Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

terça-feira, 26 de junho de 2007

Espaço de esperança

Espaço de esperança


Vejo que minha vida reside num pequeno espaço entre a realidade bem quista ou desprezada, e entre o que eu imagino, entre o que eu gostaria que ela fosse. Talvez o espaço que meu mundo ocupe entre essas duas existências não seja tão pequeno, eu é que, às vezes, me sinto esmagada pela realidade das circunstâncias, pela "vida como ela é" e as pessoas "como elas são".
É inevitável olhar para o mundo e se sentir um tanto perdido de vez enquanto: Onde esta a harmonia, a sinceridade?Onde foi parar a lealdade, a fidelidade e o respeito mútuo nos relacionamentos amorosos? Para onde foi a probidade dos políticos, quando foi mesmo que a Justiça deu um tapa na cara do Judiciário e fugiu com uma mala de dinheiro para a Suíça?
Em que estrada nas curvas dessa vida o real sentido do amor cedeu lugar à ode a fugacidade, onde ninguém valoriza ninguém ao menos que seja por ele beneficiado? Quando foi que a educação deu lugar à grosseria? Porque a auto-estima saiu com seu carro simplório (mas pago) e deu sua vaga no estacionamento ao "convencimento barato" que ostenta mais valores e auto-valor do que possui?
Todos temos dias em que padecemos do que chamo de "Complexo de Alice" (Cadê as maravilhas neste mundo?), mas ele passa, ou melhor, ele dá uma dormidinha dentro de nós porque se deixarmos ele acordado diariamente nos tornaremos pessoas chatas. Quem reclama demais é chato, quem questiona demais, igualmente. E como, no fundo, abominamos a solidão recolhemos nosso complexo e fazemos ele nanar, se ele não quiser damos um calmantezinho para o coitado repousar em paz na nossa alma inquieta.
Todavia, não tenho medo de ser chata comigo mesma. Não me conformo e nunca me conformarei com muitas coisas. Prefiro gente que reclama do que gente que se conforma, cruza os braços e vai ver novela. Portanto, apesar de não ser a Alice eu cultivo em meu coração um espaço. Parece nome de "nova igreja" (existem tantas hoje em dia, o que comprova a carência humana de algo supra-material, sobre-humano, porque essa vida de gente é muito "defeituosa"), mas não é, este lugarzinho se chama espaço da esperança.
Nele eu guardo a esperança de que, ao menos em minha vida, o que eu puder farei diferente, viverei de forma diferente. Farei o que acho correto, viverei como acho justo. Sem fazer aos outros o que não desejo para mim. Uma vida baseada na sinceridade, na honestidade, na lealdade e na fidelidade. Se o amor disse "tchau", se a paixão, ou o tesão foram embora, é melhor findar a relação.
Sempre: melhor findar do que trair. Não me conformo com a traição em aspecto algum, com a forma "natural" com que as pessoas falam dela, por exemplo, como se o outro não fosse nada, como se não fosse sentir, se magoar e se ferir. Este é apenas um exemplo. Trago no peito a fé no amor, embora a descrença total no casamento como forma de união e caminho para o "pra sempre", que, sempre acaba.
Ou não?Nos espaço de minha esperança o para sempre não finda, mas também não precisa de assinatura, testemunhas, juiz de paz e padre para atestar nada. O amor é vivido cada dia como se fosse o último sem que se precise "oficializar" nada. Este "ofício" gera uma espécie de "segurança negativa" na maioria das pessoas, que, a partir dele "mudam" como se tivessem adquirido o outro (para sempre, diga-se). E isso é uma praga na plantação de um amor que se deseja, dure para sempre.
Enfim, ainda acho que na minha vida o que depender de mim será feito de forma diversa. Talvez eu ainda tenha a inocência de que posso fazer diferente ou a prepotência de que poderei estar imune há algumas mazelas. Talvez, mas eu acho que ainda mantenho um certo romantismo calejado em meu coração. Para todos os efeitos, sobra fé no espaço de minha esperança, que reside num cantinho da minha alma.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 26 de junho de 2007.

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