Uma estranha que estranha.
Estranho o ser humano, busca uma religião para se
aprimorar e se aproximar de seu Deus, e, por causa disso, discrimina os
signatários de outras religiões e os ateus. Estranho também, precisar de uma
religião para ser bom.
Estranho precisarmos do “sob a proteção de Deus” no
preambulo de nossa Constituição Federal sendo que nosso Estado é laico.
Estranho viver num Estado laico onde o aborto é proibido, porque a mulher é
discriminada em virtude de não ter se prevenido, bem como porque ela está
matando uma vida e irá para o “inferno”.
Da mesma forma, é estranho viver num Estado
supostamente erigido sobre a laicidade quando a eutanásia também é proibida,
quando a Igreja ainda condena os homossexuais, bem como o sexo feito com
proteção, mormente antes do casamento.
Estranho viver num Estado laico onde se encontra um
crucifixo atrás da figura de magistrados nos foros do Brasil.
Eu nunca quis casar-me na Igreja, motivo pelo qual
não me casei. Se há inúmeros anos não me sento numa missa, seria muita
hipocrisia desejar casar na Igreja só porque é bonito, só porque a sociedade
crê que, sem a benção de Deus a relação não “vinga”, só pra usar vestido branco
e parecer virginal.
Estranho esse preconceito que as pessoas possuem
com quem não pratica nenhum credo, não frequenta nenhuma religião, como se o
ser humano dependesse da sua fé e religiosidade para ser bom. E, se realmente
depende, então o ser humano, além de manipulável, é instintivamente mau? Então
o ser humano precisa da religião para ser civilizado?
Em minha opinião o homem precisa de leis para ter
sua liberdade de “tudo fazer” cerceada, para que não se torne bárbaro, em minha
opinião o “não fazer ao outro o que não deseja que ele lhe faça” é uma regra
moral e ética, não religiosa, tanto que esteve presente antes de Cristo, na
filosofia.
E, em minha opinião, se todos seguissem tal “regra”
teríamos um mundo com menos igrejas e mais pessoas bondosas. Como dizem meus
alunos: “Não sei, só acho”. Mas, de toda forma, também acho insuportável a
ideia de mandamentos e pecados capitais. Insuportável não, mas inacreditável,
porque, para mim, em meu coração e na “religião da Cláudia”, nesta crença que
me guia e me faz bem, sexo não é pecado, gostar do belo, caro e atraente não é
pecado, sentir preguiça não é pecado, desejar comer mais do que a necessidade
do corpo também não é.
Sentir raiva, para mim, é humano, é instinto e é
algo que devemos limitar em vista da ética da reciprocidade (de novo: não fazer
ao outro o que não desejamos que ele nos faça). Simples. Da mesma forma com os
outros atos humanos que chamam de “pecados capitais”.
Ademais, que história é essa de confessar com um
padre? Representante de “Deus” na terra? Muita pretensão, muito estranho na
minha concepção já que se prega a humildade cristã. Nem vi a face de Deus e
terei que crer que será um cidadão de batina que irá me absolver dos meus “pecados”?
Um cidadão que não faz sexo, um cidadão que não pode viver com alguém? Sei lá,
esse “cara” é normal ou será um infeliz repreendido? Isso sem falar do
homossexualismo e da pedofilia do meio, prefiro, pois não generalizar no
momento.
Não creio em pecados, creio em erros. Não creio em remissão
de pecados, creio em aprimoramento e crescimento, creio na leitura, no estudo,
na psicanalise, na psicologia, na filosofia, nas leis dos homens (ou melhor, na
castração de liberdade necessária que elas geram) e na terapia como formas de
autodescobrimento e aprimoramento.
Francamente, uma hora num divã pode ser mais útil
para quem quer melhorar a si mesmo do que duas horas de pregação, onde, sinto
dizer, mas o sujo fala dos mal lavados e, o que é pior, os “comada”. Não nasci
pra obedecer, eis meu problema. Nem meus pais, nem a um Deus, nem a uma
religião, nem a um marido. Se for para ser servil e obediente, lamento, mas
podem me levar à fogueira!
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 04 de novembro de 2014.
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