Discurso de leigo? Sim, bem vindo seja!
Recentemente, em uma discussão acerca da liberação do
aborto, peguei-me junto com uma aluna demasiado sensata e inteligente, coibindo
o discurso de leigos. Sai da aula sentindo-me castradora, arrogante, presunçosa
e, o que é pior, nem um pouco inspiradora.
Sabe por que meu amigo? Porque os seres humanos não
criam mais teses e tratados, os seres humanos fazem monografias, ou seja, eles
se tornaram incapazes de inovar, de buscar argumentos para as suas ideias, eles
apenas repetem o que já existe. Nada mais se cria, viramos copiadores. Meros copiadores!
Em determinada época, mormente o da filosofia,
haviam embates, ideias contraditórias, em cima das quais nasciam outras,
divergentes ou até em consonância com o que, por ventura, já existia.
Hoje em dia, numa total repulsa ao discurso de
leigos, se coíbe a formação de pensamento, opinião e dialética. Vejamos, em
especial, que, fundado no que cada um conhece a respeito de determinados
assuntos, é possível construir um debate onde o cidadão não seja mero repetidor
de discursos, mas criador do seu.
Se isso vai mudar o mundo? Provavelmente não, mas,
um mundo constituído por pessoas incapazes de indagar, discutir e argumentar,
com certeza, não é bom como poderia ser se as pessoas conseguissem abrir a boca
com prudência e a mente com sensatez.
Se informar é mais que necessário, pesquisar,
estudar, se aprofundar, todavia, tolo ou não o pensamento ele pode e deve ser
explorado, vez que é assim que criamos seres que não apenas pensam sobre, mas
aprendem a falar sobre e, mais, a tolerar o divergente, a opinião oposta.
Enfim, eu não quero ser uma mera opositora do
discurso de leigos, mais do que isso, quero fomentar a dialética, quero um
mundo onde, de forma sensata, as pessoas contrariem umas as outras e consigam aprender
entre elas, sem que haja uma necessidade pululante de expertise.
Se expertos sabem mais? Com certeza, mas sem discussões
e diálogos, como as pessoas iriam aderir a este ou aquele experto? Precisamos ter
algumas opiniões, mutáveis, obviamente, para aderirmos a ideias de um ou outro.
E, sem ideias, sem capacidade de argumentação, sem que consigamos ouvir o leigo
e demonstrar nossos argumentos, igualmente, leigos, não iremos aprender o
necessário para nos filhar a um ou outro “mestre” do assunto.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 04 de novembro de 2014.
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