Postergação.
O ser humano gosta tanto da postergação que, alguns
indivíduos, postergam para o post mortem o que deveriam fazer em vida. No “céu”
terão alegrias, na próxima encarnação terão mais paz e, assim, escravizando-se
as suas crenças (ou consolos?), acabam deixando para amanha o bem que poderiam
praticar hoje, acabam postergando a própria felicidade, alegria e prazer.
Talvez se acreditássemos que voltaremos a ser pó,
sem que a nossa vida espiritual perdure, conseguíssemos nos libertar de nossos
falsos pudores e de tudo que nos embota a liberdade de pensamento, de tudo que
nos reprime e nos limita. Dê tudo que nos dá medo.
Sempre o amanha será melhor, estamos sempre
contando com realizações futuras, com a felicidade que virá, de forma que
ignoramos os mil motivos que temos, no dia de hoje, para comemorarmos,
sorrirmos e sermos felizes, para nos sentirmos bem. Profundamente bem.
Lamento, mas às vezes me parece que os seres
humanos não nasceram para caçar algo, mas para correr atrás da caça. Enfim,
tendo possibilidade de ser feliz, ele acaba por ignorar, como se tivesse medo
da felicidade, como se não a merecesse, como se a vida fosse só tristeza,
lamentos e desalento e a realização algo sempre distante e longínquo.
Quiçá, na total descrença de um futuro distante, conseguíssemos
fazer do presente o nosso melhor momento, entendendo que inexistirão outras
oportunidades de sermos felizes. Não sei de nada, na verdade. Mas este
pensamento não me desagrada, porque, para mim, a vida é agora.
Dei-me licença, a felicidade me chama e ela não
bate à porta muitas vezes, ou eu a recebo ou ela vou embora. Não, eu não postergo
o que me faz bem, nem deixo para amanha os risos e sorrisos que devem ser dados
hoje.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 03 de novembro de 2014.
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