Criminosos.
Passei o início da minha carreira dedicada ao
Direito Penal. Agora, muito feliz e realizada, voltei. Não sou a melhor
criminalista do mundo, pelo contrário, nem me intitulo assim, mas gosto do que
faço e, posso dizer, que em quase dez anos de advocacia a gente vê muitas
coisas. Com três décadas de vida muito mais.
O fato, pois é que eu concluo que todos somos
criminosos ao menos uma vez na vida. Sonegação de impostos, xerox de livros,
dvds piratas, compra acima da cota em outro País, beber um copo de cerveja e
direção, dirigir sem CNH, andar a 120 Km/h quando o limite é 80 Km/h e assim
por diante. A lista é longa, muito longa. Acontece que nem todos somos pegos e,
principalmente, a gravidade destes delitos é mínima se comparada com outros.
Mas são delitos. Ponto.
Ademais, a gente não quer saber dos delitos que
comete, a gente gosta mesmo é de falar dos crimes dos outros. O mesmo em relação a falhas
morais. Sentimo-nos "Deuses" em dia de juízo final avaliado a vida
alheia. E agimos como uma "mãe" em relação a nossas falhas. Isso é
hipocrisia.
Colocar-se no lugar do outro não mata ninguém, nem
torna ninguém menos do que é. Existe grande diferença entre cometer delitos e
ser um criminoso contumaz, todavia, ainda assim eu acho que somos arrogantes
demais em relação aos erros do outro. Aliás, sempre nos compadecemos com as
vítimas.
Colocamo-nos no lugar do irmão, da esposa, do pai,
da mãe da vítima de qualquer delito. Mas somos praticamente incapazes de nos
colocar no lugar da irmã, do amigo, do marido, do pai e da mãe do "criminoso".
Acontece, meu amigo, que você pode se achar
infalível, mas garante que seus filhos nunca vão errar? Nunca cometerão algo,
num momento de passionalidade, do qual irão amargar arrependimento pra sempre? Garante
que você sempre será parente ou afim da vítima e não do "algoz"? Eu
não, embora não queira.
Mas, quem me garante que um dia, meu filho que
sempre me viu dirigindo acima do limite de velocidade permitido não faça o
mesmo e não consiga frear a tempo de não colidir num carro e causar a morte de
alguém? Ninguém. Se você tem essa garantia, digo, do fundo da alma que é
abençoado.
Agora, de onde venho e no mundo em que vivo eu não
posso garantir que eu seja sempre exímia, menos ainda que quem eu amo, quem me
cerca e quem, espero, seja por mim bem educado seja, e é por isso que eu atuo
nessa área sem ter impedimentos para dormir à noite.
Afinal, quem carece da “presunção de inocência”
hoje é um cliente, amanha pode ser alguém que eu amo. Pode ser eu mesma. Todo
mundo critica advogados criminalistas, certo? Pois é, até precisar de um, com
certeza. Ah, mas você nunca vai precisar né?! Que bom. Eu lhe invejo.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 11 de junho de 2014.
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