Intolerância ao comodismo.
Tem quem ache que o número de divórcios aumentou,
tem quem atribua isso a ausência de “Deus” nas famílias e a uma série de
argumentos esquizoides e tacanhos. Como advogada e como mulher balzaquiana que
já viu muitas coisas em três décadas de vida eu digo que o número de separações
seria muito, muito maior se o comodismo não fosse a “super bonder” dos
relacionamentos.
Outrora, o casal se acomodava, a mulher em virtude
da dependência econômica do marido e ele em virtude do “ter alguém esperando em
casa para fazer sexo seguro”, hoje em dia a mulher se libertou financeira e
emocionalmente da figura masculina, na maioria das vezes.
Todavia, num mundo de mulheres assustadoramente
independentes, altivas e sexualmente liberadas, os homens casados quedam-se
numa relação cômoda, morna e previsível, porque têm medo de enfrentar o mundo,
o novo e trocar o “certo pelo duvidoso”. Aliás, essa frase define em muito os
acomodados.
Meu ex-marido certa vez me disse que ninguém é
perfeito, que já nos conhecíamos muito bem e que não valeria a pena eu romper
com ele se eu conheceria pessoas igualmente imperfeitas e teria todo o trabalho
de recomeçar uma relação. Tal argumento me pareceu de um desespero e tolice
inéditos aos meus ouvidos em tal época.
Primeiramente, porque sou o tipo de pessoa que não
tem medo de mudar, de assumir os resultados das suas ações, algo que devo ter
herdado do meu pai que, bem ou mal, sempre foi demasiado livre. Eu acredito no
amor e na felicidade, não acredito em insistência, em tentativas, em “costume”.
Não conseguiria manter uma relação por estar
acostumada com o outro e sou da opinião de que quando chegou o momento de
“lutar para dar certo” o boi já se foi com as cordas há muito tempo.
Casamento se realiza, se constrói e se vivencia
todos os dias, mas há de ser leve, há de ser doce, quando precisa de tentativas
e “batalha” para a sua realização ou manutenção significa que a relação já
morreu, mas teima em não ser velada. E enterrada.
Se você quer ser feliz no amor, minha amiga, vai
ter que aprender a diferenciar amor e admiração de comodismo, de medo de ficar
só, de medo do novo, dos novos, dos outros, porque, na realidade, imperfeitos
todos somos, mas sempre haverá alguém cujas imperfeiçoes se afinam melhor com
as suas, até mesmo porque, depois de certo tempo, além de desprezar o
comodismo, a gente se torna mais seletivo, a gente escolhe com mais rigor, com
mais ponderações e, obviamente, maturidade. Comodismo: liberte-se! Amor,
viva-o, enquanto ele durar. Nem mais, nem menos.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 10 de novembro de 2014.
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