Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Chocante

Chocante

Existem notícias e fatos que me chocam, como por exemplo, a violência urbana gerada pelo tráfico de drogas num Estado que não pensa na forma mais racional de impedir que a ilicitude de condutas gere uma cadeia ainda pior de delinqüência e ignora o fato de mulheres morrerem diariamente na tentativa de tirar de seu ventre filho não desejado. Sim, estou insinuando que existe racionalidade na legalização do aborto e das drogas (!).
Tribute a cocaína, a maconha, dentre outras substâncias, e acabe com a grande renda dos traficantes, com um pouco da corrupção política e policial, e outras atividades dos bandidos, patrocinadas pelo dinheiro do tráfico, como seqüestros, contrabando de armas, guerrilhas, afinal, uma coisa é certa: Quem quer consumir vai fazer sendo a venda lícita ou não. Da mesma forma com o que acontece com cigarro e bebidas alcoólicas. É preciso desmistificar muita coisa para que o agir racional e inteligente se torne efetivo.
O Estado gasta milhões na “luta contra o tráfico” e não obtém êxito. Então, porque não mudar a estratégia? Porque não investir mais em aumento de salário dos policiais, em saúde, educação, controle de natalidade, planejamento familiar para que milhares de pessoas inaptas para ter filhos não coloquem pessoas no mundo que, fadadas ao desamor, busquem em entorpecentes, por exemplo, um elixir para a dor de ser um mal colocado afetivamente na vida.
Legalizar aborto? Descriminalizar? Sim. Para aquelas que, sem conseguir evitar o indesejado, não terminarem tendo que criar crianças com futuro abortado: Mal amadas, mal cuidadas, criadas em situação precária, dentre outros problemas. Se eu abortaria? Não, provavelmente, mas tive uma educação diferente e condições de vida diversas das de muitas mulheres, dentre as quais estas cujo destino me arrepia e me faz pensar nessa possibilidade.
Se eu me drogaria? Se sou a favor da maconha, cocaína, dentre outras drogas? Não, sou absolutamente contra. Jamais peguei um cigarro na mão, tampouco levei à boca. Mas, tenho amor, auto-estima, prezo minha vida, tive, enfim, uma educação primorosa. Ainda que me dessem drogas, que elas fossem gratuitas eu não usaria. Logo, não é o fato de serem lícitas ou não que faze com que elas sejam consumidas.
É o usuário quem tem problemas psíquicos e orgânicos, que vicia num mal, e o traficante enriquece as suas custas, então, Estado, porque não legalizar e, assim, minimizar os efeitos do tráfico ilícito de entorpecentes em relação a milhares de pessoas que são, indiretamente, por ele prejudicadas (invasão de polícia em favelas onde a maioria são pessoas honestas, tiroteio onde crianças morrem, inocentes tendo a vida terminada)? Garanto que pouco ou nada mudará na mente dos que pretendem experimentar ou usar drogas se elas forem legalizadas como o álcool e o cigarro que, também, causam males homéricos.
Para governar, criar leis, criminalizar ou não condutas é preciso análises que vão muito além do que é religiosa, psicológica ou moralmente tido como correto. É preciso colocar os dogmas numa lixeira, a análise intima do que é intimamente “certo ou errado” deve ser excluída. É, pois, necessário que se pondere o que irá beneficiar a maioria, o bem comum.
Mas não o “bem comum” dos religiosos preconceituosos, mas o bem de pessoas normais, errantes, comuns que vivem num Estado desigual por excelência, que negligencia a realidade dos menos abastados e faz vista grossa para o agir dos ricos. Mulheres ricas entram em clínicas com um “problema” no ventre e saem de salto alto. As pobres morrem ou ficam inférteis para sempre.
Certo, errado? À mulher compete essa decisão. Será menos prejudicial para a sociedade deixa-la fazer o que deseja com o feto indesejado do que obriga-la a ter um filho que, via de regra, criado mal e em situação de necessidades poderá ser o assaltante de amanha, ou o sociopata que, (mal) educado, sem amor, não consegue respeitar o ser humano, e, quiçá dará despesas aos cofres públicos futuramente, estando no presídio ou recebendo alguma “bolsa” do governo que, ao que se pode ver hoje, mais do que nunca, percebeu que o assistencialismo dá votos, e, obviamente, lucros.
Certo é que lamento muitas coisas nesse País, na conduta dos governantes, na infeliz influencia da Igreja Católica em nosso Estado e no mundo todo. Existem muitas, mas muitas coisas fora da ordem. “Fora da nova ordem mundial”, onde a compaixão e a análise fria e crua das situações deveriam prevalecer. Se são incompatíveis? Não, não são. A compaixão afasta o preconceito por trás da hipocrisia, e a análise fria, afasta os devaneios do pensar católico.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 1° de maio de 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.