Eu, Schopenhauer e a maldade.
Folhando papéis antigos encontrei uma citação do único filósofo que minha mãe, (que nunca foi dada a leituras), leu e me deu o livro do qual tirei alguns trechos e anotei em uma "agenda" há muitos anos atrás. Bem, era um livro de Arthur Schopenhauer, e a citação que inseri em minha agendinha adolescente dizia o seguinte: "Quanto mais enxerga as distinções - ou seja, quanto mais inteligente é -, maior é a dor que o homem sente: aquele que é dotado de gênio sofre mais do que os outros."
Certamente a citação se adequava aos meus sentimentos de adolescente, em uma cidade estranha, sem irmãos, e, como sempre, "estranhando" as companhias, afinal dos 12 aos 16 anos (ou seria dos 10 aos 18?) eu me sentia uma espécie de "Carrie - A estranha", menos macabra e feia é claro, mas "estranha" porque não encontrava justificativa para dores e sentimentos que ninguém se importava, não encontrava explicação para a maldade, para a inveja, para a falsidade, enfim, para todas as manifestações de ignorância humana que sempre irão me perseguir (que perseguem todo o homem de alma pura). Ou melhor, eu me sentia "perseguida" porque sofria com tais sentimentos desgraçados: a maioria não sofre porque não sente.
Mas a vida surpreende. Amadureci, evolui, aprendi a ignorar o que poderia me afligir, contudo percebi que não adianta fugir do que nos cerca: A ignorância humana. Não sei se sou "inteligente" no sentido dado por Schopenhauer, mas sempre enxerguei as distinções, e fui (sou e serei), como muitos, ferida pela maldade humana. Creio, porém, que a dor que sente quem não consegue entender o "porque" do agir humano maldoso e egoísta sofre como aquele que leva uma surra, porém a dor é na alma, e a ferida se abre nela, que fica cansada, como o corpo de um lutador após uma batalha.
Quem sabe analisar e vê o desagradável constata o que aqueles que não analisam senão as superficialidades não vêem, e sofre por, muitas vezes, não encontrar compreensão para sua agitação mental, para sua frustração com o mundo, pois assim como os fúteis, muitos ignoram a maldade por acovardarem-se em idealismos incoerentes e distantes da realidade, e outros, simples e lamentavelmente, já se contaminaram com o pensar da maioria.
Aquela, tão (por mim) falada maioria que não pensa nos outros, a maioria que fala em pecado - fala em inveja, fala em cobiça, fala em preguiça, fala em vaidade, enfim critica os atos vis do ser humano e age contra o maior preceito de bondade: não fazer para os outros o que não se deseja para si.
É constatando a ausência deste "pensar e colocar-se no lugar do outro" que fez com que na infância, na adolescência e que agora na fase adulta, contudo jovem, eu estranhe o mundo. Estranhe a futilidade, a supervalorização do que é perecível, que faz com que até mesmo os relacionamentos se tornem vulgares e frívolos. Busco e encontro explicações para muitas agruras humanas, mas não consigo deglutir a falsidade, a ignorância, o egoísmo, a futilidade, a arrogância, as obsessões e apegos desprovidos de respeito. Não, consigo, enfim, assimilar a falta de respeito dentre seres iguais, dentre os seres humanos.
Não fazer para o outro o que não desejamos que nos façam é a maior prova do respeito e do amor ao próximo que impede a ocorrência de grandes barbáries até pequenas injustiças que doem como um corte de gilete que, contudo pequeno, é difícil fazer parar de sangrar.
Concordo, pois, com o único filósofo que minha mãe leu. Daquela citação jamais esquecerei, ou, ainda que, com o tempo, da minha memória ela se apague, tenho certeza que seu significado será, lamentavelmente, constatado durante toda minha existência, vez que não posso fugir de meu próprio gênio, de minha própria alma e da sensibilidade que lamenta, constantemente, a falta dela na maioria das pessoas.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo/RS, 12 de junho de 2005.
Folhando papéis antigos encontrei uma citação do único filósofo que minha mãe, (que nunca foi dada a leituras), leu e me deu o livro do qual tirei alguns trechos e anotei em uma "agenda" há muitos anos atrás. Bem, era um livro de Arthur Schopenhauer, e a citação que inseri em minha agendinha adolescente dizia o seguinte: "Quanto mais enxerga as distinções - ou seja, quanto mais inteligente é -, maior é a dor que o homem sente: aquele que é dotado de gênio sofre mais do que os outros."
Certamente a citação se adequava aos meus sentimentos de adolescente, em uma cidade estranha, sem irmãos, e, como sempre, "estranhando" as companhias, afinal dos 12 aos 16 anos (ou seria dos 10 aos 18?) eu me sentia uma espécie de "Carrie - A estranha", menos macabra e feia é claro, mas "estranha" porque não encontrava justificativa para dores e sentimentos que ninguém se importava, não encontrava explicação para a maldade, para a inveja, para a falsidade, enfim, para todas as manifestações de ignorância humana que sempre irão me perseguir (que perseguem todo o homem de alma pura). Ou melhor, eu me sentia "perseguida" porque sofria com tais sentimentos desgraçados: a maioria não sofre porque não sente.
Mas a vida surpreende. Amadureci, evolui, aprendi a ignorar o que poderia me afligir, contudo percebi que não adianta fugir do que nos cerca: A ignorância humana. Não sei se sou "inteligente" no sentido dado por Schopenhauer, mas sempre enxerguei as distinções, e fui (sou e serei), como muitos, ferida pela maldade humana. Creio, porém, que a dor que sente quem não consegue entender o "porque" do agir humano maldoso e egoísta sofre como aquele que leva uma surra, porém a dor é na alma, e a ferida se abre nela, que fica cansada, como o corpo de um lutador após uma batalha.
Quem sabe analisar e vê o desagradável constata o que aqueles que não analisam senão as superficialidades não vêem, e sofre por, muitas vezes, não encontrar compreensão para sua agitação mental, para sua frustração com o mundo, pois assim como os fúteis, muitos ignoram a maldade por acovardarem-se em idealismos incoerentes e distantes da realidade, e outros, simples e lamentavelmente, já se contaminaram com o pensar da maioria.
Aquela, tão (por mim) falada maioria que não pensa nos outros, a maioria que fala em pecado - fala em inveja, fala em cobiça, fala em preguiça, fala em vaidade, enfim critica os atos vis do ser humano e age contra o maior preceito de bondade: não fazer para os outros o que não se deseja para si.
É constatando a ausência deste "pensar e colocar-se no lugar do outro" que fez com que na infância, na adolescência e que agora na fase adulta, contudo jovem, eu estranhe o mundo. Estranhe a futilidade, a supervalorização do que é perecível, que faz com que até mesmo os relacionamentos se tornem vulgares e frívolos. Busco e encontro explicações para muitas agruras humanas, mas não consigo deglutir a falsidade, a ignorância, o egoísmo, a futilidade, a arrogância, as obsessões e apegos desprovidos de respeito. Não, consigo, enfim, assimilar a falta de respeito dentre seres iguais, dentre os seres humanos.
Não fazer para o outro o que não desejamos que nos façam é a maior prova do respeito e do amor ao próximo que impede a ocorrência de grandes barbáries até pequenas injustiças que doem como um corte de gilete que, contudo pequeno, é difícil fazer parar de sangrar.
Concordo, pois, com o único filósofo que minha mãe leu. Daquela citação jamais esquecerei, ou, ainda que, com o tempo, da minha memória ela se apague, tenho certeza que seu significado será, lamentavelmente, constatado durante toda minha existência, vez que não posso fugir de meu próprio gênio, de minha própria alma e da sensibilidade que lamenta, constantemente, a falta dela na maioria das pessoas.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo/RS, 12 de junho de 2005.
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