Intensidade e sentimentos
Sou incapaz de negar meus sentimentos, minhas características, dentre as quais, a principal, a intensidade. Eu só sei viver e agir com intensidade, se for para ser superficial, eu desisto, se for loucura pouca, para mim, é bobagem, não vale a pena. Sou intensa na alegria, no riso, no sorriso, na lealdade, na paixão, no amor, na excitação, na energia, nas vontades, no ânimo, nos sonhos, na busca, mas também sou intensa na ira, no desprezo, no desdém, no repúdio, na tristeza, na depressão, em todos os sentimentos, dos mais nobres aos mais vis, eu não temo senti-los desde que, ao fim, eu os supere. Apesar de ser feliz, às vezes a dor me importuna, já passei por muitas, como, por exemplo, a da separação. Aquele sentimento terrível de cama vazia, coração despedaçado, vida usurpada, sonhos extintos, tempo desperdiçado, alma desconsertada, desvalorização e tristeza. Muita tristeza. Em momentos como este, que eu já passei, (logo, posso aconselhar): apenas sofra, não mascare a dor. Nenhuma garrafa de vodka, nem o melhor vinho, a melhor espumante, o melhor psicotrópico, o melhor chocolate e a bolsa Victor Hugo mais chique e linda lhe recomporão o coração. Acredite: em horas você estará chorando aos prantos na beira da privada regurgitando a bebidinha cara que tomou e tendo vontade de transformar o belo jacquard da bolsa nova em lenço. Qual o remédio, pois, para a tristeza da separação, para a dor da perda? O tempo e a fé, de que algo melhor há de ocorrer, qual o antídoto? No meu caso, de pessoa demasiado intensa, nenhum. Para as pessoas normais, talvez sirva de conselho o seguinte: tema mais, se resguarde. Lamentavelmente tal conselho não me serve, não se coaduna com a pessoa que sou. Mas, um dia, quem sabe, eu me torne menos intensa nos meus laços.
Cáudia de Marchi
Passo Fundo, 31 de março de 2011.
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