Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A perda da Beth

A perda da Beth

Poucas relações são tão puras como a estabelecida entre o homem e o animal. Aquele bichinho que não fala, não diz nada que agrade ou magoe, manifesta no olhar, no gesto, na demonstração de apego ao dono um sentimento que enternece seu coração e alegra sua alma.
O animal não cobra nada, gosta com desprendimento, sem interesses escusos, não julga o dono, não critica, não é estúpido, não xinga quando não deve, não descarrega seus problemas nos outros bichos ou no dono que, pode até fazer isso com ele e será perdoado. Quem já viveu bastante, ou, ao menos, quem teve contato com muitas pessoas aprende a estimar e amar os animais.
Mais amados são os bichinhos que a gente chama de "nossos". Aqueles com os quais conversamos, apertamos, amassamos, damos comida, carinho, e recebemos seus atos irracionais mas de intensa demonstração de apreço em recompensa. Eles não pensam? Não, mas muitas vezes seu instinto é mais benévolo do que o de muita gente que diz que pensa e age como animais, mas não domésticos ou de estimação, e sim como os brutos, os selvagens.
Nunca perdi nenhuma pessoa próxima, mas ontem perdi a Beth, minha gatinha persa que morava há dez meses em Marau. Beth, uma gata linda, calma, que pouco miava, tinha uma boquinha cor de rosa capaz de fazer qualquer gatinho deseja-lá. A "bebê" (era chamada assim por mim e pelo co-dono dela) foi namorar pela primeira vez há poucos dias e estava prenha de um gato persa branco, não tão lindo quanto ela, lógico, afinal donos de bichos os chamam de "filhos" e nenhum filho é tão lindo quanto os da gente.
Uma camionete atropelou ela. O dono do carro estava correndo numa rua onde não poderia andar em alta velocidade, passou por cima, fez de conta que não viu e causou dor a muita gente que amava a Beth e sua meiguice magnífica. Seres humanos são assim: Vêem e fazem de conta que não viram, pisam, maltratam, dão o tapa e escondem a mão, não têm vergonha de errar, mas odeiam assumir os erros, magoam sem piedade e tentam justificar seus atos. A racionalidade é usada para justificar crueldades e imprudência.
Eu perdi uma gata, enquanto mães estão perdendo filhos por atos de pseudoracionais, e isso me faz lastimar mais a morte dela que, certamente, valia, para mim, mais do que muita gente que conheço e que existe por este mundo afora, ferindo os outros, maculando a paz alheia, sendo impiedosa e cruel, dizendo que é gente. "Gente boa", o que é pior.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 10 de outubro de 2008.

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