Sinceridade e crueldade
O oposto da crueldade esta longe de ser a sinceridade, mas a capacidade de falar sem ferir, capacidade de saber quando omitir a tal “verdade” para consolar e não criticar ou magoar ao outro.
A grande questão que circunda o assunto da sinceridade é a verdade, que, diga-se, é algo de uma fragilidade imensa, afinal, cada um tem como verdadeiro o que pensa. E as pessoas tendem a pensar de forma diversa sobre os mesmos assuntos.
Cada um tem as suas verdades, os seus conceitos e pontos de vista sobre qualquer assunto e é uma tendência humana supervalorizar as próprias opiniões. Existe, portanto, uma verdade para cada pessoa no mundo.
Então, quando uma pessoa ousa falar a verdade para a outra, ela não esta sendo necessariamente justa, ela esta falando a sua verdade para uma pessoa que, na maioria das vezes, tem a sua. Desta forma, ser sincero é mais saudável para quem fala do que para quem ouve.
Quem fala se alivia, desabafa aquilo que tem como certo e verdadeiro, enquanto quem ouve pode se magoar, sentir-se ferido ou contrariado no seu ponto de vista. Sendo assim, será que vale a pena cultuar a sinceridade acima de tudo?
Não é mais nobre silenciar? Não falar “verdades” ao outro, não implica em lhe mentir, tampouco em dizer o oposto do que se pensa apenas para agradar ou parecer virtuoso, pode implicar, apenas num sorriso afável e no silencio.
Falso não é o homem que omite o que pensa, falso é o sujeito que fala o oposto do que pensa na frente de uma pessoa e fala mal dela pelas costas. A questão da falsidade esta na intenção de quem omite a verdade sobre o que pensa.
Quem esconde seus pensamentos para poder ouvir o outro e tripudiá-lo em sua ausência age com certa maldade, com falsidade. Todavia, dizer sempre o que se pensa pode ser um ato mais cruel do que correto.
Por outro lado, quem fala o que não pensa ou omite o que pensa para não magoar ao outro demonstra bondade e caridade.
A famosa franqueza alivia quem fala, não necessariamente quem se torna vitima da pessoa franca, logo, “maquiar” a verdade, ou melhor, o que se tem como verdadeiro, pode ser um gesto caridoso e de pura compaixão.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo, 15 de janeiro de 2013.
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