Mãe de gente ruim.
Eu ouvi outro dia que não posso ser muito rígida ao
julgar o outro, porque não estou livre de ter um filho como ele. Todavia, isso
não me assusta, afinal, mãe é mãe, mãe ama, mesmo que o filho seja um
estuprador assassino, por exemplo.
Se serei uma mãe feliz tendo um filho desajustado?
Talvez não, mas serei mãe e contra o filho que criei não irei me erigir. Não a
ponto de desistir dele, é claro. Acontece que não sou mãe de pessoa alguma,
sou, unicamente, uma pessoa vitima da falsidade fria de pessoas traiçoeiras.
Tenho o direito de pensar e falar o que bem
entendo, assim como uma mãe tem o direito de defender a cria que pariu, em que
pese eu não ache humano, tampouco justo, querer apontar falhas dos outros
quando o filho, nada mais foi com eles, do que uma tremenda fraude.
Defender a cria, sim, mas querer acusar o outro
que, única e tão somente, cometeu o erro de dar credibilidade demais à palavra
de quem só usou e abusou da confiança que ganhou não é correto, não é natural,
não é justo e nem aceitável, aliás, justifica bem o fato do filho ser incapaz
de sentir-se, realmente, culpado por enganar aos outros.
Afinal, tão possível quanto eu ter um filho
mentiroso e sem caráter, é os parentes amados da mulher, de filhos a netos,
serem vitimadas por criaturas que abusam da sua boa fé, do amor e da confiança
que ganharam deles. Tudo é possível nesta vida, mas com certeza sofre mais a
vitima do psicopata do que a mãe, pois como dito, mães são só amor e compreensão,
as vitimas amargam tristeza e, porque não dizer, raiva misturada com decepção.
E raiva por confiar demais em quem mentiu que era
honesto, que era confiável, sincero, em quem fez de conta que era decente, que
tinha caráter, hombridade e vergonha na cara, dói. A decepção da vitima de uma
fraude é muito mais aguda e com reflexos mais severos do que a decepção por ser
a mãe do estelionatário afetivo.
Todavia, parece que essas mães se acham imunes ao
sofrimento da decepção com alguém como seus filhos e acham que quem amam também
será imune a tal sofrimento, a tal ilusão, a amar cegamente e acreditar em tudo
o que o outro diz. Ocorre que ninguém é imune a isso. Quem viver, verá.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 25 de junho de 2014.
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