Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Poderosos Miseráveis

“Poderosos” miseráveis.
Só existe uma espécie de gente miserável neste mundo: A que se acha poderosa. Todo ser humano que, por vã ilusão ou por infelicidade em forma de auto-afirmação demonstra verbalmente que crê que é mais importante, mais belo, mais interessante ou mais rico que os demais é pobre, vazio e tolo.
Sou capaz de suportar muitas coisas, mas, beirando a fase balzaquiana da vida não suporto gente arrogante, até mesmo porque, de todos os mecanismos de defesa do ego, a arrogância e a empáfia são as mais tolas e maldosas.
Quem “é”, quem “faz” e quem realmente possui motivos para se sentir psiquicamente realizado consigo mesmo e perante a vida não precisa se auto-afirmar e, menos ainda, tentar tripudiar da existência alheia para enaltecer a sua.
Quem faz isso é justamente porque no fundo tem consciência de que não passa de um nada mal jogado no mundo onde mal e parcamente consegue cativar o amor alheio. (Até mesmo porque não possui o próprio, embora tente demonstrar o contrário).
Conversas auto-elogiosas e afirmativas egocêntricas e narcisistas passaram a me anojar assustadoramente. Eu gosto de gente que sente compaixão, de gente sensível, de gente que se valoriza e ama a vida, respeita o ser humano e compreende que dos outros nada mais é do que um “igual diferente”: Não é melhor, nem pior, apenas diferente e se existe uma forma de se rebaixar, ou melhor, de demonstrar que é inferior, é justamente quando tenta se exaltar.
Cláudia de Marchi
Wonderland, 31 de dezembro de 2010.

O momento do amor.

O momento do amor.

A vida não é ingrata, ela é cômica e, se mal interpretada, pode ser considerada trágica. Na verdade a vida é dos sensíveis e dos “espertos afetivamente”, quem dorme no ponto do amor e do afeto, perde a oportunidade de ser feliz ou fica no risco de perdê-la.
Avalie as circunstâncias ao seu redor e, principalmente, não menospreze os sentimentos alheios. Ame quem te ama, quando te ama. Não seja cruel, não decepcione um coração e tente reconquistá-lo com a certeza de que “tudo vai dar certo, agora”: Você corre o risco de tê-lo para sempre com a segunda chance, ou, de, um dia, a decepção de outrora falar mais alto e o outro desistir de você. Tal qual você, anteriormente quando ignorou seus sentimentos e amor.
A vida dá voltas, mas tende a não cair aquele que anda na linha: Na linha do respeito ao próximo, na linha da consideração, na linha da compaixão, na linha do “não fazer ao outro o que não se deseja para si”, aliás, esta é a melhor forma de viver sem correr o risco de, numa das curvas da vida, capotar feio a própria alma e ser jogado para fora.
Certo é que a vida não é muito surpreendente, o homem é que se sente muito “dono de si” e, cego pelo seu egoísmo, crê que as coisas devem acontecer, fluir e dar certo no momento em que desejam e não no momento em que devem e podem se realizar. E é assim que as oportunidades são desperdiçadas, o que “era para ser”, nem sempre será, ou nem sempre, poderá “ser de novo” depois de alguma decepção.
Como uma criança que não deve nascer prematura e nem depois do tempo sob pena de falecer ou ter danos graves à saúde, os relacionamentos humanos possuem um tempo certo para fluírem, para darem certo sob pena de não sobreviverem, e este tempo é sempre antes da dor, antes da mágoa, afinal, palavras e fatos não voltam atrás e nem sempre a memória do amante consegue esquecer, perdoar e manter o perdão para sempre. Em matéria de amor é sempre bom não ter porque ser perdoado, é arriscado ferir um coração e valorizá-lo tarde demais.

Cláudia de Marchi

Wonderland, 30 de dezembro de 2010.

Nova fase.

Nova fase.

Depois de algumas vivências, muito amor, alegrias e frustrações devidamente bem vividas eu aprendi que a paciência é atributo dos fortes e que é preciso voltar atrás em muitas decisões quando elas são tomadas no calor da raiva para analisar as circunstâncias pacificamente e, então, decidir sem mudar de opinião.
Com um pouco de vida bem vivida eu aprendi que não importa quão aprimorada uma pessoa tente ficar, ela nunca escapa daquilo que foi, porque não são suas intenções e palavras que a tornam o que é, mas suas atitudes e pensamentos. O passado acompanha o homem, logo cada decisão e ato que toma deve ser bem avaliado: As suas conseqüências se perpetuam no tempo e na análise alheia.
Da mesma forma, não importa o quanto uma pessoa nos ame ou ache que ame, amor não é nada sem respeito e gratidão. Pelo contrário, amor sem consideração e gratidão é atributo dos senhores escravistas e não dos que possuem coração manso e doce, é típico de quem deseja ser servido e, quem ama, não serve, nem é servido, apenas respeita e acarinha.
Eu aprendi com a vida o que realmente suporto e o que realmente não tolero, sei hoje mais do que nunca o que quero para mim: Humildade de espírito, pouca fala e mais ação, menos sonhos e mais vida, mais silêncio e menos exaltação, mais “nós” do que “eu”, mais o hoje do que o ontem, mais elogios e menos auto-elogios, mais afeto do que ganância, mais consideração do que auto-consideração, mais respeito ao próximo do que exaltação de si mesmo, mais responsabilidade pelos próprios atos do que bodes expiatórios, mais limpeza de alma do que mecanismos de defesa do ego, e, sobretudo, mais compaixão do que egoísmo.
Não me importa se realizarei todos meus sonhos ou encontrarei o que sei que desejo na vida, me basta, no momento, a alegria de, sem lágrimas, rancor ou revolta, ter apreendido da minha existência o que realmente desejo para mim, esta felicidade principia uma nova fase na minha vida, e não me importa o futuro dela, me contenta a alegria de ter chegado até ela.

Cláudia de Marchi

Wonderland, 30 de dezembro de 2010.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O homem e seu passado.

O homem e seu passado.

Jesus Cristo acreditou na revolução interior, acreditou que as pessoas poderiam mudar e se libertar por completo de seu passado. Todavia, até onde eu sei, ele não casou ou assumiu publicamente um romance com a lady Madalena, por exemplo, e nem viveu décadas ao lado daqueles que lhe demonstraram querer seguir outro “caminho”.
As pessoas podem- e devem- evoluir, mudar de atitudes, mas, de uma forma ou outra, elas são hoje o resultado de seu passado. O homem pode tentar fugir dele, mas ele o persegue, não por menos é essencial a racionalidade e análise antes da tomada de decisões, sejam elas simplórias como dormir com alguém ou comprar uma bicicleta, sejam elas complexas, como casar com alguém e comprar um apartamento.
As pessoas sempre serão um pouco do que foram: Vulgares, elegantes, nobres, banais, inseguras, cheias de si, orgulhosas, humildes, exibicionistas. Por mais que o homem tente evoluir, algumas características são dele indissociáveis.
Disse o filósofo Confúcio: “Se queres prever o futuro, analisa o passado”, e após muitos sonhos, persistência e ilusões, eu percebi que é impossível ter orgulho daquilo que um ser humano se tornou, quando não conseguimos analisar com bons olhos o passado que ele teve, porque ele nos emana uma impressão, boa ou má, dependendo do que foi vivido, é claro.
Somos, portanto, inteiramente responsáveis pela vida que criamos, tendo por base os caminhos que escolhemos. O arrependimento ou a vontade de “ter feito” ou de fazer diferente não muda os atos realizados, aliás, nada pode fazer a situação anterior retornar ao que era quando se trata de atos realizados e palavras ditas. Nada, absolutamente nada, nem o amor e nem um milagre.
Milagre quem faz é o homem racional, porém sensível e inquinado de compaixão, que ama, respeita e não faz aos outros aquilo que não deseja que eles lhes façam, este sim, nunca terá porque ou do que se arrepender ou pedir perdão.

Cláudia de Marchi

Wonderland, 29 de dezembro de 2010.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Galanteadores ou enganadores?

Galanteadores ou enganadores?

Sinceramente, bem que eu tentei, mas não adianta, tenho asco de homem que elogia demais, que galanteia em excesso e que deseja parecer especial, aliás, isso vale para mulheres, contudo elas estarem longe de minha preferência sexual. Quem quer parecer aos outros muito “jóia rara” brilha bastante, mas é bijuteria de quinta.
Se a mocinha ou o rapaz se mostra de inicio muito doce, lhe paparica demais, e fala sobre sentimentos que são anormais sentir sem que se conheçam bem, faça um favor a si mesmo: Pule fora, responda como se acreditasse, mas não de a menor credibilidade ao que ouve, pense com o cérebro e não com a criança carente que tem dentro de si, da qual essa gentinha falsa adora se aproveitar.
Este tipo de ato é pura projeção de carência, a mocinha não diz que te adora mesmo sem ter ido para a cama com você ou passado uns bons dias ao teu lado porque “adora” mesmo, é porque, na verdade, aquele que ela gamou a desprezou, então ela sai mundo a fora despejando mel em qualquer flor para ver se um dia será amada, e, lamento dizer, mas a “qualquer” flor “da vez” pode ser você.
Sei que não soa agradável, mas existem muitas pessoas por ai que enganam corações sem o mínimo pudor, para terem, quem sabe, uma “garantia de afeto”. Afeto que um dia lhes faltou. Sentimentos genuínos não surgem do nada. É sempre bom desconfiar de quem elogia, “ama e adora” cedo demais, em palavras, afinal tais sentimentos se consubstanciam em respeito e surgem devagar, não de um dia para o outro. São as atitudes quem lhes provará e não conversinhas, cartas ou mensagens.

Cláudia de Marchi

Wonderland, 28 de dezembro de 2010

sábado, 25 de dezembro de 2010

"Todos são assim." Será?

“Todos são assim”. Será?

Percebo que muitas pessoas mantêm relacionamentos infelizes justificando sua inércia e comodismo ao quedarem-se inertes diante do descontentamento com a seguinte afirmativa: “Todos eles são assim”. Confesso que isso me causa um pequeno desconforto gástrico.
Independente do defeito que se deseja perdoar ou fingir que não existe fato é que ninguém é igual a ninguém neste mundo e nesta loucura de justificar os desaforos que se aceita atribuindo aos demais os mesmos defeitos do parceiro eu vejo mulheres serem humilhadas, agredidas verbal e fisicamente e homens saindo da cama para se satisfazerem no banheiro.
Pode ser que exista semelhança entre os seres e que, por serem humanos, todos passem longe da perfeição, a questão não é os defeitos pequenos ou grandes dos outros, mas o valor módico ou imódico que você se dá. A questão é, também, até que ponto o agir errado do outro fere sua base moral, sua auto-estima, seus sonhos, sua essência, é isso que indica se cabe relevar os "defeitos" do amado ou se eles são, realmente desrespeitosos.
O ponto central é o que você julga merecer, o comodismo com o pouco pelo medo da solidão, ou medo do risco de deixar a vida passar enquanto dorme só, ou, quem sabe, a felicidade de descobrir-se independente e feliz sem ter que justificar os erros alheios tentando generalizá-los para chegar à infeliz conclusão de que você não é o único ser mal-amado e infeliz do mundo.
Hoje em dia o que é precário não é o amor, as possibilidades de ser feliz, de viver bem a vida, o que esta realmente precária é a coragem humana para assumir mudanças, o auto-respeito para deixar de lado o que não faz bem e o brio necessário para admitir que existem muitas pessoas boas por ai querendo ser amadas e que elas não são iguais ao ser humano estúpido que você insiste em manter ao seu lado. Aliás, falando em estupidez, o tolo da história é quem mesmo?

Wonderland, 26 de dezembro de 2010.
Cláudia de Marchi

Trade-off afetivo

Trade-off afetivo.

Não existe trade-off apenas nas situações de gestão econômica, eles fazem parte, em dado momento, de nossa vida afetiva e equacionam à ela mais confusões do que nas tarefas dos economistas.
Trade-off expressa situações de conflito de escolhas em uma resolução de problema na econômica em que a sua resolução acarreta outro, ou seja, requer uma escolha. Obrigando o individuo a escolher entre uma e outra, afinal nenhuma das duas é perfeita e inquestionável, do contrário o trade-off não implicaria em um problema a ser solucionado.
Em nossa vida afetiva os trade-off são marcos doloridos, em especial porque o ser humano tende ao comodismo, tende a justificar sua acomodação com mil “tudos” verbais que, na verdade, não significam nada. Da mesma forma, românticos acreditamos que o amor é tudo, que ele supera e resolve tudo.
A vida a dois exige entrega de coração, de corpo, de alma, mas sem cobranças, sem exigências, sem dependência entre os parceiros. A partir do momento em que um tenta se apropriar da liberdade e dos sonhos do outro nada pode fluir, mas então surgem elas, as famosas, silenciosas e profundas promessas de mudança, aquelas que balançam os corações inocentes e desprevenidos, piorando a equação acarretada pelo trade-off.
Sou experiente em confiar em mudanças, sou uma das pessoas com maior fé no amor e no bem que Deus colocou na terra, e por isso estou um pouco cansada de palavras. Aos 28 anos, quase 29, eu quero atos, quero liberdade de mãos dadas, quero buscar meus sonhos sem que ninguém os critique, quero quem não se sinta inferior a mim e nem tente me fazer sentir menor, e, principalmente.
Quero um amor que nunca, mas nunca precise fazer promessas de mudanças para mim porque elas são tão injustas para quem as faz como para quem as ouve: Algumas diferenças são insuperáveis porque ninguém muda a própria essência, aquilo que aprendeu no convívio familiar, é injusto prometer algo que vai de encontro com seu próprio instinto, e é injusto com quem ouve porque, se ele ousar acreditar, estará se enganando de forma cruel e desnecessária.
No trade-off do descontentamento e da experiência afetiva, no caso de cansaço, de já terem se ouvido promessas o melhor é optar pela solidão, pela batalha pessoal pelos sonhos que se tem na vida, porque podemos amar muito alguém, no trade-off entre manter o amor em detrimento de nossa tranqüilidade e sonhos, a opção deve ser nós mesmos, porque este é e sempre será nosso primeiro e eterno amor.

Wonderland, 25 de dezembro de 2010.


Cláudia de Marchi

Natal 2010.

Natal 2010

Noite de natal, duas espumantes, algum diálogo e discordâncias familiares saudáveis. Tudo promete, mas nem tudo acontece, resta-me a paz, uma taça a mais, um doce para dar um “up” na glicose e outra dose forte e menos adocicada de reflexão.
A vida não é e nem será do jeito que quero, mas, sobretudo, além de ter constatado que me doei demais nesta vida, eu revivi um fato: Por mais que eu me entregue e ame demais, acima de tudo estou eu e minha auto-estima, minha valorização própria, meus sonhos e metas que ninguém pode mudar, mas que quem me ama pode- e deve- respeitar. Quem ama liberta e confia, isto é um fato inolvidável.
E assim estou eu, sozinha, um pouco tonta, com a boca doce de brigadeiros para amenizar o mini porre, assim sou eu sozinha, sem ninguém a me iludir, sem ninguém para pensar no amanha enquanto olvida do hoje, sem ninguém que diz que me ama e que espera meu servilismo maternal. Assim estou no Natal 2010: Sem ninguém dizendo que me ama, sem ninguém, quiçá, me amando realmente, mas sem ninguém colocando minha paciência e auto-estima a prova, somos apenas eu, meu gato, minha cama, minha espumante, minha barriga farta após a ceia familiar, minha esperança e Deus a iluminar os meus sonhos. Isso me basta, sem ilusões.
Nada é ruim quando entendemos o porquê mudamos, o porquê revolucionamos nossa vida aparentemente perfeita. Sempre houve e sempre vai existir um porque por trás de todos os nossos atos, nem todos podem ser entendidos, mas quem sequer se dedica a isso merece nada mais que nosso desdém.
E assim sigo minha vida sozinha, mas muito bem acompanhada pela minha fé na vida e esperança no amor, no ser humano e no amanha, porque, com certeza dias e natais melhores virão, depende de mim, apenas de mim. Porque se existe algo cristão que todo homem deve atentar nesta época de término de ano é que tudo de ruim ou de bom que nos acontece não ocorre em vão.
Não somos vítimas de nada: Para cada ato errado haverá uma expiação, para cada ato nobre uma recompensa divina, aliás, no quesito “atos” o Divino só entra em cena ai: Ele olha o nosso agir e dá nossa recompensa de acordo com nosso mérito ou demérito. Ninguém é inocente sob os olhos de Deus, não quando fala, pensa e abre os olhos, ou seja, ninguém, nunca.

Cláudia de Marchi

Wonderland, 25 de dezembro de 2010.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Abdicações

Abdicações
Não existe trade-off apenas nas situações de gestão econômica, eles fazem parte, em dado momento, de nossa vida afetiva e equacionam à ela mais confusões do que se fossem tarefa única dos economistas.
Trade-off expressa situações de conflito de escolhas em uma situação econômica em que a sua resolução acarreta outro, obrigando o individuo a escolher entre uma e outra, afinal nenhuma das duas é perfeita e inquestionável, do contrário o trade-off não seria um problema a ser resolvido, afinal, os maiores problemas são os que exigem uma escolha com a qual iremos nos afastar de outras possibilidades.
Em nossa vida afetiva os trade-off são marcos doloridos em especial porque o ser humano tende ao comodismo, tende a justificar sua acomodação com mil “tudos” verbais que, na verdade, não significam nada. Da mesma forma, românticos, acreditamos que o amor supera e resolve tudo, o que é uma inverdade.
A vida a dois exige entrega de coração, de corpo, de alma, mas sem cobranças, sem exigências, sem possessividade. A partir do momento em que um tenta se apropriar da liberdade e dos sonhos do outro nada pode fluir, mas então surgem elas, as famosas, silenciosas e profundas promessas de mudança, aquelas que balançam os corações inocentes e desprevenidos, piorando a equação acarretada pelo trade-off.
Sou experiente em confiar em mudanças, sou uma das pessoas com maior fé no amor e no bem que Deus coração na terra, e por isso sou um pouco cansada de palavras. Hoje quero atos, quero liberdade de mãos dadas, quero buscar meus sonhos sem que ninguém os critique, quero quem não se sinta inferior a mim e, principalmente, quero um amor que nunca, mas nunca precise fazer promessas de mudanças. Para mim, elas são tão injustas para quem as faz como para quem as ouve: Algumas diferenças são insuperáveis, ainda que seja prometida sua mudança.
Wonderland, 21 de dezembro de 2010.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Boa decisão.

Boa decisão.

Nunca decida nada quando estiver com raiva, quando a revolta te domina, quando a impaciência falar alto diante de algum descontentamento avantajado. Decisões foram feitas para ser tomadas com frieza, muita frieza, o que descompassa por completo do calor demasiado despertado pela ira.

É preciso pensar muito antes de tomar qualquer tipo de decisão não pelo risco de se arrepender unicamente, mas pela possibilidade de “voltar atrás”. Decisões foram feitas para ficarem no passado, para serem efetivadas e não remendadas posteriormente.

Quem pensa antes de agir, quem age racional e friamente não volta atrás em suas decisões, as toma com sabedoria e razão, literalmente, e portanto não as muda.

Assim como não se pode dirigir após ingerir álcool, não se deve tomar decisões após se embriagar com a ira que, tal qual aquele, destorce os sentidos, a razão, e, conseqüentemente compromete por completo a boa tomada de decisões.

É preciso muita reflexão, é preciso sopesar prós e contras sobre tudo, é preciso agir com convicção após análise fria e racional do que nos importa. Agir com base na fúria, na revolta e na ira implica em decisões infantis, tolas e, portanto, errôneas.

Cláudia de Marchi

Wonderland, 16 de dezembro de 2010.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Projeções Reveladoras

Projeções Reveladoras

Tinha razão aquela pessoa que disse que por mais tempo que você conheça alguém nunca o conhecerá o bastante. As pessoas mudam, envelhecem, mas guardam em si o instinto e um pouco do que já foram, e é ai que você pode se decepcionar.

Nunca pensei nisso, mas deveríamos escolher com quem passar nossas vidas após analisar o currículo pretérito desta pessoa perante o mundo, antes de nos conhecer. Sim, porque de regra todos querem “fazer bonito”, mostrar-se conosco semelhantes, ainda que para isso nos enganem. Enganem feio.

Mas o tempo passa e aos poucos as máscaras vão caindo. É impossível para alguém se censurar o tempo inteiro, e é ai que você vai conhecê-lo, nas entrelinhas de seus discursos bonitos, na critica da conduta alheia que mais do que apontar os defeitos dos outros, revela, na verdade, quem é aquela pessoa que esta ao seu lado, que, pasme, pode ser alguém muito diferente daquela pela qual você se encantou. Encantou porque projetou suas virtudes nela, frise-se bem.

Aliás, projeção é algo fantástico! A pessoa revela mais sobre ela quando julga os outros do que quando tenta atuar sendo “ela mesma” na vida. Cuidado, com o individuo que julga mal as pessoas sem ter certeza de seu agir, correto ou não. Ouvir mais do que falar é uma boa forma de conhecer quem esta ao seu lado, para que, cedo ou tarde, você não se depare dormindo com alguém que é o avesso do avesso do avesso de você.

Guarde sua inocência e virtudes para seus familiares, seu pai, sua mãe e irmãos. Analise os outros com a razão, deixe-os falar, deixe-os julgar o mundo e assim verá quem é a pessoa que, à primeira vista, se revelou tão inocente quanto você. Porque lá (na primeira vista) quem projetou (suas virtudes) foi você.

Cláudia de Marchi

Wonderland, 14 de dezembro de 2010.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Preciso de silêncio.

Preciso de silêncio.

Eu preciso de um pouco de silêncio. Não quero ter que responder a pergunta alguma, não quero dar parecer verbal sobre nada, não quero que me peçam ajuda. Não quero ajudar ninguém, não agora. Quem eu queria, não consegui, Deus me levou antes de eu conhecer.

Perdi meu irmãozinho recém nascido na terça-feira, e isso mexeu demais comigo. Eu não sou fraca, mas diante da vida e de desígnios que desconheço me sinto um pequeno nada no mundo. Mas, para algumas pessoas eu tenho certa importância. E elas insistem em me requisitar demais num momento em que minha alma precisa de folga.

O cansaço do corpo não é nada se comparado ao do coração, da alma, da mente. Eu queria poder ficar só por alguns instantes, ou, ao menos, com quem consiga me deixar em silêncio um pouco, com quem possa me dar mais atenção do que receber. E que esta atenção seja mais carinhosa do que agitada, explicita, falante.

Não sou o tipo de pessoa que possui muitas necessidades, que requer muitas coisas. Metade do amor que preciso eu mesma me dou, mas a outra metade é sempre saudável, assim como respeito, consideração e carinho. Um pouco de silêncio quando a alma esta cansada é sempre bom, assim como um afago. Cobranças, exigências e solicitações em demasia, num momento delicado, apenas machucam, doem, cansam e extenuam. Ainda mais.

Cláudia de Marchi

Wonderland, 11 de dezembro de 2010.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A vida diante da morte.

A vida diante da morte.

O homem não aprende nada sobre a vida enquanto a morte não lhe tira alguém que ama. O homem nada sabe sobre a dor e sobre a angústia enquanto não se depara com a morte de alguém querido.

Pode a pessoa ter perdido um grande amor, pode ter perdido um amigo, terminado uma relação com a intenção e certeza de nunca mais retomá-la, nada saberá sobre a saudade e a dor da alma que ela causa sem que conheça a tristeza da morte.

Disse Raul Seixas que “ninguém neste mundo é feliz tendo amado uma vez”. Besteira. Amor nunca traz infelicidade, nem mesmo quando a relação termina com traição e desgosto. Enquanto se há vida e possibilidade de recomeçar nunca haverá infelicidade plena. Novos amores e relacionamentos renascem e nascem, mas filhos, irmãos, amigos, maridos, pais, enfim, novas pessoas, não.

Difícil mesmo é sentir da mesma forma, viver da mesma forma e ver a vida da mesma forma que se via antes de perder, para a morte, alguém que se ama. Não digo que ninguém neste mundo é feliz tendo enfrentado tal perda, mas ninguém fica como “era” antes de presenciar com alguém próximo a confirmação da única certeza da existência: A da morte.

A morte de alguém que amamos, por mais cristãos e conformados que sejamos nos modifica, e, porque não dizer, nos aprimora. É preciso enfrentar muitas batalhas para vencer a guerra chamada vida, ainda que nossa medalha seja a eternidade, ainda que a única certeza seja que, ganhando ou perdendo, um dia partiremos deste mundo.

Um dia não seremos mais fortes ou fracos, belos ou feios, ricos ou pobres, cultos ou ignorantes, seremos, apenas pó. Pó e saudade para quem nos amou. O homem é as suas atitudes, as lembranças boas que deixa, o bem que faz, vivemos individualmente e quando morremos nada mais somos do que uma figura na memória alheia. Esta é a vida. A vida diante da morte.

Cláudia de Marchi

Wonderland, 09 de dezembro de 2010.