Delegação
de culpa.
O primeiro passo para o crescimento é assumir a culpa pelos seus
deméritos. Todavia, o ser humano adora delegar: o que de bom lhe ocorre é
"graças a Deus", o ruim é culpa alheia. Reprovou? Culpa do professor,
aquele inútil que não introjeta o conteúdo no seu cérebro. Marido infiel? Culpa
das “piriguetes”.
Você tem "pitis" de grosseria, não tem paciência para nada ou
ninguém? Capaz, você é um incompreendido! Você é desagradável, chato e
arrogante? Não, você não é! A culpa é do "recalque",
desse povinho que tem "inveja" de você e é exatamente por isso que
nem uma árvore lhe suporta. Enfim, não sei "desde" quando, mas o
"mea culpa" está virando mito! O preocupante é que sem assumir as
suas próprias falhas ninguém melhora.
O acadêmico continuará estudando
pouco ou olvidado de sua dificuldade de aprendizado, pois a culpa pela
mediocridade de seu desempenho é do professor, a esposa continuará amarga e
relapsa, porque o marido só é infiel, porque existem moças assanhadas.
O sujeito não vai procurar tratamento
psiquiátrico para seu desequilibro, porque ele é "equilibrado" os
outros é que lhe irritam, a pessoa chata e arrogante não irá mudar, afinal os
outros é que estão errados em não lhe "gostar".
O triste, na verdade, é que a
sociedade vale-se de seus preconceitos para imputar a culpa preferencialmente
em algumas pessoas em detrimento de outras. Negros antes dos brancos, gays
antes dos heterossexuais, mulheres antes dos homens, pobres antes dos ricos e
assim por diante.
Já prestou atenção no que ocorre
quando há traição do marido em relação a esposa? Ela é apedrejada, a amante
será apedrejada, mas não o homem, ele, “coitadinho”, só seguiu seus instintos,
afinal a mulher não lhe dava carinho suficiente e a “outra” (a vadia da
história), valendo-se de sua “inocência” o seduziu impiedosamente.
Ah, coitado! E, quando a mulher trai
o marido? Ah, ela será mal julgada e ele até consegue salvo conduto para
desmoraliza-la e, até, agredi-la, com o aval da sociedade, porque, “obviamente”,
ele não deu ensejo á traição.
Se o cidadão é um tosco milionário,
nada afetuoso e que só sabe ostentar o que tem e engravida a namorada pobre,
ah, o que as pessoas dirão? Ela deu o “golpe”, ela é uma “piranha interesseira”
e acabam por esquecer que o infeliz só é “gente” na ordem do dia, porque tem
dinheiro e que poderia ter usado camisinha e não usou! Enfim, a sociedade
fomenta a delegação de culpa privilegiando alguns e prejudicando outros de
acordo com seu livre (e injusto) arbítrio.
Enfim, prevejo um mundo cheio de
pessoas acomodadas com suas fraquezas, afinal elas não têm culpa de nada. Ou melhor,
e humoradamente, podemos dizer que, como a culpa é delas, elas têm o direito de
coloca-la em quem bem entenderem. Seria cômico, se não fosse trágico.
Cláudia
de Marchi
Sorriso/MT,
17 de dezembro de 2015.
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