O que termina uma relação?
As pessoas possuem muitas certezas a respeito de relacionamentos que são, na prática, disfuncionais. Exemplo disso é a tão apregoada segurança, fruto, obviamente da confiança no outro.
Nove em dez vezes, quando seguras demais, as pessoas se tornam mais relapsas. Não por menos, até meus vinte e tantos anos eu sempre acreditei que algumas pessoas veem no casamento um título translativo de propriedade: “assinei, agora é minha, ganhei o jogo.” E param de ser aquilo que eram quando conquistaram o amor de seu novo “bem”.
Quando sentem que o outro esta em seu domínio as atitudes mudam e, com isso, ao invés de uma forma de fomentar uma relação feliz, seguidamente fomentam a ausência e com ela a frustração e posterior desinteresse do outro. Não por menos, existem pessoas astutas que nunca dizem ao outro tudo que sentem a seu respeito e tentam ignorá-lo quando podem para que ele não se torne muito seguro. E, neste ponto, pessoas emocionalmente transparentes escorregam.
Enfim, a pessoa que se sente menos “atendida” emocionalmente não raras vezes se cala e, se cobra do outro atitude que a segurança demasiada fez com que ele deixasse de ter, a tendência é ser considerada inconveniente e ser ignorada.
Como ninguém gosta de ser tachado como “chato”, costuma-se calar e, calando, continua sentindo-se frustrado até que o interesse se esvai. É a ordem infelizmente natural e inevitável das coisas: a pessoa imersa em segurança deixa de fazer a maioria das coisas que fazia e cativavam o outro, o outro cala ou é chamado de “chato”, a relação amorna e começa a caminhar para o fim, seja através de infidelidade ou de um respeitoso ponto final.
Onde entra a necessidade de um pouco de insegurança e maior valorização do outro? É óbvio! Se as pessoas não conseguem manter um relacionamento quente sentindo-se seguras, então um pouco de insegurança vem a calhar.
Todavia, vale frisar, a insegurança aqui referida não é a causa geradora de ciúme doentio como o que questiona o passado alheio, as roupas do outro. Ciúmes e a dose de insegurança referida não se correlacionam, embora seja praticamente normal que, quem teme a perda do outro, tenha uma dose salutar de ciúme dele.
Quem valoriza o outro a ponto de temer a perda de sua atenção, valorização e amor nunca deixa de lhe olhar com olhos apaixonados, não deixa o carinho, os beijos e, porque não dizer, o sexo mudar. Quem teme, cuida. E cuida muito.
Por outro lado, quem deixa de temer se acomoda e aí começa o amornamento da relação. Todavia, pessoas acomodadas não ligam para isso, até gostam, mas existe um tipo de pessoa com intolerância a relacionamentos mornos e essas pessoas não se quedam contentes ao lado de quem deixa de ser o que era para com elas.
A realidade é que pessoas experientes e realmente maduras afetivamente sabem que segurança demais é pernicioso. Ou melhor, elas sabem que cuidar nunca é demais, afinal, em momento algum a sua segurança fará com que o outro deixe de ter seus desejos, suas fantasias e, consequentemente, de olhar para os lados. E por isso tendem a cultivar a paixão e a atenção que desde o início da relação dispensaram ao outro.
Essa é, pois a melhor forma de fazer com que o sexo e a relação não se tornem entediantes, afinal, o tédio, além do comodismo inerente ao excesso de segurança, sabem tais pessoas, é o maior incitador a bancarrota de um relacionamento amoroso.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 21 de maio de 2014.
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