A vida diante da morte.
O homem não aprende nada sobre a vida enquanto a morte não lhe tira alguém que ama. O homem nada sabe sobre a dor e sobre a angústia enquanto não se depara com a morte de alguém querido.
Pode a pessoa ter perdido um grande amor, pode ter perdido um amigo, terminado uma relação com a intenção e certeza de nunca mais retomá-la, nada saberá sobre a saudade e a dor da alma que ela causa sem que conheça a tristeza da morte.
Disse Raul Seixas que “ninguém neste mundo é feliz tendo amado uma vez”. Besteira. Amor nunca traz infelicidade, nem mesmo quando a relação termina com traição e desgosto. Enquanto se há vida e possibilidade de recomeçar nunca haverá infelicidade plena. Novos amores e relacionamentos renascem e nascem, mas filhos, irmãos, amigos, maridos, pais, enfim, novas pessoas, não.
Difícil mesmo é sentir da mesma forma, viver da mesma forma e ver a vida da mesma forma que se via antes de perder, para a morte, alguém que se ama. Não digo que ninguém neste mundo é feliz tendo enfrentado tal perda, mas ninguém fica como “era” antes de presenciar com alguém próximo a confirmação da única certeza da existência: A da morte.
A morte de alguém que amamos, por mais cristãos e conformados que sejamos nos modifica, e, porque não dizer, nos aprimora. É preciso enfrentar muitas batalhas para vencer a guerra chamada vida, ainda que nossa medalha seja a eternidade, ainda que a única certeza seja que, ganhando ou perdendo, um dia partiremos deste mundo.
Um dia não seremos mais fortes ou fracos, belos ou feios, ricos ou pobres, cultos ou ignorantes, seremos, apenas pó. Pó e saudade para quem nos amou. O homem é as suas atitudes, as lembranças boas que deixa, o bem que faz, vivemos individualmente e quando morremos nada mais somos do que uma figura na memória alheia. Esta é a vida. A vida diante da morte.
Cláudia de Marchi
Wonderland, 09 de dezembro de 2010.
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