Culpa
Apenas
pessoas demasiado frias conseguem esquecer-se de seus erros e seguir a vida
tranquilamente, como antes de cometê-los. Quem tem consciência de seus atos
amarga arrependimento pelo que faz de errado e ele as acompanha por muito
tempo, quando não por toda a sua vida.
Todo homem erra, mas nem todos são capazes de se arrepender,
nem têm consciência, ou melhor, nem todos conseguem sentir dor na consciência. Alguns
usam o “vitimismo” como analgésico. Conseguem convencerem-se de que não agiram,
mas reagiram a atos errados, acreditam que foram vitimas e não algozes e, assim,
conseguem levar uma vida “normal”.
Eu faço parte daquelas pessoas que tem insônia, dor de estomago
e angústia de vez em quando. Sou tudo, menos psicopata e, por meus pequenos
erros, sinto arrependimento. Gostaria de ter agido ontem, com a maturidade e
força que tenho hoje.
Mas não, fui imatura, egoísta e mimada muitas vezes. Não me
orgulho de muitas decisões que tomei quando eu achava que a razão estava
comigo. Aliás, nada nesta vida é mais tênue do que a linha que separa a tal da “razão”
do equivoco.
Basta um ato, uma palavra, uma singela atitude para se perder
a razão e incorrer num grave erro. Por crer que a razão me acompanhava já errei
muito, por pensar em mim e subestimar o sofrimento alheio eu magoei quem não merecia.
Hoje eu sofro, hoje eu me arrependo dos meus erros mais
tolos, das minhas palavras estúpidas e, principalmente, do orgulho que se
escondia nelas, da crença idiota na tal da razão.
Todavia, eu lamento o fato de ser uma das raras pessoas no
mundo capaz de se arrepender. A sanidade perdida temporariamente causa
arrependimento em uns, mas outros fazem questão de esquecer-se do que fizeram
quando insanos. Pessoas incapazes de analisar a sua culpa não aprendem, não melhoram,
não evoluem, elas conservam por tempo indeterminado a vã crença de que a razão lhes
protege. São tolas, além de egoístas e incapazes de sentir empatia.
Passo
Fundo, 22 de junho de 2012.
Cláudia de
Marchi
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