Cadeia criminosa
Têm coisas que me indignam de forma bastante sutil. Uma delas é a capacidade humana de julgar de forma tão diversa situações que, na verdade, se bem analisadas não possuem muita diferença entre si. Como advogada não posso deixar de falar da forma com que o senso comum avalia certos ilícitos penais, que, antes de serem crimes previstos em lei são fatos que ferem a moral, a ética e os bons valores (se e enquanto eles existirem, ao menos teoricamente).
Certo dia contei para um amigo e colega sobre um crime ocorrido ao “meu redor” há algum tempo. Ele exclamou: “Mas este crime nem é tão grave!”, se referindo a minha indignação. Pois é, mas o que define a gravidade ou não de um delito, de um ato? Na minha visão são as conseqüências que ele gera e o que ele envolve, não apenas a pena que o legislador previu para o caso criminoso.
Se você visualizar o camaradinha de família rica da esquina que comprou um aparelho de som para seu carro novinho por um preço ínfimo, juntamente com umas rodas de liga leve de primeira geração por preço igualmente barato, você irá dizer que isso “nem é crime grave”, todavia se você imaginar um casalzinho enamorado saindo de casa para passear quando dois rapazes armados os rendem violentamente e levam o automóvel que nem seguro possuía (pobre do casal, eles ainda confiavam na “segurança” como dever a ser bem cumprindo pelo Estado) você vai achar que ai se trata de um crime grave, isso, claro, quando o “lord” não resolve reagir e leva um tiro.
Da mesma forma você pode julgar como grave o ato do rapaz que anda de carro importado e recebe a grana recebida pelos dois rapazes na venda das rodas e do rádio para pagamento de algumas gramas de cocaína que os dois usaram. Então, meu povo, será que além da cadeia para onde os criminosos costumam ir e sair com alguns benefícios não existe uma suja cadeia criminosa que, apenas a primeira “vista” é intangível?
A solução para a criminalidade vai muito além da aplicação de leis, da aplicação de penas mal previstas. A solução é educação, é investimento em saúde, em empregos, em diminuição das diferenças sociais gritantes que assolam o País. Talvez apenas assim as coisas possam se regenerar, ou, ao menos, pararem de piorar, quiçá o povo recupere um pouco o verdadeiro sentido da moral, e aqueles que sustentam os infelizes que cometem “crimes mais graves” deixem de fazê-lo. E estes, meus caros, normalmente não estão nos arrabaldes da cidade ou nas favelas, são seus colegas de trabalho, amigos, vizinhos, esses seus conhecidos que “não cometem crimes tão graves, só não querem gastar muito ou pagar impostos”.
A honestidade é um dos valores que mais vem se esvaindo no mundo moderno, por isso esta epidemia de crimes ocorrendo a todo instante nas pequenas, médias e grandes cidades do País. Em busca de lucro fácil, em busca do “barato”, com base na desculpa de que o “Governo é desonesto” o povo se entregou a malícia e cada vez mais os crimes estão se tornando comuns e, infelizmente temos que ouvir que o crime do rapazinho de camisa engomada “nem é tão grave assim”. Será mesmo minha gente?
Cláudia de Marchi
Wonderland, 11 de junho de 2010.
Têm coisas que me indignam de forma bastante sutil. Uma delas é a capacidade humana de julgar de forma tão diversa situações que, na verdade, se bem analisadas não possuem muita diferença entre si. Como advogada não posso deixar de falar da forma com que o senso comum avalia certos ilícitos penais, que, antes de serem crimes previstos em lei são fatos que ferem a moral, a ética e os bons valores (se e enquanto eles existirem, ao menos teoricamente).
Certo dia contei para um amigo e colega sobre um crime ocorrido ao “meu redor” há algum tempo. Ele exclamou: “Mas este crime nem é tão grave!”, se referindo a minha indignação. Pois é, mas o que define a gravidade ou não de um delito, de um ato? Na minha visão são as conseqüências que ele gera e o que ele envolve, não apenas a pena que o legislador previu para o caso criminoso.
Se você visualizar o camaradinha de família rica da esquina que comprou um aparelho de som para seu carro novinho por um preço ínfimo, juntamente com umas rodas de liga leve de primeira geração por preço igualmente barato, você irá dizer que isso “nem é crime grave”, todavia se você imaginar um casalzinho enamorado saindo de casa para passear quando dois rapazes armados os rendem violentamente e levam o automóvel que nem seguro possuía (pobre do casal, eles ainda confiavam na “segurança” como dever a ser bem cumprindo pelo Estado) você vai achar que ai se trata de um crime grave, isso, claro, quando o “lord” não resolve reagir e leva um tiro.
Da mesma forma você pode julgar como grave o ato do rapaz que anda de carro importado e recebe a grana recebida pelos dois rapazes na venda das rodas e do rádio para pagamento de algumas gramas de cocaína que os dois usaram. Então, meu povo, será que além da cadeia para onde os criminosos costumam ir e sair com alguns benefícios não existe uma suja cadeia criminosa que, apenas a primeira “vista” é intangível?
A solução para a criminalidade vai muito além da aplicação de leis, da aplicação de penas mal previstas. A solução é educação, é investimento em saúde, em empregos, em diminuição das diferenças sociais gritantes que assolam o País. Talvez apenas assim as coisas possam se regenerar, ou, ao menos, pararem de piorar, quiçá o povo recupere um pouco o verdadeiro sentido da moral, e aqueles que sustentam os infelizes que cometem “crimes mais graves” deixem de fazê-lo. E estes, meus caros, normalmente não estão nos arrabaldes da cidade ou nas favelas, são seus colegas de trabalho, amigos, vizinhos, esses seus conhecidos que “não cometem crimes tão graves, só não querem gastar muito ou pagar impostos”.
A honestidade é um dos valores que mais vem se esvaindo no mundo moderno, por isso esta epidemia de crimes ocorrendo a todo instante nas pequenas, médias e grandes cidades do País. Em busca de lucro fácil, em busca do “barato”, com base na desculpa de que o “Governo é desonesto” o povo se entregou a malícia e cada vez mais os crimes estão se tornando comuns e, infelizmente temos que ouvir que o crime do rapazinho de camisa engomada “nem é tão grave assim”. Será mesmo minha gente?
Cláudia de Marchi
Wonderland, 11 de junho de 2010.
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