Cinquenta tons de anti-romantismo.
Quando eu era romântica-otária e alguém que estava interessado em mim
dizia que eu "era boa demais pra ele", eu achava a frase elogiosa.
Quando eu era romântica-otária eu achava que a pessoa agia de forma rude
eventualmente por se sentir assustada diante de seus sentimentos fortes por mim.
Quando eu era romântica-otária eu era indulgente quando o outro
descontava o seu estresse em mim. Ah, eu tentava compreender as pressões
psicológicas e profissionais que o cidadão tinha, eu até
gastava o tempo da minha terapia para compreender as raízes anímicas dos
problemas psíquicos do parceiro. Por quê? Porque eu era romântica-otária,
porque eu era daquelas que acreditava que o meu coração e amor mudariam o outro
e, quiçá, o mundo!
Se bem observado há doença no
romantismo-otário: a pessoa emerge a si e a seu sentir a tal ponto de
importância que pensa que serão milagrosos. Se hoje alguém me diz que eu sou a
pessoa que ele quer ser, eu sumo, afinal eu quero admirar alguém e não apenas
ser admirada. Eu desejo aprender e não apenas ensinar, ora essa!
Se a criatura diz que sou boa demais
pra ela, eu nem deixo terminar a frase e já entro no modo
"invisível". Hoje, se eu constato que a pessoa tem "noias",
problemas de autoestima ou acha que eu ou qualquer pessoa servimos como
"saco de pancadas", saio pela tangente e sugiro que a criatura
procure um terapeuta.
Hoje eu acredito no amor, mas não em
escora, eu acredito no amor, mas não quero ser a cura pra ninguém. Ou a pessoa
é bem resolvida e da o valor que eu mereço ou "saio fora".
Não faço sacrifícios por ninguém, não
me esforço para entender alguém ou para ir a fundo à compreensão dos seus
problemas, porque não sou e nem quero ser terapeuta de gente complicada. Eu
quero simplicidade, eu quero me sentir "agregada" e também não quero
ser metade de ninguém, pois sou inteira demais.
Quero mesmo uma relação
divertidamente seria formada por duas pessoas completas, maduras e que desejam
viver o bom do amor, porque desventuras é coisa que o romantismo-otário colocou
na cabeça feminina para que a mulherada ache relação abusiva algo intenso e
bonito.
Outro
dia assisti pela primeira vez ao famoso “Cinquenta tons de cinza” e, apesar das
tentações taticamente inseridas com o personagem Grey (27 anos, gato, corpão,
cara séria praticamente intimidadora, bem vestido, mãos fortes, milionário e
solteiríssimo- a maior virtude do sujeito!!!), terminei o filme anojada do
sujeito.
O
milionário gatão desconta no sadismo suas frustrações, é um moço problemático
que tem que dominar para ter prazer e, nesta de domínio, não tem a afetuosidade
capaz de fazer a mocinha, estudante de literatura, romântica e virgem,
plenamente feliz. Aliás, existiria uma parceira mais perfeita para um homem
abusivo? Uma romântica e ingênua donzela! A Anastásia é uma porção que toda mulher
tem ou teve, daí o sucesso da trama.
Todavia a vida ensina e o romantismo
fica de lado quando a gente percebe que relacionamento é mutualismo: amor,
prazer, carinho, respeito, afeto e atenção! Onde um dá mais do que recebe não
existe relação, existe doença! Ou seja, a solução é buscar tratamento e superar! Ah, quando uma mulher se desapega do
romantismo-otário existe 95% de chance de ela ficar solteira, porque o que mais
se vê por aí é galãzinho problemático e homem despreparado para cuidar de
mulher bem resolvida.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 14 de dezembro de 2015.
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