Obsessão, não, não!
E diante dessa ditadura do coxão, bundão, peitão,
da malhação e do silicone que já superou a ditadura da magreza e da elegância,
que já superou a ditadura de corpos femininos e afinados, ainda desejamos
conversar com mulheres que não falem apenas de proteína, dietas “pró-músculos”,
quantidade de peso erguido, agachamento eficaz e afim.
Diante dessa indústria “pró-academia”, ainda
desejamos conversar com uma mulher bem resolvida e feliz com a própria
aparência, ainda desejamos uma amiga que nos acompanhe na cerveja e que não
contabilize carboidratos. Ainda desejamos uma mulher humorada, alegre e contente
para dialogarmos.
A quem interessar possa: agarre a que você tem,
porque a tendência é a futilidade crescer tanto a ponto de acabar por atrofiar
os poucos neurônios que não foram direcionados para as coxas com o fito de
tornarem-se centímetros a mais (atrofia do cérebro, hipertrofia do corpo).
Uma sociedade em que a mulher é vista como objeto e
aceita esse papel, não pode contar com mulheres de grande inteligência e
cultura, não pode contar com mulheres que não tenham vergonha de se despir com
a luz ligada.
Quando exercícios físicos e anseios pelo corpo “da
moda” (sim, porque padrões de beleza mudam a cada década!) privilegiam os
assuntos femininos, não se pode esperar muito de seu intelecto. O que é uma
pena. Ou melhor, uma pena robusta, uma pena "hipertrofiada" porque
essa coisa de ser "delicada", de ser leve e afinada ficou no passado.
Todavia, padrão de beleza da década de 70, 80, 90 e
do presente século, à parte, fato é que chatice sempre foi defeito. A ditadura
da magreza levou inúmeras mulheres à anorexia e bulimia. A obsessão pelo corpo
das revistas e passarelas tornou-se sérios distúrbios psiquiátricos.
Confesso que não me agradam os padrões de beleza
que faziam apologia a “secura”, a “magreza” demasiada, mas o presente, o de
tudo muito grande, muito carnudo e musculoso não me apraz. Eu curto o saudável,
o meio termo, o que não me parece fruto de uma obsessão, seja ela pelo “seco”,
seja ela pelo “sarado”. O ter, mas sem ter em excesso.
Num ou noutro caso, o fato é que as mulheres estão deixando
a vaidade afetar o cérebro, estão deixando a vaidade atrofiar a mente e, o que
é pior para o mundo: estão se permitindo virar chatas. Muito chatas. Chatíssimas!
Pra mim não importa se você é seca, gorda, sarada,
siliconada, bunduda, musculosíssima ou o que for. Eu só não suporto mulher
chata. Mulher obcecada pelo corpo, mulher paranoica, que só sabe falar de exercícios
e alimentação ou, quiçá, da ausência de comida para ter a barriga “negativa”.
Não suporto mulheres ou homens que nutrem obsessão pelo
que chamam de “corpo perfeito”, porque na medida em que a perfeição física se
torna um objetivo a ser perseguido, a perfeição psíquica, emocional e
intelectual se esvai.
E, quer saber?! Eu “tô” me lixando para a sua aparência,
se você for chata, fútil, tola e desprovida de cultura útil, faça-me um favor,
passe longe de mim e leve seus atributos demasiado avantajados e conquistados
com um esforço sobre-humano junto, para bem longe da minha presença, afinal das
contas, nem tudo que pode cativar olhares cativa o meu, e, mais, até o que
cativa o meu olhar não é suficiente se não agradar aos meus ouvidos. Gente chata,
licença que eu estou passando. Passando longe!
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 28 de novembro de 2014.
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