Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Doação de sentimentos

Doação de sentimentos

Mais difícil do que rejubilar-se com a vida, do que ver graça nela apesar das adversidades, mais difícil do que conquistar um coração é fazer ou tentar fazer seu dono feliz. De todas as pretensões não creio que ser amado seja a maior, a maior pretensão que o homem pode ter é, para mim, a de fazer seu par ser feliz quando ele não é.
Pode o amor ser dado, o afago, o carinho e o ombro amigo, serem garantidos, podem serem ditas milhares de palavras de apoio e estima, a força e paz serem emanadas, nada é suficiente para suprir o que o outro, talvez, não possua: Paz de espírito, apreço por si mesmo, gratidão à Deus pela vida que tem, e, portanto, felicidade por ser quem é.
Felicidade, nesse aspecto é a de sentir-se bem na própria pele, sendo quem se é, respeitando a si mesmo, seus defeitos e mancadas, vendo a luz das virtudes apesar das pedras dos defeitos que existem para serem superados e afastados de nosso caminho. Amar a si mesmo é respeitar as próprias fraquezas, é se cobrar por alguns fatos, mas não se torturar pelo fato de ser humano, ou seja, de ser imperfeito.
Falo, em suma, de que é assumir uma função torturante e impossível a de querer "fazer alguém feliz". Se alguém precisa ser "feito" feliz é porque não é completo. E ninguém completa ninguém, muito embora os românticos menos realistas prefiram crer nessa ilusão. Amigos, casais harmoniosos se "somam", compartilham sentimentos e vivências e não se completam. São maduros, e, portanto, "cheios" em si mesmos.
Plenos de amor, de alegria, de auto-confiança e, também, desejosos por compartilhar com alguém as benesses de sua alma clara, como diria Gil, que apenas o amante "clarividente" e, como ele, apto para o amor poderá enxergar. Quem precisa de completude é porque é semi-vazio, e qualquer coisa semi vazia não pode gozar do "cheio" do amor. Quem não é, pois, completo e feliz consigo e em si mesmo, não poderá ser feito assim por outro alguém.
A intenção de quem deseja fazer alguém feliz é nobre, mas o resultado é catastrófico. Em especial porque aquele que não consegue se rejubilar com o que tem de bom na vida, que não consegue se regozijar consigo mesmo, demonstrando amor-próprio e felicidade interior, jamais poderá amar a alguém e, tampouco, conseguir compartilhar uma vida, bons e belos momentos. Inevitável, portanto a frustração daquele que quis fazer um bem maior para alguém. O bem de lhe dar algo que não possui, que, quiçá seja um algo chamado paz.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 11 de agosto de 2007.

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