Ausência de amigos
Estava pensando em algumas pessoas que conheço, coincidentemente da mesma família. Pessoas de "poucas amizades", não por serem antipáticas no trato, mas porque, no fundo não gostam de se tornar íntimas, de conversar com os outros sobre assuntos que não sejam a respeito de banalidades. Existem pessoas que estabelecem relações superficiais, que não "gostam" de ter amizades, por vários motivos, alguns, obviamente mais vis que outros.
Meu pai sempre disse que "amigos de verdade não existem", dizia que existem, apenas "boas parcerias", porque há, sempre, uma competição latente, que a inveja permeia as relações humanas de forma que nunca um homem desejará ver seu amigo mais feliz em sua vida afetiva e financeira do que ele.
Esta era a idéia de meu pai pelas experiências que teve. Para ele apenas uma mulher pode amar um homem e querer seu bem, e nossos pais que, muitas vezes nos irritam por desejar para nós um "bem" diverso do que almejamos, mas que, apesar disso, nos amam sempre. Do seu modo, mas amam. Ele tinha razão, mas de forma parcial.
O ser humano não é feito apenas de pele, ossos, músculos, gordura e sangue, é feito de experiências, de idéias e ideais. O homem é o que ele pensa. Mas os seres inteligentes mudam de idéias, mudam de pensamentos, logo, como Raul Seixas, as pessoas que sabem usar sua razão e emoção de forma adequada são "metamorfoses ambulantes". A vida ensina uma nova lição a cada dia, não há como ficar estagnado. Apenas os ignorantes acham que sabem tudo e que não têm nada para mudar.
Bem, e os "amigos" (assunto do texto) onde estão? Para mim na seguinte realidade - como todos seres humanos aqueles que escolhemos para chamar de amigos são imperfeitos, sujeitos à paixões, dias de mau humor, dias de humor "bipolar", estão sujeitos à frustrações no amor, embaraços financeiros, mas, não é por isso que deixam de nos amar, de nos admirar e gostar de nós, aceitando-nos como somos.
Lembro de ter ouvido de um marido apaixonado a confissão de quem em certos dias tinha vontade de "esganar" a mulher. Ele a amava e respeitava, nunca vi relacionamento tão bom. Mas o fato de uma relação ser boa não significa que esteja isenta de discussões, de diferenças, de brigas, de incômodos, não significa, pois que num dia de mau humor um não tenha vontade de atirar o outro pela janela. C´est la vie. A regra na existência humana é a imperfeição, afinal o homem não é perfeito, não é um Deus ou um anjo.
A tarefa é relevar, é ser superior as mazelas, é, mesmo sendo, ser superior as imperfeições: amando e perdoando, superando mágoas, superando a própria ausência de perfeição e a alheia com a consciência de que não é por errar que as pessoas deixam de ter valor e de nos dar valor. Não podemos cobrar do mundo o que não podemos lhe dar: Exemplos de plenas virtudes, afinal podemos ser virtuosos, mas não impassíveis de erros.
Meu filósofo preferido, Nietzsche, disse: "A falta de amigos faz pensar em inveja ou presunção. Há pessoas que devem seus amigos à feliz circunstância de não ter motivo para a inveja." Pois bem, creio que dependa do "grau" da inveja. Uma invejazinha surgida porque o amigo esta melhor financeiramente, porque tem uma esposa linda e carinhosa quando se esta sozinho e frustrado não é uma aberração, logicamente não é belo ou correto - pessoas felizes e de bem consigo não invejam, se aceitam e lutam suas vidas com a cabeça erguida e a auto-estima em alta.
Todavia existem aqueles que vivem se sentindo inferiores mas que não querem transparecer de forma que, logo que iniciam uma amizade, começam a criticar, a realçar os "pontos fracos" do possível amigo, ou, simplesmente, aqueles que se acham superiores, que presumem que suas vidas e atos são mais dignos, justos e corretos do que o dos demais. Ambos são pessoas que não sabem amar, em especial pelo fato de nem a si mesmos amarem.
Ambos os "tipos" estão fadados à solidão, a não terem amigos. São como aquelas pessoas, daquela família em que eu pensava, que se acham mais corretos do que o mundo sem perceberem que a vida bem gozada é a vivida pelos sábios. E estes são aqueles que sabem quão imperfeitos são, logo, vivem cientes de que não podem exigir o que não possuem.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 21 de junho de 2007.
Estava pensando em algumas pessoas que conheço, coincidentemente da mesma família. Pessoas de "poucas amizades", não por serem antipáticas no trato, mas porque, no fundo não gostam de se tornar íntimas, de conversar com os outros sobre assuntos que não sejam a respeito de banalidades. Existem pessoas que estabelecem relações superficiais, que não "gostam" de ter amizades, por vários motivos, alguns, obviamente mais vis que outros.
Meu pai sempre disse que "amigos de verdade não existem", dizia que existem, apenas "boas parcerias", porque há, sempre, uma competição latente, que a inveja permeia as relações humanas de forma que nunca um homem desejará ver seu amigo mais feliz em sua vida afetiva e financeira do que ele.
Esta era a idéia de meu pai pelas experiências que teve. Para ele apenas uma mulher pode amar um homem e querer seu bem, e nossos pais que, muitas vezes nos irritam por desejar para nós um "bem" diverso do que almejamos, mas que, apesar disso, nos amam sempre. Do seu modo, mas amam. Ele tinha razão, mas de forma parcial.
O ser humano não é feito apenas de pele, ossos, músculos, gordura e sangue, é feito de experiências, de idéias e ideais. O homem é o que ele pensa. Mas os seres inteligentes mudam de idéias, mudam de pensamentos, logo, como Raul Seixas, as pessoas que sabem usar sua razão e emoção de forma adequada são "metamorfoses ambulantes". A vida ensina uma nova lição a cada dia, não há como ficar estagnado. Apenas os ignorantes acham que sabem tudo e que não têm nada para mudar.
Bem, e os "amigos" (assunto do texto) onde estão? Para mim na seguinte realidade - como todos seres humanos aqueles que escolhemos para chamar de amigos são imperfeitos, sujeitos à paixões, dias de mau humor, dias de humor "bipolar", estão sujeitos à frustrações no amor, embaraços financeiros, mas, não é por isso que deixam de nos amar, de nos admirar e gostar de nós, aceitando-nos como somos.
Lembro de ter ouvido de um marido apaixonado a confissão de quem em certos dias tinha vontade de "esganar" a mulher. Ele a amava e respeitava, nunca vi relacionamento tão bom. Mas o fato de uma relação ser boa não significa que esteja isenta de discussões, de diferenças, de brigas, de incômodos, não significa, pois que num dia de mau humor um não tenha vontade de atirar o outro pela janela. C´est la vie. A regra na existência humana é a imperfeição, afinal o homem não é perfeito, não é um Deus ou um anjo.
A tarefa é relevar, é ser superior as mazelas, é, mesmo sendo, ser superior as imperfeições: amando e perdoando, superando mágoas, superando a própria ausência de perfeição e a alheia com a consciência de que não é por errar que as pessoas deixam de ter valor e de nos dar valor. Não podemos cobrar do mundo o que não podemos lhe dar: Exemplos de plenas virtudes, afinal podemos ser virtuosos, mas não impassíveis de erros.
Meu filósofo preferido, Nietzsche, disse: "A falta de amigos faz pensar em inveja ou presunção. Há pessoas que devem seus amigos à feliz circunstância de não ter motivo para a inveja." Pois bem, creio que dependa do "grau" da inveja. Uma invejazinha surgida porque o amigo esta melhor financeiramente, porque tem uma esposa linda e carinhosa quando se esta sozinho e frustrado não é uma aberração, logicamente não é belo ou correto - pessoas felizes e de bem consigo não invejam, se aceitam e lutam suas vidas com a cabeça erguida e a auto-estima em alta.
Todavia existem aqueles que vivem se sentindo inferiores mas que não querem transparecer de forma que, logo que iniciam uma amizade, começam a criticar, a realçar os "pontos fracos" do possível amigo, ou, simplesmente, aqueles que se acham superiores, que presumem que suas vidas e atos são mais dignos, justos e corretos do que o dos demais. Ambos são pessoas que não sabem amar, em especial pelo fato de nem a si mesmos amarem.
Ambos os "tipos" estão fadados à solidão, a não terem amigos. São como aquelas pessoas, daquela família em que eu pensava, que se acham mais corretos do que o mundo sem perceberem que a vida bem gozada é a vivida pelos sábios. E estes são aqueles que sabem quão imperfeitos são, logo, vivem cientes de que não podem exigir o que não possuem.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 21 de junho de 2007.
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