelo mundo - a violência e o desamor crescendo de forma assustadora.
Crianças morrendo pelas mãos de outras crianças, balas perdidas levando vidas cheias de futuro e corações imersos em esperança e sonhos. Assistindo a um telejornal hoje pela manha vi algo muito mais aterrorizador do quem um filme de terror.
Mais assustador, mas muito, muito mais triste e lamentável justamente por ser o retrato da realidade. Onde esta a justiça neste mundo? Onde esta o amor e a compaixão na vida humana? Eu não sei, mas me alegro por saber que não corrompi o meu pensar nem perdi a capacidade de me indignar, tampouco consigo aceitar o inaceitável.
Burocracia nas atitudes e impiedade na alma eis um dos empecilhos para a mudança. As pessoas, em especial os juristas tergiversam a respeito da punibilidade de menores de idade dizendo que em nada mudaria na diminuição da violência. Ora, como saber se nenhuma atitude se toma, se nada se faz?
Talvez estes juristas de mente hipócrita e demais cidadãos de pouco raciocínio mudassem seus pensamentos se tivessem o filho, pai ou esposa com a vida findada pelas mãos de um menor de idade. Pena é castigo, retribuição leve ou pesada conforme o agir de alguém. Se todos, quando crianças recebem reprimendas, porque não reprimir o menor de idade assassino?
Se não forem tomadas atitudes sérias em matéria de repressão penal, se presídios não estiverem na lista de empreendimentos de governos ao lado de hospitais e escolas essa situação constante de impunidade não irá mudar. E é a certeza de impunidade que cria nos cidadãos mal intencionados a idéia de liberdade para agir. Agir em detrimento da liberdade, vida e direitos alheios.
Espero um dia poder ligar a televisão pela manha e não ter a sensação de desilusão que me faz afirmar com lamento: “Este mundo esta no fim.” Afinal, o mundo não vai acabar. O que esta no fim é a paciência de alguns, a esperança de outros e a certeza de punição dos bandidos da nação, quer eles usem ternos importados ou roupas sujas.

Cláudia de Marchi

Concórdia, 23 de maio de 2007.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Das vestes do herói às ilusões humanas

Das vestes do herói às ilusões humanas

Muito interessante o filme “Homem Aranha 3” Conflitos interiores dentre outros assuntos interessantes são abordados no filme que toca, que “chega” ao íntimo das pessoas por falar de coisas humanas: de defeitos humanos, de enganos, de mancadas, de problemas raros e corriqueiros. De frustração, por exemplo.
Ainda que conte a história de um super herói, o filme trata do lado humano, e não supra-humano do personagem principal e dos demais, logicamente. Heróis ou não, com super-poderes ou sem eles, todos são mostrados como indivíduos passiveis de erros, mesmo na busca pelo acerto, como é o caso do homem que se torna areia. Este eu apelidei de “Homem Areia”, e, confesso, simpatizei com ele.
“Ele” é o ladrão que acabou cometendo homicídio por medo, pavor e vergonha. Por estar num lugar que não desejava, fazendo o que jamais sonhara- roubando- para salvar a filha doente. Gostei mesmo do “Homem Areia”.
O até então jovem e simplório “aranha” descobre uma nova roupa feita de um material que lhe faz sentir mais poderoso. Que, de uma forma simbiótica se alimenta de seu orgulho e presunção, alimentando nele as ilusões de tais sentimentos. Como uma provação à força interior do herói o material daquela roupa lhe perseguiu e, num momento de fraqueza, se apoderou de seu corpo lhe dando o calor do auto-engano.
A roupa faz do Homem Aranha já um pouco “convencido” por se sentir uma “estrela” nova-iorquina um cidadão insuportável, demasiado orgulhoso por seus poderes. Um homem banal, tolo de tão auto-suficiente e egoísta.
Pois bem, ainda que não sejamos super-heróis americanos, praticamente invencíveis e imortais, esta máscara, ou melhor, as “vestes” do orgulho e da presunção estão ai, correndo atrás de nós para que as vistamos e vivamos uma vida cheia de arrogância e presunções, mas solitária, vazia, sem amor, sem carinho, sem estima alheia, sem auto-estima.
Uma vida calcada na ilusão de que somos superiores aos outros, logo uma vida sem sentido algum. O filme, porém, mostra que mesmo que estejamos imersos na crença de que somos mais poderosos, mais belos, mais ricos, mais fortes, mais competentes que os outros, palpita em nós uma semente do bem.
A semente da humildade que nos possibilita a auto-análise e a constatação de que estamos vivendo uma vida real baseada em idéias surreais. E, é através dessa semente, fertilizada no solo de nossa consciência, que podemos, sempre, mudar.
Basta, pois que queiramos deixar para trás nosso orgulho e todas as idéias ilusórias que nos levam, apenas, para o caminho da dor e da solidão. Ninguém agüenta pessoas egoístas e arrogantes. Nem elas mesmas, basta que dêem um pouco de espaço para sua consciência lhes falar.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 16 de maio de 2007.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Reclamações vazias

Reclamações vazias

A gente chora com a barriga cheia porque não sabe o que é te-la vazia. A barriga, os mais atentos sabem, é apenas uma forma de expressão. A gente chora mesmo tendo boa saúde e força, mesmo tendo um amor, uma família que, mesmo imperfeita, nos ama da sua forma, ainda que nem sempre esta maneira nos agrade, mas eles nos amam. A família é o berço de nossa imperfeição e fonte geradora de muitas mágoas, mas é um lugar onde o amor sentido pelos imperfeitos costuma vicejar.
Viver é conviver com o desagrado sem esmorecer, desistir ou se abater. Todavia, deveríamos assumir uma postura mais respeitosa perante a vida e as dores que estamos sujeitos a ter e que outros, muitas vezes, estão enfrentando. Esta postura implica em analisar a realidade dos que sofrem por motivos realmente graves e calar nossa boca acostumada a reclamar em demasia e a agradecer pouco às benesses que a vida nos deu.
Esta semana fiquei sabendo da morte de duas pessoas conhecidas. A de uma bela jovem de 26 anos e a de uma mulher, igualmente lindíssima e inteligente com mais de 50 anos. Ambas, pela mesma causa. Da mesma maneira fiquei agoniada ao saber que uma prima mais do que querida pode ter o mal que levou as duas mulheres conhecidas.
Enfim, em meio a tantas misérias realmente graves, - num mundo onde basta olharmos para o lado para vermos pessoas perdendo quem amam, mães enterrando filhos vítimas da violência, filhos enterrando pais adoecidos que desejariam ver seus netos crescerem, para vermos seres que não tem o básico para bem viver, que dormem ao relento, que mechem em lixos buscando comida- a gente ousa reclamar.
Como temos coragem para reclamar, do alto de nossa boa saúde, embaixo de nossos cobertores quentinhos onde dormimos cientes de que quem amamos dorme no quarto ao lado, ou ao nosso lado? É preciso ter uma infeliz coragem para reclamar da vida quando se tem apenas probleminhas contornáveis, enquanto outros não têm para comer o resto do que guardamos para nossos cães ou deixamos estragar na geladeira.
Se olharmos para os lados com o coração aberto veremos que existem aqueles que não tem carro, aqueles que não tem motocicleta ou uma bicicleta para andar. Existem, também os que não possuem dinheiro para comprar passagem de ônibus. Mas, também há aqueles que não podem andar. Enfim, sempre existirá alguém numa posição mais pesarosa, mas que, às vezes não deixou de perder a fé e o humor nesta vida.
Precisamos aprender a olhar para os lados e a agradecer todos os dias pela saúde que temos, pelas pessoas que Deus colocou em nossa vida, por aqueles que nos estimam e amam. Quem não acredita em “Deus” que mostre sua gratidão através de sorrisos, e de demonstração de afeto perante a vida. Nós estamos bem, muito bem. Sempre existirá quem esteja melhor, mas, uma grande maioria, que esta em situação muito, muito inferior a nossa. Então vamos nos calar, se não tivermos nada de bom para falar.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 15 de maio de 2007.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Aceitação

Aceitação

Todo homem tem dificuldade para aceitar a não aceitação alheia de sua personalidade, dele enfim. Todavia é uma realidade nessa vida: É impossível ser querido, bem quisto ou admirado por todos.
Sempre vão existir aqueles que, por um motivo ou outro, ou, simplesmente, sem motivo algum vão nos criticar e, quiçá, desdenhar. Todavia, as pessoas têm a importância que nós damos a elas.
Ninguém é importante, ou especial, ao menos que nós lhes dê importância, ao julgando relevantes suas idéias ou opiniões. Logo, depende de nós nos deixarmos abalar ou não com a opinião de certos indivíduos à nosso respeito.
Nem Cristo foi acreditado e querido por todos, não existe como nós desejarmos que as pessoas nos aceitem, ao menos que estejamos muito longe da sanidade, da realidade do mundo, portanto. Mas, é, sem dúvida, difícil aceitar nossa não aceitação alheia quando não vemos motivo para ela.
Viver, porém, é uma escola na qual estamos em constante aprendizado, e aprender a não dar importância para o que pensam aqueles que não nos querem bem é uma lição que devemos ter se quisermos ter harmonia psíquica e espiritual em nossa existência.
Vamos valorizar quem nos dá valor e as opiniões de quem nos quer bem, porque apenas estes devem ter importância em nossa vida. Para aqueles que nos criticam, tendo ou não justificativa para tanto, o melhor a fazer é ignorar.
As pessoas deixam de existir, e, consequentemente de ter importância e nos macular a paz quando passamos a ignorá-las. Deixar de lado, ignorar, enfim, é uma forma que temos de deletar, de “matar” de nossa vida quem não nos gosta e, consequentemente, não merece nossa estima. A vida é curta para perdermos tempo com tais pessoas.
Vamos estimar, valorizar, acarinhar, amar e dizer o que sentimos (enquanto temos tempo) para quem nos admira e nos aceita como somos. Viver bem é saber a quem devemos dar importância e estes são, sempre, aqueles que nos estimam. Os outros, já que respiram e existem, devem, ao menos ser excluídos de nossa mente.

Cláudia de Marchi

Concórdia, 09 de maio de 2007.


segunda-feira, 7 de maio de 2007

Desconfortos existenciais

Desconfortos existenciais

Existem momentos em nossas vidas em que paramos pára pensar, ou porque algo nos descontenta, ou, simplesmente, pensamos em algo e nos sentimos descontentes. Mas, de fato, a ordem das ocorrências não altera seu produto- uma imensa sensação de que, como peças em um jogo, fomos colocados no lugar errado, fazendo funções que não seriam as nossas.
Todavia, (ora, ora) por algum motivo estamos aqui: Nesta vida, fazendo o que escolhemos, independente das contingências que influenciaram nossas opções, afinal, em algum momento tivemos plena convicção do que desejávamos e do caminho que queríamos trilhar. E, então, porque agora nos sentimos perdidos? Simplesmente porque o baile não esta como desejamos.
Independente da educação, do sofrimento e do aprendizado que o homem teve em sua vida todos te m em comum uma característica - em menor ou maior "grau" todos são contentes quando "tudo" esta bem. Percalços, dificuldades, e enfim, outras "cositas" que diminuem sua sensação de prazer (ou a esperança de tê-lo), bem como seu orgulho, o torna vulnerável a sensação de desconforto, enfim, ao descontentamento com sua vida, seja ela profissional ou afetiva.
O homem tem uma grande frustração- o fato de ser humano. De ser errante, de não ser Deus, e, portanto, de não poder lograr êxito em todas as suas pretensões, de não ter podido, no passado prever o presente, e no hoje saber como será seu amanha. Esta sensação causa ansiedade que, por sua vez, como uma pequena pulguinha na roupa de uma pessoa grande, começa a causar um imensurável desconforto. Um desconforto desproporcional em relação a força que, mesmo sendo errante, o homem possui e precisa para, nos momentos de dúvida e incerteza, resgatar a alegria de ser quem é, fazer o que faz e viver como optou por viver.
Portanto, para viver bem e ser feliz na maior parte de seus momentos o homem tem que aprender a reviver: A reviver sensações e esperanças, a pensar hoje naquela motivação que teve para colocar-se onde se colocou, e, assim, imergir-se em fé para continuar buscando, lutando e vivendo, da forma mais contente possível consigo mesmo e com as decisões que outrora tomou. Desistir, jamais, mas, adaptar-se é uma questão de sobrevivência. E um fator de inteligência para quem não quer ter uma vida frustrada.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 07 de maio de 2007.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Os interessados na vida alheia

Os interessados na vida alheia

É incrível como algumas pessoas possuem interesse na vida alheia. O interesse é tanto que às vezes me parece que estão mais preocupadas com a forma de viver, sentir e pensar dos outros do que com o seu próprio. E é, infelizmente é verdade tal fato.
São pessoas frustradas, covardes e invejosas que não possuem vontade de olhar para si mesmas, não possuem sequer coragem para encarar seu íntimo que, como o de todos e mais ainda do que o dos que criticam, é imperfeito e errante.
Graças a este tipo de ser que o mundo não evolui, afinal uma forma de cada ser humano contribuir para a melhora do mundo é melhorando-se a si próprio. Ora, mas quem vive para apontar os defeitos alheios, para criticar a vida alheia, possui alguma utilidade? Infelizmente não. Neste conceito de auto-aprimoramento em prol da melhora “geral” não.
A vida não é exatamente uma peça de teatro por faltar-lhe previsibilidade, mas, sempre existem alguns expectadores que passam metade de sua existência olhando, analisando, criticando e julgando a vida dos outros. Como se observar o mundo alheio fosse uma “profissão” acabam esquecendo de construir sua própria história e curtir sua vida.
Os outros são os errados. Os outros são os imorais. Os outros são os hipócritas. Os outros são os tolos. Os outros, na verdade, são os que vivem. Os que são astros em suas próprias vidas, e não meros expectadores e críticos do viver alheio.
Viver intensamente implica em muitos acertos, algumas mancadas e outros errinhos. Mas, é a vida, e, como diria Gonzaguinha, “é bonita e é bonita”. Feio é criticar à quem não se conhece, é julgar as atitudes alheias e a vida de quem esta vivendo. Bem, ou mal, esta vivendo a sua vida.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 04 de maio de 2007.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Indecentes

Indecentes

É incrível, mas indecência hoje em dia não é apenas sinônimo de cenas de amor picantes, de beijos indecorosos ou sexo despudorado. Indecente mesmo é a moral de algumas pessoas.
Indecentes são ministros venderem liminares, indecente é o agir de advogados ao se apropriarem do dinheiro de clientes, indecente é o roubo cometido por quem conhece a lei. Ética não se aprende na faculdade, ou se têm ou não. Vem de berço.
Indecoroso, imoral, indecente, inaceitável é um jovem de 17 anos que iniciou um roubo acabar matando duas pessoas e dizer que sabe que “menor não fica preso” (em presídio comum nem pelo tempo previsto para crimes cometidos por maiores de idade).
Indecente é alguns juristas acharem que a menoridade penal não deva ser diminuída num País em que crimes bárbaros são cometidos por menores de idade que possuem a crença de que sua penalidade é mínima. É, além de uma lei jurídica um preceito divino: “dar a cada um o que é seu”.
Ao bandido, jovem ou não, deve ser dada punição. Ao criminoso - ministro, ladrão de galinha ou colarinho branco - todas as penalidades necessárias para retribuir o mal que causaram à sociedade. Mas com justiça e coerência de forma que, aqueles que sabem o que fazem e o fizeram mais por ganância do que necessidade merecem ser punidos com mais rigor.
Nenhuma nação em que apenas os famosos “3 p” (pobres, pretos e prostitutas) vão para a cadeia pode crescer. A Justiça deve ser igualitária, sempre, obviamente, respeitando o trato diverso dentre os desiguais. Justiça? Judiciário? Onde foi parar a credibilidade da nação neste Poder que também se corrompe?
Não se sabe. “Sou brasileiro e não desisto nunca”, eis “a frase”. Acho que é preciso ser fé para ser brasileiro. Apenas por isso que não se desiste de votar, de ter esperança, e, obviamente de se recorrer e confiar no Judiciário. A gente tem fé, a gente tem esperança.
Guardo no meu coração a esperança de que não serei assaltada ao chegar em casa de táxi após voltar de uma outra cidade onde trabalho com esmero e honestidade, guardo a esperança de que o carro de meu namorado não seja furtado após 6 horas na frente de minha casa. Guardo, pois, a esperança de que existirá “justiça” nas decisões judiciais, se não em primeira, em segundas ou terceiras instâncias.
Enfim, enquanto houver fé no coração do brasileiro a gente supera a existência dessas pessoas indecentes, falsas, hipócritas e desonestas que querem fazer da nação uma imensa zona. Algumas vezes eu tenho certeza que o Brasil é um prostíbulo de 3ª classe, mas, em outras a fé no futuro e nas boas pessoas me faz mudar de idéia. E assim é a vida do brasileiro: um dia de descrença, seis de crença para poder dar uma risada no fim de semana e no final de cada dia (destes seis, é claro).

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 03 de maio de 2007.

CAROS LEITORES

AS QUATRO CRÔNICAS ABAIXO FORAM ESCRITAS ENTRE 2005 E 2006 E MOSTRAM UM POUCO DE MINHA INDIGNAÇÃO COM A CRENÇA CATÓLICA, SUAS HIPOCRISIAS E O "ORGULHO" LAMENTÁVEL DE ALGUNS "CRENTES" QUE FALAM NO "BEM" E, NO ENTANTO, FAZEM O MAL ATRAVÉS DE PEQUENOS (OU GRANDES) ATOS EXTREMAMENTE LASTIMÁVEIS.

Factorings e Igrejas

Factorings e Igrejas

Um amigo me disse que esta surpreso com a quantidade de factorings que abriu na cidade, além de financeiras e "afins". Eu, há tempos venho me surpreendendo com a quantidade de "igrejas", templos e, até mesmo, religiões que surgiram, além, obviamente do maior número de fiéis que as procuram.
Sem dúvida o dinheiro é uma necessidade, principalmente nos dias de hoje em que o supérfluo vem se tornando necessário, e as dívidas, conseqüentemente, se avultam de forma que recorrer a empréstimos de dinheiro é um "elixir" para um mal de causas confusas, contudo, óbvias quando se pára para pensar nelas.
Na realidade me preocupo muito menos com o aumento do número de factorings e financeiras do que com o aumento do número de igrejas, religiões e crentes. O que mais me faz lastimar no mundo, na verdade, não é o excesso de fé em alguém (em alguma religião, por exemplo), mas a falta de fé do homem em si mesmo, a falta de inteligência humana, a capacidade vã de acreditar sem questionar, sem refletir "sobre" o que lhe é dito, sobre a antinomia histórica, no agir e nas pregações dos "superiores religiosos" (e na religião em si).
O que mais me aterroriza não é ver o governo roubando, a caterva no senado (que o povo iludido- como sempre- elege). Mas é constatar que a sociedade acredita demais - Acredita nas falácias dos governantes, dos padres, dos pastores, dos "pais-de-santo", daqueles, pois que apregoam saber, conhecer mais, que pregam, que dizem o "agradável" para conquistar sua confiança, sua subordinação, para manter a tendência social-cultural de cultivo a letal "ausência de confiança do homem em si mesmo". Lastimo ir na missa e ver as pessoas com olhar vazio de crentes que acreditam mais no padre ou no papa do que em si mesmos.
Radical? Pode ser que eu seja. Racional?Sim, e muito, graças a Deus. Fé? Muita, em mim e em Deus. Não preciso de mestres, não preciso confessar pecados, eu os conheço e não os denomino como tais. São falhas, erros "demasiado humanos" (usando parte de título de obra de Nietzsche), que acabam por me ensinar algo válido. Vivo como cristã herege. Não rezo "Creio em Deus Pai", porque nele eu acredito, mas duvido muito da "Santa Igreja Católica" (Santa?).
(Ou de qualquer religião ou pessoa que não mostre ao homem quão forte ele é e que não lhe diz: "Antes de crer em algo, creia em você, antes de amar a alguém ou a algum Deus, ame a ti, antes de desejar respeito, respeite, antes de conhecer algo, conheça a ti mesmo e não deixe que ninguém te mande ou doutrine. Ame a si e a vida que estarás sendo grato à Deus, sem cantorias, sem exaltação, ser feliz é a melhor oração, respeitar quem lhe cerca o maior sinal de amor à divindade.)
Se todo o homem acreditasse em si mesmo, estudasse a história, questionasse, fosse livre, mentalmente liberto de dogmas, de ensinamentos inúteis que serviram para domesticar seu cérebro, certamente seria "perigoso". Pensar é um perigo, questionar é uma afronta, ao governo, ao Poder, a Igreja, aos padres, aos pastores e demais "mestres" assim tomados porque o cidadão não vê que a sua mente deveria ser seu melhor guia, e a busca pelo conhecimento, a leitura e o estudo seu mais rico caminho. (E que venha a fogueira: sou perigosa - herege sim, "graças ao Senhor!").


Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 18 de abril de 2006.

Sexo, padres e pecado

Sexo, padres e pecado

Como se não bastasse eu ter assistido uma missa de bodas sexta, sábado à tarde dormia como um anjo em minha agradável caminha para descansar para a formatura de uma prima, quando fui chamada a ir na minha vó paterna, ao lado de minha residência, assistir uma missa particular que meu tio (irmão da minha avó) iria realizar, como não me restou outra opção fui, e para me animar ainda mais, tive que fazer uma leitura que falava sobre a imoralidade dos "fornicadores" que ofendem a Deus. Em seus comentários meu tio disse que "é claro que o sexo no matrimonio é sagrado", mas a falta de pudor, as seduções, são ofensas a nosso corpo que é "divino".
Eu, de acordo com suas explanações, seria uma herege imoral, amoral, indecente, e pecadora, fadada a arder nas chamas quentes do "inferno católico". Oh, caros padres, me sinto elogiada e envaidecida com tais qualificações, porque, para mim, imoral e indecente é o orgulho, a arrogância, a prepotência, a falsidade, a ganância cega (falando nisso, não foi a ganância da Igreja que vendia "indultos" aos pecadores que revoltou Lutero?). Enfim, com tantas coisas ruins no mundo afora, estaria Deus preocupado com o que eu faço entre quatro paredes (ou ao ar livre)? Creio que não, ao menos que se trate de uma "divindade" recalcada e com problemas sexuais, que tem inveja daqueles que possuem um desempenho sexual "informal".
Existem várias pessoas "papa-hóstia" que saem da missa para falar mal da vida alheia, daquelas criaturas alegres que fazem de seus corpos e vida o que bem entendem, mas vivem honesta e dignamente, existem as que vão a missa dar dinheiro para "obras" para serem chamadas de "boas pessoas" enquanto desfilam seus trajes arrumadinhos e, na primeira oportunidade, criticam, falam mal pelas costas enquanto tratam pessoalmente, que são preconceituosas, discriminadores e falsas. Se Deus existe ele não precisa de representação (aliás, como advogada gostaria que o Vaticano e o Papa me mostrassem a procuração do Arquiteto do Universo para que ele o represente), se existe o perdão ele é obtido sem precisar de confissão, mas nunca sem uma pena terrena em contra-partida.
Deus inventou o homem e a mulher e seus sexos, deu ao homem a inteligência e, conseqüentemente, a criatividade, então, a "imoralidade" foi uma conseqüência da criação divina, vez que se liga a mente criativa do ser humano. Detesto a palavra pecado, detesto a palavra "perdão" que os papa-hóstia adoram falar. Existe o erro, existe o perdão, mas existe a lei universal da ação e reação, Deus perdoa, mas faz o homem pagar pelos seus erros, ainda que reze o "terço" 15 mil vezes por dia, e esta é a graça da vida, é ver o orgulhoso e arrogante se humilhar, o rico ficar pobre, a beata solitária, rezando 70 pais-nossos porque pensou em segurar na mão algo que não seja um rosário, orando e visando o perdão para tal fato sem refletir sobre as 30 pessoas que criticou durante o dia como se fosse um ser humano superior.
Amoral e indecente é o orgulho, o egoísmo, é não saber respeitar as diferenças, e, respeitar o outro é amar. Quem critica, quem não tolera pessoas de outras crenças, cores e classes sociais não respeita, não ama, fala de um Deus que desconhece, lê uma bíblia que não compreende, escrita por indivíduos humanos, e, portanto passíveis de erro. Jesus nada escreveu, quem o fez foram indivíduos que puderam deturpar suas palavras conforme seus desejos. Bom é aquele que "não faz para os outros o que não deseja que lhes façam", este é o único e maior mandamento.
Trair é pecado, sexo não.Ignorar as pessoas, criticar os "diferentes", maldizer os semelhantes, é falta de respeito, de amor no coração, fazer sexo anal, oral ou seja o que for não é.Não ter amor próprio é errado, confiar em si mesmo não, afinal, o maior sinal de amor ao criador é o amor a criatura, a nós mesmos, e aos outros, que demonstramos através do respeito.
Então, caro padre, me desculpe, mas não sou eu a "fornicadora pecadora", mas as celibatárias pudicas que trazem o mel na boca e o fel no coração, que comem hóstia e vomitam orgulho e prepotência, que rezam pedindo perdão mas não mudam, não se aprimoram, e ignoram que o inferno é onde estão aqueles que pagam as maldades que pensam e fazem, e que ele não é abaixo da terra, mas aqui mesmo ("senão nesta, numa outra, todos pagam" como diria minha tia), estas sim erram, e se pecado existe, são estes os seres pecadores, os que fazem aos outros o que não gostariam que eles lhes fizessem.


Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 16 de janeiro de 2006.

A fé narcisista

A fé narcisista

Assim como as crianças precisam de "limites", nossos sentimentos, nossos gostos, nossa forma de ser e pensar necessita de moderação sob pena da razão ceder lugar ao exagero cego e tolo, que demonstra quão estúpidos podemos ser. Até mesmo as virtudes dentro de sua nobreza necessitam ser moderadas, posto que tudo o que ultrapassa certo limite torna-se algo problemático. O mesmo ocorre com a fé, com a religiosidade que, em demasia, demonstra a ausência de racionalidade proveniente do pouco auto-conhecimento e estima por si mesmo do individuo.
Em um de seus aforismos Nietzsche diz que é preferível ser muito cético do que muito crédulo. Analisando as condutas dos "crentes" (aqueles que crêem em algo com convicção) percebo que o filósofo não estava errado, pois verifico quão "sem razão" se torna a análise que fazem da vida e suas contingências, a irracionalidade lhes levam a uma visão maniqueísta do mundo, em que, de um lado encontra-se o bem e do outro o mal e que eles, logicamente, encontram-se inseridos no bem, sendo, via de regra, perseguidos pelas maldades alheias. Enfim, passam a crer que todo bem provém de sua "fé" e todo mal é oriundo de outrem, de magias, de existências sobrenaturais, enfim, eles nunca são ruins, os crentes crêem-se perfeitos, ou quase perfeitos, porque são "humildes em sua fé", resignados como um rebanho de ovelhas.
A palavra "religião" significa "re-ligar", re-ligar o homem a Deus, ocorre que a fé irracional, demasiada, exagerada acaba afastando os homens que fazem de sua crença motivo de discussão, pois precisam da concordância de quem lhes cerca, o que demonstra que nada existe de humilde na obstinação religiosa que precisa da concordância e de aplausos alheios. O homem mais sábio que já encarnou nesse mundo- Jesus Cristo, pregava a importância da união, do amor e respeito entre as pessoas não lhes obrigando a crer naquilo que dizia, não impunha sua fé, era brando, pacifico e não irracional e narcisista como certos crentes.
A fé narcisista quando se depara com o espelho conclui: "não existe crença melhor que a minha,fé maior e mais bela, religião mais correta". Eis o orgulho do crente, que tentando se religar a um ente invisível afasta-se de si mesmo, afasta-se de quem lhes cerca imerso em obstinação. A racionalidade esta na auto-análise, na sapiência demonstrada com a consciência de que se alguém é culpado por algo somos nós mesmos, com nossas fraquezas, com nossos pensamentos negativos, que são unicamente nossos, e não provenientes de influências exteriores que, ainda que existam, não iriam nos abater se nós não fossemos defeituosos e fracos.
Humildade é conhecer a si mesmo, humildade é saber de seus defeitos. Coragem é esforçar-se para mudar, sem culpar aos outros, pois corajoso é aquele que se confessa consigo mesmo, que consegue se analisar da mesma forma que analisa aos outros. Auto-questionamento e duvidas, é sinal de racionalidade. Quem em tudo acredita, demonstra que não reflete e como os bois do filme "Abril Despedaçado", terminam repetindo o que lhes foi ordenado e ensinado (porém, pelo que sei, boi não pensa).
Não se encontra na crença o que não se possui no coração, não é sendo devota que uma pessoa se torna melhor, é se auto-analisando que se evolui, não é rezando terços nem se confessando que se é perdoado, não é dando oferendas que se colhe louros ou que se protege contra algo. Basta que saibamos que a força esta dentro de nós, e que, se quisermos cresceremos e seremos mais felizes, desde que saibamos respeitar a nós mesmos e aos outros. Um elo pequeno separa a fé do fanatismo, a humildade do orgulho, o amor próprio do egocentrismo, a loucura da sanidade, e esse elo se chama razão, sem ela até o amor se mostra ensandecido, e a descrença vazia se mostra menos nociva do que a crença dos obstinados que a ela se dedicam para fugirem de si mesmos.


Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 17 de outubro de 2005.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Descobrindo-se

Descobrindo-se

Descobrir “porquês” não é difícil, o duro mesmo nessa vida é superar as barreiras, os problemas que aqueles causam. E ir adiante, encarar, enfrentar e deixar para trás os óbices que nos atravancam a vida é fundamental. E isso depende exclusivamente de nós e de nossa força de espírito, e de vontade, é claro.
A gente leva um tempo, mas “descobre” o “por que” somos o que somos, agimos desta ou daquela forma. Querendo, podemos até custar, mas um dia, enfim, nos encontramos: enfrentamos-nos, e conseguimos nos ver sem hipocrisia ou máscara alguma.
E, assim, percebemos quão errantes somos. Vemos como podemos ser orgulhosos, egoístas e astuciosos. Como diria meu poeta preferido, Fernando Pessoa, percebemos nosso lado vil “no sentido mesquinho e infame da vileza”. Todavia, constatar defeitos e falhas de caráter e criação (todos as temos) implica no surgimento de uma vontade. Da vontade de mudar, de se aprimorar.
É orgulhoso o homem que diante de si mesmo e dos defeitos que possui não deseja supera-los e, assim, superar-se. Aceitar-se é salutar, mas acomodar-se em relação àqueles que nos impedem de ser pessoas melhores é sinal de covardia, egoísmo e orgulho. É, pois, algo típico do ignorante de espírito.
Eis que, o caminho para a mudança envolve a superação de obstáculos, de mágoas, de pensamentos e “frases feitas”, de idéias encalacradas em nossa mente por nossa educação, e, enfim, envolve a evolução pessoal manifestada na diminuição e superação dos tais “defeitos”.
Se relacionar, deixar-se envolver pelo outro, analisar suas opiniões com a mente e coração abertos é uma excelente forma de constatarmos onde estão nossos erros. Da mesma forma, é se relacionando e exercitando constantemente o amor à vida e a paciência que conseguiremos deixar para trás todos os obstáculos que desejamos superar.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 02 de maio de 2007.