Castelos arruinados
É preciso mais do que coragem para romper com planos. É preciso humildade. O ser humano vive de planos, por mais que tente apregoar o “viver um dia de cada vez”.A gente pode curtir um dia de cada vez, mas sem planos para um amanha, próximo ou futuro, ninguém levantaria da cama. Ninguém teria entusiasmo para trabalhar, para batalhar, para entregar o coração e a confiança à alguém que possa ser tido como digno deles.E, assim, a gente trabalha hoje, vive o hoje, devendo aproveitar ao máximo nossos momentos com quem amamos e fazendo o que gostamos, mas pensamos no que poderemos fazer em nossas férias, no final de semana, na jantinha especial com a pessoa amada.A gente se encontra hoje, rola a química, e ficamos pensando num próximo encontro. A gente namora e pensa como será a pessoa amanha, se nossas metas serão convergentes, se poderemos formar uma família legal, com comunhão de pensamentos e sentimentos.Mas, e quando algo surge e bloqueia a estrada de nossos planos? Quando a gente percebe que aquela pessoa não nos completa, não nos faz feliz, não será aquela que no amanha irá nos alegrar, ser um bom companheiro, uma boa parceira? E quando a gente vê que a moça linda que esta ao nosso lado não nos palpita nada mais que atração, carinho, amizade?E quando o trabalho nos descontenta? É difícil aceitar o fim de uma relação, é difícil aceitar e admitir que, por algum motivo e em algum aspecto fracassamos. Por motivos alheios ao nosso ânimo e entusiasmo inicial nossa relação fracassou, nosso negócio deu errado, nossas amizades enfraqueceram.É preciso coragem para dar um basta em algo, é preciso aceitar a nossa impotência diante de certos motivos, as nossas culpas em relação a outros, as nossas omissões que se tornaram falhas sérias, precisamos rever nosso agir, aceitar o que fizemos de errado, de certo e compreender que nem sempre o fracasso depende unicamente de nossa conduta, mas a sua aceitação sim, depende unicamente de nossa maturidade, coragem e humildade de espírito.Se é difícil assumir o fim, a frustração, o “tentei, mas não deu certo”, o “lutei mas perdi a batalha”? Sim. Se dói? Muito, e no orgulho. Na verdade é o orgulho que nos faz insistir e sofrer ainda mais, é ele que nos faz fazer de uma batalha uma guerra visando uma vitória que não existirá, porque se fosse para existir não seria necessário lutar, batalhar, pisar em cima de orgulho e de outros valores, o que é pra dar certo, dá sem tanto padecimento.O ser humano sofre pelo próprio orgulho e teimosia. Frustra-se, cria castelos de planos, destrói castelos, mas de seus destroços reconstrói sua auto-estima com mais sapiência. Cresce enquanto pessoa adquire méritos de valores inestimáveis, impassíveis de serem adquiridos por qualquer fortuna.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 10 de novembro de 2008.
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