O limite da franqueza
Ser sincero não é difícil, falar o que se pensa sobre os outros, sobre as situações da vida, enfim, sobre qualquer coisa, não é difícil, pelo contrário, é fácil e alivia, é simples, é normal.
Difícil é conseguir se conter para não magoar aos outros, difícil é deixar de lado a necessidade de aliviar-se em prol dos sentimentos alheios. Falar o que se pensa é fácil, complicado mesmo é se calar por saber que a verdade sobre seu pensar nem sempre é bem vinda.
A franqueza é saudável, é interessante e atraente, todavia, nem sempre é necessária. Portanto, pessoas francas e transparentes são admiráveis, especialmente quando a sua transparência consegue ser oportuna, ou seja, quando não é ilimitada, inconsequente e, por isso, inconveniente.
A sinceridade é um assunto demasiado delicado, não à toa, algumas pessoas sinceras são tidas como mal educadas, grosseiras e estúpidas. É preciso ser sensível antes de ser sincero.
A sensibilidade é capaz de fazer a pessoa ser empática, ter compaixão e, portanto, colocar-se no lugar do outro, pensar antes de falar e sopesar o que pretende dizer antes de “despejar” seus pensamentos nos ouvidos de quem se sentirá ferido ou magoado com eles.
De nada adianta a franqueza na boca de almas frias, egoístas e insensíveis. Assim como, no mundo jurídico, alguns valores se sobrepõem a outros, como, por exemplo, a vida em relação ao patrimônio, na vida real algumas virtudes se sobrepõem a outras.
Sendo assim, a sensibilidade e a compaixão estão acima da sinceridade e da transparência enquanto virtudes.
De regra, as pessoas sinceras e grosseiras são aquelas que não “filtram” o que pensam colocando-se no lugar do seu interlocutor. Logo, a sua sinceridade se torna vã, para não dizer letal.
Quem consegue se colocar no lugar do outro reflete sobre os efeitos de suas palavras antes de falar e, seguidamente, optam pelo silencio. Deixam o outro livre para pensar como pensa, fazer o que deseja e viver como lhe convém. Apenas pessoas sensíveis conseguem conter a necessidade de falar o que pensam para não ferir ao outro.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 22 de janeiro de 2013.
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