Amores bandidos ou amores tranquilos?
Todo mundo tem um “que” de masoquista. Pessoas que,
de regra, sempre tiveram tudo o que quiseram, então, adoram o que se apresenta
complicado, problemático. Adoram uma barreira a ser superada, elas gamam no “pouco
acessível”.
Tenho isso nítido na maioria dos indivíduos do sexo
masculino com passado cheio de algumas “facilidades” que conheci. Como
tornar-se a paixão da vida deles? Se torne inacessível. Invente algo
problemático, jogue a isca e se afaste. Eles vão gamar nesse jogo de “vai não
vai”.
Tem mulheres que fazem isso por um jogo, existem as
que usam o seu lado sádico para pegar o coração do rapaz pelo lado “maso” dele.
Outras fazem sem malicia, simplesmente, porque, por não estarem tão de “quatro”,
tão entregues a possibilidade de viver uma paixão, ou, quiçá, por curtirem
lances problemáticos como extensão de uma personalidade conturbada, impõem
certo distanciamento e afastamento e acabam, assim, sem terem más intenções,
conquistando a paixão insana e bandida do moço.
Na verdade essa tendência a vencer barreiras é
elementar ao ser humano. A gente tem uma gana implícita por ganhar, por sair na
frente, pelo “superar” algo e conseguir nosso troféu, enfim, aquilo que tanto
desejamos. E que, não raras vezes, desejamos, porque precisamos “lutar” por ele
(troféu).
Sei lá, eu já tive a fase de me apaixonar pelo
sujeito que tinha a mãe complicada, que era um empecilho, porque eu precisava
vencê-la. Depois tive a fase de não desejar tanto um sujeito que me adorava,
até que de tanto uma “ex” do sujeito importunar eu me apaixonei para mostrar-me
vencedora. E ele venceu o seu maior empecilho: ter o meu prezar, a minha
paixão. Enfim, a doença dele acabou despertando a minha, vez que a paixão dele
cresceu em meio ao meu constante afastamento e jogo de “vou, não vou”.
Amores bandidos, a gente não passa na vida sem ter
um. E, se passa: que pena, que tédio, que dó! Eles acabam sendo muito instrutivos
enquanto duram e, garanto, podem durar anos. Depende do quanto o sadismo de um-
ou algo assemelhado- mantém o masoquista apaixonado e sendo, quase um “stalker”:
sempre compreensivo, sempre paciente, sempre indulgente, sendo relevando e
compreendendo até o incompreensível.
Por que eu disse que tais relações são instrutivas?
Porque a gente aprende a conhecer o nosso pior e o nosso melhor. Não importa se
somos o masoquista ou o que, voluntaria ou involuntariamente, age com sadismo,
essas relações instruem. A gente conhece, por exemplo, quão vil o ser humano
pode ser.
A gente verifica que existem pessoas que, talvez
por inexperiência ou imaturidade, prezam mais a desatenção do que a atenção e,
assim, aprende como o “não” estar apaixonado pode marcar mais o coração de alguém
do que o “estar” apaixonado. Aprende que o “não dar” afeto e presença pode ser
mais atraente a alguns do que a disponibilidade.
De que lado eu estou? Sempre estive do lado dos que
querem o “bom trato”, dos que querem os mimos, o afeto, a atenção e o amor. Mas
já resvalei, já curti um desafio que, no meu caso, não era a atenção do outo,
mas superar quem estava ao seu redor.
Fato é que, para mim, o bom é o simples, o óbvio, o
descomplicado. Não curto mais essa de dificuldades, não quero saber de ninguém atravancando
meus desejos, minha tranquilidade. Com o tempo e algumas experiências a gente
aprende a valorizar o que já vem sem enredos, sem complicações.
Eu gosto mesmo é de pessoas de vida simples e
descomplicada, eu gosto do que não possui resistências para opor a mim. Essa história
de superar dificuldades e afins é coisa que só fica bem em novela, na vida real
faz sofrer e, depois de um tempo, entedia. A vida é muito curta para isso. Eu
quero mesmo é beijar na boca e ser feliz vivendo a sorte de um amor tranquilo
sem nada nem ninguém para incomodar.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 28 de dezembro de 2014.
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