As boconas
A vaidade humana esta perdendo os limites. Cada vez mais a beleza passou a ser o foco da atenção das pessoas a ponto de mulheres jovens realizarem preenchimento nos lábios para ter uma boca carnuda. Muito carnuda. Carnudissíma.
Silicone, lipoaspiração, plástica na barriga, no nariz, silicone nos glúteos, tudo aceitável, mas colocar substância na boca, local que deve chamar a atenção pelas palavras que profere, é um risco. Ou seja, a mulherada esta arriscando ficar feia com o anseio de ter um bocão estilo Angelina Jolie, afinal seguidamente ocorrem problemas neste tipo de procedimento.
Li em um exemplar da primeira semana de maio da revista Veja que a procura por preenchimento aumentou 30% entre mulheres de 20 à 30 anos, sendo, após os tratamentos anti-rugas, a intervenção estética mais procurada nos consultórios de dermatologistas. Confesso que me assustei.
As mulheres não estão tentando melhorar intelectual ou psicologicamente com ajuda profissional para se tornarem mais cheias de auto-estima e mais autoconfiantes, para serem melhores mães, profissionais ou parceiras.
Não investem no aprimoramento de seu intelecto, na gestão de suas emoções, na busca pela maturidade e beleza interior que é aquela que resplandece em simpatia, autoconfiança, charme, sendo um dos maiores atrativos no mundo dos peitões, bundas empinadas, rostos lisos, bocas grandes, cabelos longos e, infelizmente, idéias curtas (cabelos e cílios longos, porque até mesmo permanente de cílios existe. Fiquei sabendo outro dia quando fui me maquiar para um evento e me perguntaram se eu havia feito. Me assustei, até isso inventaram?)
O que me preocupa é o futuro do mundo. Será que adiantará termos misses beiçudas andando por ai, parecendo vasos sanitários de porcelana, com o diferencial que das boquinhas (perdão, das boconas) sai o que nestes entra? Não seria melhor um mundo de mulheres naturais, porém cheias de conteúdo, educando filhos afetiva e mentalmente saudáveis, sendo companheiras e amigas de bem com a vida e humoradas?
Nada contra a vaidade humana, mas o excesso é o que me apavora: A vontade de ser como a outra, como a atriz, a dona dos lábios lindos, do corpo perfeito que conserva assim porque precisa dele para sobreviver, se torna um problema posto que o desejar a beleza alheia se tornou um foco, um objetivo, e o se tornar melhor diante do que se é e do que se pode tornar foi legado a segundo plano, ou, infelizmente, a nenhum plano.
Os valores estão sendo invertidos e o que deveria ser um detalhe esta se tornando um aditivo principal: A beleza exterior é o objetivo, enquanto o bem viver consigo mesmo, a beleza interior, enfim, esta sendo legada ao julgamento de afirmativa piegas dos poucos que pensam e enxergam além do que os olhos podem ver e as mãos podem tocar.
Cláudia de Marchi
Marau, 29 de maio de 2008.