Certezas
Nada pode nos trair mais do que as nossas certezas, porque nelas, tem muito mais de nós do que do outro, a quem, seguidamente, as jogamos. Nós temos “certeza” de que o outro pensa isso, temos “certeza” de que ele está “assim”, temos “certeza” de que ele se sente “assado” e nesse mundo de certezas, residem os nossos recalques, os nossos medos, a nossa frustração e as nossas fraquezas.
Logo, por tal motivo saber ouvir e, sobretudo, confiar na sinceridade e franqueza do outro é um santo remédio em qualquer espécie de relacionamento humano sendo que, apenas através de diálogos sinceros conseguimos desfazer as nossas certezas traiçoeiras e compreender a do outro.
Todavia, para isso precisamos baixar a guarda, inclusive, de nosso orgulho, que faz com que achemos que temos razão no que pensamos em detrimento do que o outro pensa e sente sendo que, nessa situação, quem sofre somos nós.
Nenhuma amizade, relação entre colegas, namoro ou casamento podem ser parcimoniosos se as pessoas preferirem acreditar naquilo que elas têm como “certo” e não no outro, quando, obviamente, a sua “certeza” diz respeito a algo dele.
Nós só podemos ter certezas a respeito da nossa conduta, do nosso pensar, do nosso sentir e do nosso sofrer, nunca a respeito do que se passa no outro, do que emana dele. A respeito do que não é nosso, resta-nos resignarmos, ouvir e confiar, do contrário, o convívio se torna desagradável.
Qualquer relacionamento saudável pauta-se no diálogo e na confiança, no falar, no ouvir e, obviamente, no acreditar no que o outro fala e argumenta, afinal, se lhe é impossível confiar num amigo é melhor afastar-se dele, certo?
Toda relação parte do pressuposto de que existe confiança, sendo assim, ter “certezas” a respeito do intimo do outro é um caminho fácil para a infelicidade quando, por exemplo, o outro expõe o que pensa e você prefere acreditar nas suas próprias conclusões e, portanto, certezas.
Eu creio, enfim, que existem muitas pessoas com muitas certezas a respeito das coisas que não habitam em seu intimo neste mundo. Cabe a nós termos a certeza de que estamos agindo da melhor forma que podemos. Quanto àquilo que atine ao outro, precisamos apenas confiar nas certezas que ele diz ter, nas suas verdades, do contrário, a solidão se torna um mal (des) necessário.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 23 de maio de 2014.
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