Conforto, beleza, luxo e outras confissões.
Eu sou um ser humano estranho. Estranho, porém
simples e sincero, não deixo nebuloso o que gosto, o que curto. Cansei, por
exemplo, de ouvir várias pessoas falando sobre seu profundo apreço por viajar,
colocar uma mochila nas costas e encarar o mundo. Ou a América Latina, no mínimo.
Pois eu acho essa coisa de mochila, ônibus e “dedão”
muito chata! Hostel, por exemplo. Não curto, não gosto, me recuso. Sabe por
quê? Porque eu gosto de conforto, ar condicionado, cama grande, café da manha
legal, privacidade ao máximo! Tudo o que um hotel, ainda que 3 estrelas (ou
menos) pode oferecer.
Se for para conhecer o mundo contando dinheiro,
economizando, eu não saio de casa. Ou melhor, se saio, faço o que há
praticamente 20 anos minha família faz: aluga um belo apartamento em Balneário Camboriú,
quase ou de frente para a praia e passo 10 ou 15 dias, comendo bem e passeando.
Prefiro ter um pouco de luxo num lugar conhecido ou
próximo, do que conhecer belezas e ter que descansar a minha beleza numa cama
ruim, num quarto cheio de gente ou andando de ônibus e metro, sem poder pegar
um táxi!
Sinto admiração por essas pessoas que não se
importam com conforto ou luxo em prol de viagens e diversão. Não consigo ser
assim, em que pese tenha, com orgulho e felicidade passado a infância numa
cabine de caminhão. Mas era nossa, era limpinha, era aconchegante! Gosto de
limpeza, mais, gosto de saber quem e como limpou. Gosto de lençóis cheirosos! Não
suporto a ideia de dividir um ambiente com pessoas estranhas. De ter que fazer
a minha comida numa viagem!
Não sinto essa necessidade enorme de conhecer
lugares e fazer viagens. Ou melhor, sinto, mas desde que eu não precise
economizar ou sair com a grana contada, desde que eu possa ficar num hotel
legal, desde que, enfim, eu pague sem paranoia as minhas despesas.
Peruice? Talvez. Mas não me importo. Gosto do que é
bom, do que é bonito, do que é limpo, do que cheira a limpeza, do que cheira
bem, do que me inspira aconchego. Gosto de privacidade, gosto de conforto, não nego.
Essa coisa de gostar do belo, do elegante, do
chique, não raras vezes me fez pensar: Será que sou “orgulhosa”? Será que sou
pouco simples? Afinal, a criação da gente fomenta a mega e hipócrita valorização
das pessoas que não se importam com dinheiro, beleza e luxo. Aquela velha
história do ser “esforçado”, do que o que importa é só ser “limpinho”, como se
beleza e aparência não nos animasse!
Eu acho tudo isso uma bela hipocrisia! A felicidade
e o coração são importantes, certo? Sim, sumamente, não adianta ter tudo e ser
infeliz. Mas, ora, ora, também não adianta nada ser pobre e ser infeliz. Se “vale”
mais ser feliz do que rico? Vale, mas não se pode olvidar que dinheiro compra
muitos prazeres e, quer saber, eu adoro prazer!
O prazer de comer bem, de tomar o vinho que eu
gosto, o prazer de comprar uma bolsa de marca, o prazer de comprar roupas, joias
e até semijoias finas, sapatos, o prazer de comprar livros, filmes, dvds, o prazer
de ter uma vida confortável, uma casa bonita, uma banheira, uma piscina. Quem não
gosta?
Aposto que qualquer pessoa no mundo gosta do belo,
do bom, do bonito e, não raras vezes, menospreza tudo isso, porque não pode ter.
Como numa espécie de mecanismo de defesa do ego, nega que o conforto apurado
seja bom ou até necessário. Aquela velha historia de que a frase de que “dinheiro
não traz felicidade” foi dita por um pobre, no meu ponto de vista, procede. Dinheiro
e inteligência, aquela que faz com que o homem saiba com o que gastar, fazem um
bem enorme sim!
Eu, por minha vez, posso não ter dinheiro para ter
tudo o que gosto, mas sei o que é bom e não minto, não omito isso de pessoa
alguma. Aliás, eu acho que o bom a gente conhece por instinto, todavia eu tive
a sorte (ou azar?) de sempre ter o melhor que podiam me dar e, também, conviver
de perto com conforto e beleza.
Sei diferenciar um vidro fino de cristal e sinto a
diferença até com a boca. Sei diferenciar uma bolsa original de uma réplica. Sei
a diferença entre a Lâncome e a Natura, entre um vinho de menos de vinte reais
e um de mais de cem a garrafa, entre uma espumante nacional e uma importada. E assim
segue, porque além de bom gosto, eu sempre fui curiosa.
Eu gosto de pessoas simples, me relaciono bem com
pessoas humildes, com pessoas sem condições financeiras ou cultura, assim como
me relaciono bem com pessoas endinheiradas e sofisticadas. O fato de eu gostar
do que é belo, do que é elegante, chique, confortável e até caro, não me faz
uma orgulhosa arrogante, me faz apenas um ser humano que sabe o que é bom,
gosta e não é hipócrita para negar isso.
Cláudia de Marchi
Sorriso/MT, 29 de dezembro de 2014.
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