Óbvio?
Ontem eu havia acordado após um salutar sono vespertino, e, acompanhada de algumas pessoas assisti por breves instantes em um canal televisivo uma mulher que se tornou conhecida no País inteiro por dar palestras sobre como uma mulher deve agir para seduzir um homem, sentir-se bela e competente, e algumas maneiras para reforçar a autoconfiança de algumas para, com isso, sentirem-se "destemidas" em seus relacionamentos afetivos, ou meramente sexuais.
Obviamente a existência daquela mulher, morena, porém sem muitos atrativos físicos, sem um corpo exuberante, sem lábios carnudos e, aparentemente, sem ter se entregado a dupla "silico-lipo" suscitou comentários negativos nas mulheres presentes no ambiente. Diziam que ela falava o "óbvio", e "como seria possível alguém ganhar tanto dinheiro" (como se soubessem o quanto a dita conselheira ganha por mês) falando o "óbvio"? Bem, eu ora silenciei, ora erigi-me em defesa da simpática mulher que não tem beleza marcante, mas tem a marca que as poucas pessoas fortes possuem: Auto estima e inteligência emocional.
O "óbvio" para alguns é um tesouro escondido no mais recôndito da alma de outros e, quiçá dos petulantes que chamam aquilo de "óbvio" porque nunca vivenciaram determinada situação, porque falar algo na teoria é bem diferente de vivê-lo na prática, assim como os romances narrados em livros ou no cinema são bem diferentes dos romances reais. Assim aquele "óbvio" é algo difícil de se encontrar, e aquela mulher deixou para os que lhe pediam conselhos, (desde como esquecer alguém até como potencializar o orgasmo) frases que servirão como setas indicando o caminho da mudança que certas mulheres precisam (inclusive aquelas que criticaram a "existência" da "Sra. viva a auto-estima").
No entanto, afirmo que cada pergunta que lhe era feita quer fosse como fazer um strip-tease, quer como esquecer uma antiga paixão, enfim, todas as questões vinham envolvidas pela "fera" que assombra 8 entre 10 mulheres (e homens também): A insegurança.Não adianta, se o mal da maioria dos homens é o egoísmo e a falta de perspicácia para reparar pequenos fatos, o mal das mulheres é a falta de segurança em si mesmas, provinda, via de regra, da carência, que é a "filha única mimada" da falta de amor próprio.
E, lamentavelmente, esta "família desconstituída" atormenta as mulheres. Não há prozac, frontal, lexotan, pamelor, plástica, lipoaspiração, polifenóis de alcachofra, botox (na testa, na boca, ou onde precisar), silicone nos seios, no glúteo, que curem a insegurança (ainda não se ouviu falar de "cirurgia para aumentar a capacidade mental”). A auto imagem pode melhorar, o sono aumentar, a necessidade de chocolate e doces diminuir, mas a insegurança e a carência só terminam com uma mudança efetiva na forma de se "auto projetar", na forma de pensar, e de encarar a vida.
Para isso existem pessoas como a mulher que aparecia na televisão (só lembro que o sobrenome era Penteado o nome esqueci). Pessoas que auxiliam as desprovidas do que ela possui (auto-estima) a crescer mentalmente e a se gostarem, posto que muitas mulheres se exigem muito por se compararem com as demais.
É possível ser a melhor amante, a melhor esposa, a melhor mãe e cozinheira, mas, para isso não se pode comparar é preciso fazer o seu melhor dentro da própria vida e das possibilidades que ela propiciou, ver o que nela se pode fazer de melhor, qual o caminho para o aprimoramento pessoal, ignorando que a outra faz uma massa melhor, que tem a bunda menor e o seio mais firme, que é mais bronzeada ou menos flácida, é preciso, (agora eu digo o "óbvio") se aceitar como é, amar o que tem e desejar evoluir, sem comparação depreciativa com os outros, mas tendo como "margem" o que melhor se pode ser dentro das próprias limitações..
Esse é o "óbvio" que a "não bela", mas sábia instrutora emocional-sexual possui em mente e que muitas donzelas, muitas musas, muitas crentes, enfim, muitas mulheres (e homens também) não possuem, e é isso que faz dela uma mulher especial e, inegavelmente, bem amada, afinal, apenas quem se ama pode ser bem amado, apenas quem se prioriza efetiva seus ideais, pois quer acompanhado, quer só, esta de bem consigo.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 11 de fevereiro de 2005.
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