Ataque de Pânico
Era uma tarde normal.Um lindo dia de sol em que eu estava desocupada fisicamente mas com as tradicionais preocupações de profissional liberal recém separada: Montar ou não montar um escritório sozinha? Fazer ou não fazer novos amigos? Mudar ou não mudar uma partezinha do corpo? Comer pizza ou lasanha ao meio dia? Tomar espumante ou vinho argentino à noite?Seguir um belo tratamento psiquiátrico ou me dedicar a um psicanalista? Usar minha plataforma vibratória e não ir nenhum nem noutro?Substabelecer ou não os poderes que um certo cliente me outorgou em procuração? Pagar quase dez mil reaispara arrumar um carro pelo qual paguei minha parte e que um certo ex-marido mandou me entregar pela metade (benzadeus!) ou acoplar na carcaça que recebi dois cavalinhos para "brincar de carruagem pós-moderna"?Procurar mestrado no Rio Grande do Sul ou no Paraná?Tomar sorvete ou coca-cola?Ler um dos 20 livros novos que comprei ou assistir a um documentário tomando vinho na madruga? Pintar as unhas de vermelho ou de renda? Enfim, mil indagações inúteis e, de repente um "colapso".
Perdi o chão, não sabia se eu era a Cláudia recém separada do sicrano ou a Cláudia namorada do fulano (que deu um fora com a maior covardia e falta de lógica do mundo), se eu era a Cláudia guampeada ou a que experimentou milhares de outras formas piores de traição e engano, se eu era a Cláudia animada e feliz começando de novo a vida, ou se era aquela que saiu de uma cidade interiorana com a alma esquartejada: "Mãe, socorro!Chama o médico ali do lado, me dói os joelhos, os cotovelos, as pernas, o coração palpita, vai explodir meu peito, o ar esta ficando escasso. Reza por mim, acho que vou morrer, estou enlouquecendo! Mãe eu não estou conseguindo pensar, meus pensamentos estão perdendo a lógica, socorro, chama um pai de santo, um padre, liga para a tia Jô!". E assim eu rezei, rezei, chorei, rezei, sorri (para acalmar minha mãe antes que fossemos duas a surtar), chorei, rezei, orei, rezei, orei, rezei. Orei mais do que uma pessoa normal reza e ora em 20 anos de vida.
E, aos poucos foi passando, foi aliviando aquele mal estar, aquela sensação de morte eminente, de coração explodindo, de taquicardia e de todos os males do mundo invadindo um corpo que minutos atrás estava altivo, cheio de alegria e de vida. Isso aconteceu numa sexta-feira à tarde e me deixou de cama no sábado tamanho o medo que senti de levantar e sentir a mesma coisa, até que no domingo resolvi ir ao médico, ao pronto socorro onde uma simpática médica me analisou de todas as formas, verificando que a pressão arterial que só me dá problemas quando inferior a 10 por 7 estava na medida, estava boa. "Guriazinha, acho que é estresse, ansiedade". Bem, ela não me falou em ataque de pânico, mas eu desconfio que tenha sido. Me contentei com as 6 gotinhas de Rivotril e fui para casa, sentindo que eu era dona de minha mente e de meus pensamentos de novo e que jamais quero sentir o medo me dominar, os pensamentos fugirem e minha mente ficar sozinha. Sozinha, confusa e frágil.
Acordei no outro dia e precisei tomar apenas duas gotinhas do ansiolítico para não me sentir ansiosa novamente. Não sei se é "síndrome de coração jovem sem um amor", síndrome de cama vazia, síndrome de falta de romance, essas coisas que uma moça romântica adora e que envolvem o verbo "amar", mais especificamente. Não sei se é instabilidade financeira "pós separação" ou melhor, não sei se é orgulho ferido por ter tido que pagar para me livrar do passado e reaver meu sobrenome de solteira, não sei se é cansaço pós mudança de cidade, pós auto regeneração de uma alma arrependida por ter confiado demais em que não devia e olvidado de quem merecia ser ouvido. Não sei, e quando a gente não sabe justificar o que sente a gente diz que é coisa de "estresse" e aproveita para se passar por moderno além de poder dar uma resposta, afinal nos cobram justificativas para tudo neste mundo de pouca plausibilidade.
Cláudia de Marchi
Wonderland, 19 de abril de 2010.
Era uma tarde normal.Um lindo dia de sol em que eu estava desocupada fisicamente mas com as tradicionais preocupações de profissional liberal recém separada: Montar ou não montar um escritório sozinha? Fazer ou não fazer novos amigos? Mudar ou não mudar uma partezinha do corpo? Comer pizza ou lasanha ao meio dia? Tomar espumante ou vinho argentino à noite?Seguir um belo tratamento psiquiátrico ou me dedicar a um psicanalista? Usar minha plataforma vibratória e não ir nenhum nem noutro?Substabelecer ou não os poderes que um certo cliente me outorgou em procuração? Pagar quase dez mil reaispara arrumar um carro pelo qual paguei minha parte e que um certo ex-marido mandou me entregar pela metade (benzadeus!) ou acoplar na carcaça que recebi dois cavalinhos para "brincar de carruagem pós-moderna"?Procurar mestrado no Rio Grande do Sul ou no Paraná?Tomar sorvete ou coca-cola?Ler um dos 20 livros novos que comprei ou assistir a um documentário tomando vinho na madruga? Pintar as unhas de vermelho ou de renda? Enfim, mil indagações inúteis e, de repente um "colapso".
Perdi o chão, não sabia se eu era a Cláudia recém separada do sicrano ou a Cláudia namorada do fulano (que deu um fora com a maior covardia e falta de lógica do mundo), se eu era a Cláudia guampeada ou a que experimentou milhares de outras formas piores de traição e engano, se eu era a Cláudia animada e feliz começando de novo a vida, ou se era aquela que saiu de uma cidade interiorana com a alma esquartejada: "Mãe, socorro!Chama o médico ali do lado, me dói os joelhos, os cotovelos, as pernas, o coração palpita, vai explodir meu peito, o ar esta ficando escasso. Reza por mim, acho que vou morrer, estou enlouquecendo! Mãe eu não estou conseguindo pensar, meus pensamentos estão perdendo a lógica, socorro, chama um pai de santo, um padre, liga para a tia Jô!". E assim eu rezei, rezei, chorei, rezei, sorri (para acalmar minha mãe antes que fossemos duas a surtar), chorei, rezei, orei, rezei, orei, rezei. Orei mais do que uma pessoa normal reza e ora em 20 anos de vida.
E, aos poucos foi passando, foi aliviando aquele mal estar, aquela sensação de morte eminente, de coração explodindo, de taquicardia e de todos os males do mundo invadindo um corpo que minutos atrás estava altivo, cheio de alegria e de vida. Isso aconteceu numa sexta-feira à tarde e me deixou de cama no sábado tamanho o medo que senti de levantar e sentir a mesma coisa, até que no domingo resolvi ir ao médico, ao pronto socorro onde uma simpática médica me analisou de todas as formas, verificando que a pressão arterial que só me dá problemas quando inferior a 10 por 7 estava na medida, estava boa. "Guriazinha, acho que é estresse, ansiedade". Bem, ela não me falou em ataque de pânico, mas eu desconfio que tenha sido. Me contentei com as 6 gotinhas de Rivotril e fui para casa, sentindo que eu era dona de minha mente e de meus pensamentos de novo e que jamais quero sentir o medo me dominar, os pensamentos fugirem e minha mente ficar sozinha. Sozinha, confusa e frágil.
Acordei no outro dia e precisei tomar apenas duas gotinhas do ansiolítico para não me sentir ansiosa novamente. Não sei se é "síndrome de coração jovem sem um amor", síndrome de cama vazia, síndrome de falta de romance, essas coisas que uma moça romântica adora e que envolvem o verbo "amar", mais especificamente. Não sei se é instabilidade financeira "pós separação" ou melhor, não sei se é orgulho ferido por ter tido que pagar para me livrar do passado e reaver meu sobrenome de solteira, não sei se é cansaço pós mudança de cidade, pós auto regeneração de uma alma arrependida por ter confiado demais em que não devia e olvidado de quem merecia ser ouvido. Não sei, e quando a gente não sabe justificar o que sente a gente diz que é coisa de "estresse" e aproveita para se passar por moderno além de poder dar uma resposta, afinal nos cobram justificativas para tudo neste mundo de pouca plausibilidade.
Cláudia de Marchi
Wonderland, 19 de abril de 2010.
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