Só existe uma espécie de gente miserável neste mundo: A que se acha poderosa. Todo ser humano que, por vã ilusão ou por infelicidade em forma de auto-afirmação demonstra verbalmente que crê que é mais importante, mais belo, mais interessante ou mais rico que os demais é pobre, vazio e tolo.
Sou capaz de suportar muitas coisas, mas, beirando a fase balzaquiana da vida não suporto gente arrogante, até mesmo porque, de todos os mecanismos de defesa do ego, a arrogância e a empáfia são as mais tolas e maldosas.
Quem “é”, quem “faz” e quem realmente possui motivos para se sentir psiquicamente realizado consigo mesmo e perante a vida não precisa se auto-afirmar e, menos ainda, tentar tripudiar da existência alheia para enaltecer a sua.
Quem faz isso é justamente porque no fundo tem consciência de que não passa de um nada mal jogado no mundo onde mal e parcamente consegue cativar o amor alheio. (Até mesmo porque não possui o próprio, embora tente demonstrar o contrário).
Conversas auto-elogiosas e afirmativas egocêntricas e narcisistas passaram a me anojar assustadoramente. Eu gosto de gente que sente compaixão, de gente sensível, de gente que se valoriza e ama a vida, respeita o ser humano e compreende que dos outros nada mais é do que um “igual diferente”: Não é melhor, nem pior, apenas diferente e se existe uma forma de se rebaixar, ou melhor, de demonstrar que é inferior, é justamente quando tenta se exaltar.
Cláudia de Marchi
Wonderland, 31 de dezembro de 2010.