“Aonde foi que eu errei?”
Lembro-me que quando eu era criança e não gostava
muito da minha nota numa prova de colégio, ao chegar a casa e contar para minha
mãe, com o objetivo inconsciente de não parecer tão ruim quanto eu me sentia,
eu acrescentava “mas a fulana foi pior”.
Ao ouvir isso, minha mãe sabiamente respondia “eu
não sou a mãe da fulana, eu quero saber se esta nota te contenta ou se você
pode fazer melhor que isso”. Lembro-me que ela me dizia, com frequência, que eu
não devia me “nivelar por baixo”. Seja o que for que isso significasse.
Acho, por intuição que ela queria que eu desse o
meu melhor, sem pensar nos outros, em como eles agem ou são, em especial quando
eles fracassavam nas provas mais do que eu mesma. A minha mãe me ensinou, do
alto de sua sabedoria sem muita cultura, que a gente age, a gente fala, a gente
faz, a gente vive e temos que nos responsabilizar por isso tudo. E por tudo que
destes fatos advém, sejam louros ou sejam tragédias.
Eu aprendi que colocar a culpa e a responsabilidade
dos erros hediondos que se comete nos outros é uma boa forma de não crescer, de
não evoluir. Acreditar, por exemplo, no que a pessoa costumeiramente mentirosa
fala é, mesmo a amando, a maior forma de não contribuir para a sua evolução. E
muitos pais fazem isso e acabam, por fim, com a tradicional indagação “aonde
foi que eu errei?”.
Quem sempre erra e recebe apoio e credibilidade
nunca muda. Do contrário, não precisaria de apoio, não repetiria erros, não
cometeria erros piores do que os anteriores na crença vã, mas infelizmente
concreta, de que os pais vão passar a mão na cabeça e acobertar seus atos
errados sem deixar-lhes assumir com o nome, a moral, o CPF e a vergonha o que
fazem.
A lei da vida é a evolução espiritual, moral e
psíquica, só não evolui quem é incapaz de fazer um mea culpa sincero, quem
mente não apenas para si mesmo, mas para todos e, o que é pior, recebe de todos
a mesma (desmerecida) atenção de sempre.
O fato é que os pais não gostam de assumir que tem filhos
fracassados, primeiramente por amor, em segundo lugar por orgulho. Assumir a
ausência de decência e honestidade de um filho sempre afeta seu ego, mais do
que dizer que o rebento é doente, por exemplo.
Ocorre que doença se cura com remédios e
tratamento, caráter ruim, desonestidade e irresponsabilidade não. Todavia, a
esperança, no coração de um pai, com certeza, é a ultima que morre, por isso os
presidiários recebem visitas aos domingos.
Dentro da minha casa, no seio do que chamo de família ninguém é perfeito. A gente dá gargalhadas, a gente bebe pra comemorar, se embriaga de vez em quando, fala mais do que deve, alguns fumam pra espairecer, a gente cria filosofia de boteco e esquece no outro dia.
Dentro da minha casa, no seio do que chamo de família ninguém é perfeito. A gente dá gargalhadas, a gente bebe pra comemorar, se embriaga de vez em quando, fala mais do que deve, alguns fumam pra espairecer, a gente cria filosofia de boteco e esquece no outro dia.
Na minha imperfeita família a gente ama pra valer,
se ilude outro tanto, confia demais, se entrega demais, mas tem coisas que a
gente não faz e nem sabe fazer: a gente não engana, a gente não mente e não
nega nenhuma responsabilidade. Na minha família todo mundo é errante, mas boa
índole, bom caráter e vergonha na cara todo mundo tem.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 25 de junho de 2014.
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