A dor (da falta) do amor II
E um amigo, uma pessoa querida, que tive a sorte de conhecer em Porto Alegre por ser pai e esposo de duas queridas colegas de pós-graduação residentes em Florianópolis me indaga: "Onde está o amor? Este do qual há dor? Existe ou existiu? E quando no curso de nossas vidas?". Gostei dos questionamentos, e me disponho a explicar o que é, para mim, "a dor da falta do amor".
Ora, ora, por si só o amor não causa dor. Ele regozija. Camões, em seu Soneto 11, utilizando-se do famoso texto bíblico, descreveu o amor:"Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;É um não querer mais que bem querer (...)É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata lealdade.Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?".
O amor é a força que une os corações humanos. É por amor que a gente abdica de pequenas coisas, é por amor que a gente muda, é por amor que a gente melhora, é por amor que a gente deve (deveríamos) dar a luz a novos seres, é por amor que a gente abre mão do comodismo da solidão, da covardia de não ter que ser complacente, paciente nem arriscar-se a sentir alguma dor, ainda que seja a dor da saudade do amado que partiu rumo à eternidade.
Logicamente, numa relação em que existe amor não é ele a causa dos sofrimentos e das dores. São as fraquezas humanas, o egoísmo, o medo de ceder, o receio de mudar, são as palavras duras, as atitudes impensadas que ferem a ferro um coração enternecido pelo carinho, pela doçura que apenas o amor coloca no coração do homem.
Mais do que amar, é preciso saber se relacionar, é preciso saber que o amor não traz consigo a perfeição. Os homens são imperfeitos, o amor, apenas, os aproxima de Deus, mas não os tornam impassíveis de erros. É por isso que, ao lado do amor, deve estar o respeito aos sentimentos e ao próximo, deve estar a paciência, a ternura, a parceria e o diálogo, do contrário, o amor, ainda que se mantenha na alma do amante, cede lugar a dor, porque às vezes é preferível sentir a falta de alguém do que ser por ele desrespeitado, traído ou magoado.
Não é o amor que causa a dor, são as pessoas e seus gestos inconsequentes. Os seres humanos são errantes. Para algumas dores, obviamente, há perdão. O amor faz com que as pessoas perdoem, desde que, logicamente, a ofensa não tenha sido tal que macule em demasia seu amor próprio. Afinal, acima de qualquer sentimento deve estar o amor do homem por si mesmo, pela sua vida, pelo seu caráter e forma de viver, do contrário, ele poderá sentir "tudo" por outro alguém, menos amor verdadeiro.
Eu sei. Amores acabam mesmo existindo amor. Acabam porque não basta amar, é preciso saber se relacionar, querer ser cúmplice, confiar, dividir, respeitar, dialogar. E isso, muitos que amam não sabem ou, por orgulho não se dispõe a fazer. É preciso ser maduro de coração para se entregar a um amor.Existem tais casos, mas eu prefiro acreditar que, aos poucos, o amor torna o homem mais humilde e o faça evoluir. Eu creio nisso, mas nem sempre é o que ocorre e é por isso que alguns amores acabam em dor, porque mesmo aproximando o homem de Deus, ele não quis ver a sua luz.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 14 de junho de 2007.
E um amigo, uma pessoa querida, que tive a sorte de conhecer em Porto Alegre por ser pai e esposo de duas queridas colegas de pós-graduação residentes em Florianópolis me indaga: "Onde está o amor? Este do qual há dor? Existe ou existiu? E quando no curso de nossas vidas?". Gostei dos questionamentos, e me disponho a explicar o que é, para mim, "a dor da falta do amor".
Ora, ora, por si só o amor não causa dor. Ele regozija. Camões, em seu Soneto 11, utilizando-se do famoso texto bíblico, descreveu o amor:"Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;É um não querer mais que bem querer (...)É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata lealdade.Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?".
O amor é a força que une os corações humanos. É por amor que a gente abdica de pequenas coisas, é por amor que a gente muda, é por amor que a gente melhora, é por amor que a gente deve (deveríamos) dar a luz a novos seres, é por amor que a gente abre mão do comodismo da solidão, da covardia de não ter que ser complacente, paciente nem arriscar-se a sentir alguma dor, ainda que seja a dor da saudade do amado que partiu rumo à eternidade.
Logicamente, numa relação em que existe amor não é ele a causa dos sofrimentos e das dores. São as fraquezas humanas, o egoísmo, o medo de ceder, o receio de mudar, são as palavras duras, as atitudes impensadas que ferem a ferro um coração enternecido pelo carinho, pela doçura que apenas o amor coloca no coração do homem.
Mais do que amar, é preciso saber se relacionar, é preciso saber que o amor não traz consigo a perfeição. Os homens são imperfeitos, o amor, apenas, os aproxima de Deus, mas não os tornam impassíveis de erros. É por isso que, ao lado do amor, deve estar o respeito aos sentimentos e ao próximo, deve estar a paciência, a ternura, a parceria e o diálogo, do contrário, o amor, ainda que se mantenha na alma do amante, cede lugar a dor, porque às vezes é preferível sentir a falta de alguém do que ser por ele desrespeitado, traído ou magoado.
Não é o amor que causa a dor, são as pessoas e seus gestos inconsequentes. Os seres humanos são errantes. Para algumas dores, obviamente, há perdão. O amor faz com que as pessoas perdoem, desde que, logicamente, a ofensa não tenha sido tal que macule em demasia seu amor próprio. Afinal, acima de qualquer sentimento deve estar o amor do homem por si mesmo, pela sua vida, pelo seu caráter e forma de viver, do contrário, ele poderá sentir "tudo" por outro alguém, menos amor verdadeiro.
Eu sei. Amores acabam mesmo existindo amor. Acabam porque não basta amar, é preciso saber se relacionar, querer ser cúmplice, confiar, dividir, respeitar, dialogar. E isso, muitos que amam não sabem ou, por orgulho não se dispõe a fazer. É preciso ser maduro de coração para se entregar a um amor.Existem tais casos, mas eu prefiro acreditar que, aos poucos, o amor torna o homem mais humilde e o faça evoluir. Eu creio nisso, mas nem sempre é o que ocorre e é por isso que alguns amores acabam em dor, porque mesmo aproximando o homem de Deus, ele não quis ver a sua luz.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 14 de junho de 2007.
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