A historinha de superação da novela.
Ninguém pode olvidar de que o amor é o mais sublime dos sentimentos. É o que nos impulsiona a confiar, a acreditar, a dar apoio, força, esperança e, muitas vezes, a crer na mudança e evolução do outro com a mesma certeza com que acreditamos na nossa. Todavia, nem sempre acertamos e muitas vezes nosso amor e lágrimas silenciosas, nossa paciência e força explícita são insuficientes para operar no outro o que desejamos: A melhora, a cura.
É assim que acontece nas famílias de alcoólatras, de viciados em drogas, de pessoas com transtornos de personalidade graves ou moderados. Ontem assisti a um daqueles depoimentos de "superação" de gente da vida real colocados pelo Manoel Carlos Barbosa ao término de sua novela fictícia onde os personagens, em sua maioria, vivem uma vida oposta a do brasileiro "que não desiste nunca", como diz nosso paternalista, assistencialista e "meio cego" Presidente da República.
O "depoente" do Manuel Carlos contava como seu amor foi essencial para superar o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) da esposa juntamente com crises psicóticas em que até os próprios filhos ela pensava matar. Se eu desprezo ou menosprezo o amor? Não, muito pelo contrário, continuo a acreditar nele assim como no ar que me mantém viva e sei que por sentimento da mesma intensidade do cidadão cujo nome desconheço coloquei minha sanidade e vida em risco.
Acreditei, dei votos e votos de confiança, apoio, incentivo e compreensão e, tenho certeza, minha história, como a de muitas pessoas jamais vai terminar como a de uma "superação" em final de novela adocicada. Por que? Porque o esforço e o amor foram em vão, saíram fugidos pela mesma porta em que entraram. E que ninguém ouse desconfiar de minha paciência que sempre foi imensa, afinal a indulgência é característica essencial a tal nobre sentimento.
O que quero dizer com tudo isso? É que quem já amou ou se enganou com este sentimento ou com aquele à quem o devotava sabe que historinhas de superação são raras, na maioria das vezes quem supera alguma coisa é quem cedeu, quem amou. Supera a raiva de si mesmo, o desgosto, a mágoa de si por ter tentado até se extenuar, por ter acreditado em algo que só os crentes de amor crêem: Que é o seu sentimento que fará o outro superar suas mazelas. Não é, nunca foi, nunca será. Só supera suas barreiras e fraquezas o homem que, tendo a alma bondosa e humilde, vendo e sentindo o amor e o zelo do outro redescobre o seu e muda por si mesmo, muda para ser feliz e não porque o sentimento alheio lhe é uma muleta.
Cláudia de Marchi
Wonderland, 28 de abril de 2010.
Ninguém pode olvidar de que o amor é o mais sublime dos sentimentos. É o que nos impulsiona a confiar, a acreditar, a dar apoio, força, esperança e, muitas vezes, a crer na mudança e evolução do outro com a mesma certeza com que acreditamos na nossa. Todavia, nem sempre acertamos e muitas vezes nosso amor e lágrimas silenciosas, nossa paciência e força explícita são insuficientes para operar no outro o que desejamos: A melhora, a cura.
É assim que acontece nas famílias de alcoólatras, de viciados em drogas, de pessoas com transtornos de personalidade graves ou moderados. Ontem assisti a um daqueles depoimentos de "superação" de gente da vida real colocados pelo Manoel Carlos Barbosa ao término de sua novela fictícia onde os personagens, em sua maioria, vivem uma vida oposta a do brasileiro "que não desiste nunca", como diz nosso paternalista, assistencialista e "meio cego" Presidente da República.
O "depoente" do Manuel Carlos contava como seu amor foi essencial para superar o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) da esposa juntamente com crises psicóticas em que até os próprios filhos ela pensava matar. Se eu desprezo ou menosprezo o amor? Não, muito pelo contrário, continuo a acreditar nele assim como no ar que me mantém viva e sei que por sentimento da mesma intensidade do cidadão cujo nome desconheço coloquei minha sanidade e vida em risco.
Acreditei, dei votos e votos de confiança, apoio, incentivo e compreensão e, tenho certeza, minha história, como a de muitas pessoas jamais vai terminar como a de uma "superação" em final de novela adocicada. Por que? Porque o esforço e o amor foram em vão, saíram fugidos pela mesma porta em que entraram. E que ninguém ouse desconfiar de minha paciência que sempre foi imensa, afinal a indulgência é característica essencial a tal nobre sentimento.
O que quero dizer com tudo isso? É que quem já amou ou se enganou com este sentimento ou com aquele à quem o devotava sabe que historinhas de superação são raras, na maioria das vezes quem supera alguma coisa é quem cedeu, quem amou. Supera a raiva de si mesmo, o desgosto, a mágoa de si por ter tentado até se extenuar, por ter acreditado em algo que só os crentes de amor crêem: Que é o seu sentimento que fará o outro superar suas mazelas. Não é, nunca foi, nunca será. Só supera suas barreiras e fraquezas o homem que, tendo a alma bondosa e humilde, vendo e sentindo o amor e o zelo do outro redescobre o seu e muda por si mesmo, muda para ser feliz e não porque o sentimento alheio lhe é uma muleta.
Cláudia de Marchi
Wonderland, 28 de abril de 2010.
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