Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

sexta-feira, 30 de abril de 2010

A maternidade e a pena de morte às avessas.

A maternidade e a pena de morte às avessas.

Falamos em violência, repudiamos a criminalidade, tememos qualquer sofrimento, temos pânico de sermos vitimizados em um crime, desejamos segregar do convívio social os marginais (ou seriam marginalizados?).
Inúmeros de nós vislumbram a pena de morte como a única solução para terminar com o perigo social que os marginais reincidentes causam. Não nos é suficiente a possibilidade de longas penas, afinal perdemos a fé no Estado, na aplicação de penas posto que a única função que ela vem desempenhando é a vingança da sociedade com a privação da liberdade do individuo de tal forma que a tal possibilidade educativa da penalidade é inexistente.
Respeito quem defende a pena capital. Não entro neste assunto porque o que me interessa é o ponto primeiro e inverso não o término da vida de um ser infeliz, frio, mal criado, psicologicamente mal formado que pode ter nascido num berço sujo, numa família grotesca que o fez desconhecer o amor, ou pode ter nascido em berço lindo, em lençóis de seda, ter aprendido vários idiomas, ganhar um belo carro aos 18 anos, e, da mesma forma que o miserável financeiramente ter desconhecido o amor no seio da família.
O dinheiro compra agrados, compra comida, compra viagens, mas não compra amor, não compra diálogo, não compra afeição, não compra educação.Não compra uma mente saudável, pelo contrário, faltando atenção e sobrando dinheiro falta equilíbrio mental.Faltarão valores e surgirá uma mente volúvel, egoísta e impiedosa que não sabe lidar com as frustrações da vida.Nasce um ser fadado à desgraça, e à desgraçar vidas alheias porque não se amando é incapaz de amar.Incapaz de respeitar e de ver o outro como igual, ou, ainda que veja ele se despreza inconscientemente e, da mesma forma, ao seu semelhante.
Não adianta, apenas, pensar em matar um criminoso que viveu em tais condições. Devemos analisar a possibilidade de prevenção, enfim de não trazermos estas vidas ao mundo. Sim, de não deixá-los nascer.Controlar a natalidade?Legalizar o aborto?Não especificarei aqui minhas opiniões. Aborto é crime, mas muitos já nascem abortados, não foram desejados, são espezinhados na vida, o que me faz perguntar que futuro terá esta pessoa?Um ser que não teve amor desde o ventre materno poderá tirar vidas no futuro, ou não.São apenas hipóteses devaniosas, porém não impossíveis.
Ser mãe não é apenas levar um ser na barriga por nove meses, educar de forma alheia à realidade, dar tudo o que ele quer porque não suporta o choro, dar as bobagens comestíveis que deseja porque o almoço é refugado, dar a bicicleta porque estudou para uma prova, dar o dinheiro para o motel sem nunca ter conversado sobre sexo, sustentar os luxos sem nunca falar das dificuldades. São deveres de ambos os pais, mas enquanto um homem pode gerar 100 filhos em um ano, a mulher não, inegável que a maternidade tem um caráter mais especial e maculado.
A mãe é que tem o dom e a maternidade requer amar, requer dizer não, requer ensinar que a vida é feita de tantas derrotas, lágrimas e decepções quantos júbilos e sorrisos, é ensinar o valor do trabalho, da responsabilidade, de que existe deveres que não precisam de retribuição por serem cumpridos.Muitas preferem tapar os olhos e abrir a carteira do que conversar e compreender os problemas.Não deveriam ter gerado uma vida.Não deveriam...
E as pessoas pobres?O Estado deveria intervir. Controle total de natalidade! Sim, sou muito a favor. A opção por filhos deve deixar de ser estritamente pessoal para satisfazer desejos egoísticos de uma mulher solitária. Com o aumento da miséria, desemprego, crimes, impedir o nascimento de mais fadados à miséria é de interesse público. Evitemos para não termos que arcar com o custo do caos depois.
E nós - mulheres "classe média"? Pensemos mil vezes antes de gerar uma vida. É preciso maturidade, é preciso desprendimento, é preciso saber dialogar, saber amar com desprendimento para que criemos seres para um mundo em que muitas coisas estão “fora da ordem”, como diria Caetano Veloso.
Eis a pena de morte às avessas: Não gerar, não dar a luz a uma vida se não existe vocação para a maternidade, quer seja por ausência de condições econômicas, quer seja pela ausência de equilíbrio psíquico - é necessário refletir.No futuro, em relação às classes mais pobres o Estado deverá defender o "direito de não nascer", porque quem nasce em certas situações da mais completa “falta”: Carência de alimento, carência de conforto, carência de afeto, carência de amor tem o futuro direcionado ao desamor- Mãe doméstica e prostituída e pai operário e alcoólatra. Muitos nascem neste quadro. Será que não será o marginal de amanha?
É melhor defender o seu não nascimento do que apregoar a sua pena de morte 20 anos após o "estrago" ter dado o primeiro choro. Pois temos uma culpa latente em tudo isso, ainda que essa culpa derive de nossa alienação.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 15 de março de 2006.

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