Adjetivadores.
Eu não sou a pessoa mais pacienciosa e tolerante do
mundo. Não sou mesmo, mas não olvido das minhas falhas, da minha sensibilidade,
da minha impulsividade, longe de ser perfeita, sou humana, demasiado humana.
Todavia, existe um problema que a minha imperfeita
personalidade não goza e que eu acho algo de ultima categoria. Mais, acho um
indicativo de irracionalidade, ausência total de ponderação e senso se justeza:
a tal da adjetivação.
O ser humano, além de problemático, mal humorado e
azedo, precisa ser muito, mas muito arrogante, pretencioso e cheio de si para
sair distribuindo adjetivos para outras pessoas frente a qualquer impasse,
frente a um pequeno e frívolo mal entendido ou desentendimento óbvio.
O fulano é “isso”, o fulano é muito “aquilo”, o
fulano é pouco “aquilo outro”. Sei lá, mas, meu amigo, você é quem? Deus?! Você
é o que? Perfeito, santo ou algo assemelhado? Então, porque uma pessoa agiu de
forma a lhe contrariar, então porque uma pessoa lhe aviltou o animo e a sua expectativa,
sem saber o que se passa com ela, você sai adjetivando a criatura? Qual é a
sua, jovem? Quem você pensa que é para ofender as pessoas atribuindo-lhes
adjetivos pelas costas sem, sequer, tirar satisfação das mesmas sobre seus
atos?
Tenho certo asco desse povo que arrota virtude, que
se dá ao infeliz direito de sair taxando os outros disso ou daquilo apenas
porque se magoou com eles. Frustrou-se, se desapontou ou se ofendeu.
As pessoas possuem uma mentalidade tão tacanha que não
sabem diferenciar a mágoa da ausência total de razoabilidade nas suas próprias
palavras e no seu infeliz e infame habito de julgar ao outro e atribuir-lhe
adjetivos incoerentes e ofensivos.
Enfim, você tem todo o direito de se magoar com o
proceder alheio, você tem o direito de se ofender e de lastimar, inclusive, um
gesto de alguém que tenha lhe ofendido e lhe aviltado moralmente, agora, você não
tem nenhum direito de adjetivar essa pessoa, sabe por quê? Porque pessoa alguma
é tão superficial para caber em seu conceito, em seus adjetivos e na sua
limitada visão. Em que pese presunçosa, intolerante, arrogante e estupida.
Você, quando “adjetiva” alguém, inconscientemente,
quer se sentir superior, se sentir mais virtuoso, se sentir melhor, se sentir
aliviado, se sentir mais “gente” do que aquela pessoa que você adjetiva, que você
caracteriza mais com base em quem você é do que com base no que o outro é,
pensa ou sente.
Qualquer pessoa comum que tenha estudado os
mecanismos de defesa do ego, enumerados pelo pai da Psicanálise, sabe que
quando um ser humano julga o outro, enfim, adjetiva o outro, ele está, na
verdade, projetando as suas características para, assim, se sentir melhor, mais
bondoso, mais correto e mais justo.
E é justamente nesse ato (no de adjetivar o outro)
que o cidadão se mostra vil, pequeno, insignificante e faz por desmerecer
qualquer bom “conceito” que possa a receber. Como disse o Renato Russo: “Quem
insiste em julgar aos outros sempre tem alguma coisa para esconder”.
E essa “coisa” normalmente é infelicidade, é
descontentamento com a vida medíocre que tem, é frustração com quem é, com a aparência
que tem, com o intelecto mais arrogante do que ativo, mais imponente do que
culto, mais orgulhoso do que inteligente e a alma mais infeliz do que as
palavras tentam dizer, mais descontente do que o nariz empinado tenta,
desesperadamente, demonstrar.
Você percebe, pois, que um ser humano não merece o
seu apreço, a sua consideração e o seu afeto amigo quando, sem saber o que se
passa intimamente com você, sem dialogar e sem afabilidade alguma o individuo
lhe atribui uma penca de adjetivos indóceis e maldosos.
Quando, enfim o sujeito, ciente de que é o paladino da razão, da justiça e da corretude moral, se reserva ao direito de lhe julgar, de lhe criticar e lhe atirar pedras como se fosse perfeito, infalível e seus argumentos coerentes com o que existe de mais justo e exímio no que tange a moral, psique e intelecto na face da terra.
Quando, enfim o sujeito, ciente de que é o paladino da razão, da justiça e da corretude moral, se reserva ao direito de lhe julgar, de lhe criticar e lhe atirar pedras como se fosse perfeito, infalível e seus argumentos coerentes com o que existe de mais justo e exímio no que tange a moral, psique e intelecto na face da terra.
Cláudia de Marchi
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