Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Mania de coitado



Mania de coitado


Certa vez um amigo me disse que tudo o que é demais acaba sobrando. E sobras, excessos nunca são interessantes, afinal, se a escassez traz alguns males não é diferente o que ocorre com o excesso: A medida é o equilíbrio, o nem demais, nem de menos. Existem gostos, hábitos repetidos, manias que se tornam patológicas sem serem percebidas por quem as tem.
Existem pessoas de todos os tipos nesse mundo. E manias para todo o tipo de pessoa, por isso existem os que tem mania de grandeza, mania de perseguição, mania de vaidade e assim vai. Outro dia fui no salão para uma sessão básica de depilação. Estava lendo uma revista enquanto a adorável profissional fazia, em mim, o seu trabalho quando ouvi uma moça na outra sala em que a manicure trabalhava: "Porque da próxima vez eu vou abrir o teto solar do carro, os vidros, farei um escândalos se ele fumar". Chata, muito chata. Ninguém queria saber do teto solar do carro e de seu gênio anti-tabaco num salão onde muitas pessoas poderiam ser fumantes.
Como não consigo conter meu pensamento comentei com a depiladora em voz baixa: "Que mulher chata". E ela concordou, dizendo que a mulher chegou ali dizendo que sua calça caríssima da Fórum estava caindo na cintura. Chata, muito chata. Ninguém queria saber a marca da calça, por exemplo. A chatice esta nos detalhes, isso eu aprendi. E a mania é verificada por ele, no caso, de grandeza e vaidade: A mulher queria aparecer, se mostrar melhor e, como ela, existem muitos seres no mundo.
Mas existe uma mania muito infeliz e que a muitos irrita. É a mania de coitado. O coitado é aquele sujeito que vive se achando vítima, que não assume o que faz, (apenas quando acha que agiu correto, é claro). O coitado, via de regra, não erra. São os outros que erram por ele, que atravancam a vida dele, que atrapalham seu caminho. O coitado não faz negócios ruins, não se logra. Ele é vítima da astúcia alheia. O coitado não se sente capaz de ser amado, quando se vê diante do amor ele se assusta e busca uma forma de voltar à sua posição de coitado-mal-amado-infeliz-depreciado-usurpado-nato.
O coitado só tem tal mania porque não consegue olhar para os lados. Na verdade ele é, isto sim, um egoísta por natureza. Os problemas alheios não lhe interessam, apenas os dele - que ele enxerga com uma bela lente de aumento (aliás, todo o egoísta tem uma lente dessas para ver seu próprio umbigo)-, o sofrimento do outro nunca é grande como o seu, a vida, os percalços, os problemas existenciais alheios, para ele, nada são. Só o que é, de fato, ruim, grandioso, deprimente, entristecedor são as suas mazelas, as ocorrências da sua vida.
Toda pessoa que tem mania de coitado deveria parar para olhar o mundo. Quem esta ao seu lado, atrás de si, e, inclusive, as pessoas que ele faz sofrer enquanto busca argumentos para justificar a sua infeliz "coitadice". Existem muitas pessoas com mais problemas que não encaram eles como sofríveis e, pelo contrário, tentam lhes superar e serem felizes. O coitado é digno de pena porque seu egoísmo lhe cega, apenas por isso. E toda pessoa sentimentalmente cega não tem compaixão, e essa é uma má conseqüência de quem cultiva tal mania, afinal, quem não se compadece com o que vem dos outros é porque esta oco por dentro fazendo, assim, jus ao adjetivo de coitado que tanto busca ter.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 19 de maio de 2008.


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