Completamente imperfeita.
Eu não me considero uma pessoa orgulhosa, uma
pessoa arrogante. Também não acho que eu precise humilhar os outros para me
sentir melhor. Se alguma vez precisei, não me recordo.
Todavia, sou um ser humano cheio de defeitos. Sou
muito intensa, muito brava, muito impulsiva e exagerada, um pouco ciumenta e
possessiva, mas, por outro lado sou extremamente sincera, honesta e
transparente. Quem vive ao meu lado, com certeza não será iludido com
pretensões ou fatos que não existiram ou existam.
Eu já passei de tudo na minha vida. Magoei pessoas
que não mereciam, chorei demais, me arrependi demais, bebi demais e cheguei ao
fundo do poço uma vez, todavia, a quem eu amei, nunca escondi o período sombrio
da minha existência que, sem dúvida alguma, adveio de um inútil, pesaroso e
infeliz sentimento de culpa.
Culpa por ter magoado quem me amava, num ato
impensado. Todavia, o fato é que eu perdi o sono, perdi a fome, perdi o ânimo,
certa vez na minha vida. Tem quem nunca passe por isso, tem quem nunca erre,
nunca se arrependa e nunca se destrua. Eu não, passei por isso e sei bem o que
a minha fase ruim fez comigo.
Tornou-me uma pessoa mais forte, afinal, a gente
não adquire força malhando numa academia, a gente fica forte mesmo quando as
circunstancias da vida nos derrubam e nós conseguimos levantar. É por isso que
eu não aceito ser comparada, por causa da minha intensidade e até excessos, com
pessoas que tem medo, mas não tem vergonha de agirem erroneamente, com pessoas
que acham que a mentira é útil, é válida.
Se eu já sofri na vida, foi por sentir-me culpada,
além de fracassada é claro, todavia, tudo passou e, com esforço em poucos meses
eu estava altiva e alegre como sempre fui. Adoecer, todo mundo pode,
deprimir-se, perder o sono, o apetite, a força, mas agir mal com quem nos
estende a mão, não é humano, não é correto, não é digno. Ser incapaz de sentir
culpa e buscar na intimidade do outro, razões para justificar os seus erros é
mais do que mau caratismo, é desumano, é grotesco, é abjeto.
Sempre fui uma pessoa intolerante a mentiras, por
outro lado, num contrassenso infeliz, sempre fui uma pessoa que confia demais
em quem admira, em quem ama, e, nessas curvas da vida, a gente acaba admirando
máscaras, até elas caírem, é claro.
Então, seres pérfidos e imbuídos de um orgulho e
uma maldade hedionda, tentam me comparar com pessoas que, desde o principio, só
fizeram enganar e mentir sobre seus sentimentos, histórias, autocontrole,
hábitos, caráter, sonhos, passado e tudo o mais, quando eu fui, simplesmente,
transparente e sincera, quando eu fui eu mesma e, tenho consciência, o único
erro que cometi foi ter confiado em quem era uma fraude.
Não tolero, não aceito e não fico quieta se
quiserem me comparar com um tipo abjeto de gente, apenas porque, certa vez eu
adoeci. Como disse certo personagem de filme: “No meu turno não.” Sou tolerante
a pessoas doentes, sou tolerante a pessoas que cometem exageros, sou tolerante
até a quem tem vícios, mas a pessoas falsas, mentirosas, que não honram seus
compromissos, que dormem bem mesmo sem quitar suas obrigações, eu não tolero. Não
tolero quem trai a confiança alheia, seja do chefe, do pai, do irmão ou da
namorada.
Você pode ser tudo comigo, se eu te amar, eu vou te
entender e te ajudar, mas se você tiver me mentido que era “assim”, quando era “assado”,
se você não for honesto com os outros e nem comigo, eu lamento, mas tudo finda,
porque eu sou totalmente imperfeita, mas fui criada por um homem que não dormia
a noite quando tinha algum débito, fui criada por uma mãe que nunca mentiu e
nem me deixou mentir para conquistar nada ou ninguém. E essas pessoas são meus
mestres.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 25 de maio de 2014.